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“A nossa maior riqueza é água quente”



“A nossa maior riqueza é água quente”

Luis Carlos Rodrigues, 57 anos, nasceu em Fernandópolis e ganhou as manchetes na última semana com a arrematação do Água Viva Thermas Clube por R$ 6,1 milhão em leilão realizado pela Justiça. Um patrimônio de 15 alqueires, com 7 mil metros de construção, que ocupa área nobre ao lado do aeroporto. No entanto, para o empresário, o maior ativo, a maior riqueza, do Água Viva é a água quente. Enquanto aguarda a emissão de posse pela Justiça, Luis já busca orçamentos para iniciar o que chama de reforma e restauração do hotel e do parque aquático para começar a tirar do papel o desejo de fazer com que o Água Viva volte a ser referência regional. “Não vai faltar trabalho para isso”, diz. Quando diz que “eu sei o que não devo fazer no Água Viva”, o empresário mostra que está vacinado contra as aventuras do passado que levaram esse patrimônio turístico a se transformar em massa falida e ser leiloado pela Justiça. Por isso, está propondo uma gestão pé no chão. Veja a entrevista do novo dono do Água Viva:

Já tomou posse do Água Viva?
Não tomamos posse ainda. O procedimento é o seguinte: nós arrematamos aquele patrimônio fazendo a melhor oferta no leilão judicial que teve dois participantes e que foi realizado no dia 28 de agosto. A papelada do leilão chegou ontem (terça-feira) em Fernandópolis e agora está na mão do juiz para homologar a validade do leilão, fazer uma carta de arrematação e me dar a posse do imóvel. Neste processo estava bem assessorado juridicamente pelo advogado (Dr. Rubens Leandro) e contabilmente pelo Escritório Mercúrio, através do Edvaldo. Foi um leilão tenso, porque tivemos concorrência e isso exigiu uma estratégia para que fôssemos bem sucedidos. 
Tem prazo para essa posse?
Todos os funcionários já estão de aviso prévio pela administração judicial, através do interventor Marcos Fontes, que vence no dia 23 de setembro. O meu interesse é assumir o mais rápido possível. O Juiz pode emitir a posse ainda esta semana, na semana que vem ou esperar o dia 23, quando vence o aviso prévio dos funcionários. 
Nessa chamada fase de transição, o que já está fazendo para se preparar para a posse?
Na realidade, informalmente nós já estamos no clube com a aquiescência do interventor. Já temos dois funcionários, Amarildo e Lais, que estão lá. Na verdade, eles serão os gestores, são pessoas da minha confiança. Posso dizer que ao longo desses dez meses de namoro com o Água Viva, tenho ido lá todos os dias e já vinha organizando as prioridades, por onde começar, o que fazer, o que não fazer. Já é decisão: vou restaurar, reformar e trocar acessórios (aparelhos de TV, ar condicionado, rouparia, etc.) no hotel e no clube. É a primeira coisa que vamos fazer, inclusive tenho feito cotações diárias para que logo após a posse inicie as obras. O Água Viva já tem uma estrutura. Não vamos demolir e começar do zero, vamos restaurar. Outra necessidade que elegi como prioridade é fechamento do clube com alambrados. Temos uma área de 15 alqueires. O clube e o hotel ocupam 5 alqueires e a área é toda aberta, vulnerável. A parte aquática é cercada por alambrado, mas de forma precária. O fechamento, a construção de uma nova entrada, também estão nesta lista de prioridades. Pretendemos construir ainda uma loja de Conveniência, onde hoje está o almoxarifado, entre o parque aquático e hotel, para dar apoio aos visitantes, porque fora do hotel e das piscinas, nós temos campos de futebol, quadras, espaços para encontro, excursões. Essa conveniência será no mesmo estilo da que temos no Posto 7. Com isso a gente derruba aqueles barracões horríveis que têm lá. Eu falo com convicção porque estou muito certo do que vou fazer. Outra decisão é manter a arquitetura, ou seja, seguir o padrão da estrutura que já temos, com construções com o tijolo à vista. Não é ideia nossa descaracterizar o padrão. Mais para frente queremos construir um salão de eventos na entrada e ampliar as piscinas, investir no esporte.
O Água Viva é o seu maior desafio?
