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70 dias de isolamento na Itália



70 dias de isolamento na Itália

O que você faria se tivesse que passar 70 dias de isolamento social? Dá para fazer muita coisa, conforme a experiência vivida pela jornalista fernandopolense, Josiane Donelli, durante o período em que passou confinada em sua residência na cidade de Milão. 
Segundo Josiane, 70 dias foram o suficiente para fazê-la refletir sobre seus objetivos pessoais e profissionais e também sobre o futuro. Aliás, por estar no epicentro da pandemia na Itália, futuro naquele momento já não dependia apenas de desejos, por mais profundos que eles fossem. Mas inexplicavelmente, é justamente nesses momentos difíceis que as pessoas descobrem que são ou simplesmente se reinventam como pessoa. 
Josiane Donelli tem 35 anos, é uma mulher bonita, solteira, sem filhos, jornalista correspondente internacional da The News2 de Nova Iorque e assessora de moda. Uma mulher bem-sucedida numa das cidades mais românticas do mundo. 
“A cidade de Milão me deu amigos, fiz contatos profissionais, me deu liberdade. E tentei pensar nesses 70 dias de Quarentena que mesmo em isolamento eu estava no patrimônio artístico mais rico do Mundo, onde existe o calor do Mediterrâneo, paisagens de tirar o fôlego, arquitetura fantástica, uma extraordinária variedade de sabores e massas, tradição, arte e muito mais se encontra aqui”, disse a jornalista.
No entanto, a pandemia do coronavírus mudou radicalmente esse cenário em pouco tempo. Logo, os passeios de mãos dadas pelas ruas da cidade foram substituídos pelo confinamento domiciliar e os pontos turísticos e avenidas comerciais aglomeradas se transforam em cenários desertos.
“Só deixaram farmácias, hospitais e supermercados abertos que no início da Pandemia as prateleiras ficaram vazias porque as pessoas já ficaram em pânico e queriam estocar alimentos em casa por não saberem como ia ficar a situação futuramente. Só podia sair na rua para fazer compras ou por motivos de saúde. Tudo muito rigoroso, parecendo um cenário de filme de guerra, principalmente quando vi num telejornal que o cemitério de Bergamo - a 60 km de Milão - foi fechado por não ter mais túmulos suficientes para os mortos. Fiquei com um sentimento de tristeza por estar acontecendo tão perto de mim e por tantas famílias não poderem despedir de seus entes queridos”, relatou.

Durante a entrevista, Josiane fala da imprudência dos italianos sobre os riscos de contaminação e a letalidade da doença, comportamento similar ao de milhões de brasileiros que, apesar de já ter registrado mais de oito mil óbitos, continuam subestimando a gravidade da pandemia. 
“As pessoas subestimaram o vírus. Então as coisas foram piorando. O número de mortos foi aumentando disparadamente e as autoridades resolveram tomar medidas mais drásticas e a Itália toda foi declarada como zona vermelha. Pude presenciar um lugar assombrado e desolado por um vírus que ainda é desconhecido.  Hoje, a Itália sente na pele as consequências na Economia e Turismo por tratar a pandemia da Covid -19 como se fosse uma ‘gripezinha’”, aludiu a jornalista sobre o comentário do Presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro.
Em casa, algumas vezes sozinha, outras não, Josiane teve que reinventar a sua rotina, mudar alguns hábitos, construir uma nova realidade para manter o corpo são e a mente sadia. Afinal de contas, setenta dias trancada entre quatro paredes poderia ter a levado à uma depressão ou surto psicológico. 
“Fiz yoga, exercícios físicos e também aprendi a cozinhar alimentos mais saudáveis. Procurei aumentar minha imunidade para enfrentar esse vírus. E aproveitava para aprimorar meu conhecimento lendo livros em italiano, além de estudar mais o idioma. Também assistia filmes, séries e ainda continuamos assim para passar o tempo melhor”, descreveu a jornalista. 
Com leis rigorosas e multas que variam de $ 300 a $ 5 mil euros, a Itália colocou os seus moradores dentro de suas casas e fez com que eles só saíssem depois de autorizados. Apesar dos valores exorbitantes das multas, o medo das pessoas nunca era de ser multado, e sim, de ser contaminado pelo novo coronavírus. E, em casa, o confinamento testou a capacidade de obedecer e esperar do povo italiano.
“Precisei ser paciente e forte nesse momento difícil, pois não podia estar com minha família porque o meu voo foi cancelado.  Depois disso, vivenciei essa situação de isolamento aqui e penso que quando meus filhos e netos me perguntarem: ‘onde você estava na época do Coronavírus? ’, vou ter a oportunidade de contar que fiquei e passei toda essa experiência na Itália”, concluiu.