Economicamente, talvez não tenha sido a pessoa mais preparada para tocar o clube e fazer os investimentos. Tenho limitações, mas com certeza sou uma das pessoas que mais têm vontade de reerguer esse patrimônio. Outro concorrente tinha interesse de derrubar tudo o que tem lá e fatiar o terreno para pequenas chácaras. O interesse deles era apenas na área. Eu não, o meu interesse empresarial é tocar o empreendimento, restaurar e reformar o que tem lá, com o desejo também de expandir. Mas, teve também o um desejo nostálgico, de lembrar do passado, e fazer alguma coisa pelo Água Viva onde vivi minha juventuude. Pra mim será muito prazeroso reviver o Água Viva. Não vai faltar vontade e não vai faltar trabalho para isso acontecer.
O Água Viva era uma massa falida e que você arrematou em um leilão com regras estabelecidas pelo Poder Judiciário. Significa dizer que o Água Viva retoma do zero principalmente na questão dos associados?
Com relação aos associados foi zerado. A partir da minha posse no Água Viva não existe mais a figura do associado. O nome do Água Viva será mantido e o slogan será “Clube da Família”, com CNPJ novo e que será administrado por empresa criada com essa finalidade. Quando o Água Viva foi lançado, foi formado por associados cotistas que adquiriram títulos de sócio fundador, patrimonial. Agora não há que se falar mais nisso. A nossa ideia é investir em uma nova modalidade. Em vez de associado, vamos trabalhar na modalidade “Day Use”, com um leque de possibilidades para quem deseja frequentar o parque aquático, tanto individual quanto familiar ou mesmo na modalidade Day Use Corporativo para atender empresas.
Na sua cabeça já tem um prazo para começar a colocar em prática todas essas ideias?
Olha, nem tomei posse, mas já estou fazendo orçamentos de tudo que precisamos fazer nesse primeiro momento, de alambrado a troca de acessórios. Só para ter uma ideia, nós vamos precisar 60 aparelhos de TV para todos os aposentos. Lá tem aparelho de TV antigo. O Água Viva nunca parou de funcionar, mas vinha operando precariamente e com isso foi perdendo cliente. 
O Hotel é um ponto de referência para o turismo de lazer e de negócios. Qual a dinâmica que pretende imprimir em sua gestão?
Nós estamos procurando assessoria, porque não sou do ramo. Temos contato com o Marcelo Alvisi e com outras pessoas que têm visão do negócio, mas tudo isso dentro da minha capacidade. Outros empreendimentos na região, nasceram a partir de um planejamento. Nós estamos assumindo uma estrutura que já existe e é partir dela que temos agir. 
Qual é o maior ativo do Água Viva?
Muita gente pode dizer que é a área de 15 alqueires colada na cidade, sem dúvida um bom patrimônio. Temos ainda 7 mil metros de construção, incluindo as piscinas, tudo isso é investimento. Mas, na minha avaliação, o principal ativo é a água quente que é fornecido pelo Poção I, que foi perfurado dentro da área do Água Viva. Sem essa água, perderíamos a essência do clube. Essa água que sai a 47 graus é o principal ativo. A Sabesp fornece para o Água Viva 12 mil metros cúbicos de água por mês em forma permuta pelo aluguel da área do poço. Fomos na Sabesp e nos reunimos com o Gerente de Divisão, André Cavalini, para saber como andava esse contrato e tivemos a informação de que o contrato está em vigência e é por tempo indeterminado. Então, na minha avaliação comercial, essa água é a principal riqueza, o principal ativo do clube, e é fornecida sem custo para o clube. 
Você é um jovem empresário que atua na área financeira e de uns tempos para cá começou a diversificar, primeiro com o Posto de Combustíveis e agora o Água Viva...
Não foi nada planejado. O diferencial nos negócios ocorreu com a nossa empresa de Factoring (a LC). Sou muito controlado, discreto, agora é que estou ganhando mais mídia pela compra do Água Viva. Tenho o Factoring há 10 anos, com uma clientela mais especifica. Mas, o que me colocou na vitrine foi o Posto 7, porque lá você vende um produto que todo mundo consome e a minha proposta foi trabalhar com preços baixos, menor margem, mas vendendo mais. E deu certo, porque conquistamos a simpatia dos consumidores. A nossa atuação foi estratégica como modelo de negócio. Ao invés de vender 100 mil litros de combustíveis, a gente vende 350 mil com a mesma estrutura. Essa é a diferenciação. A ideia não foi de aparecer ou prejudicar alguém, mas uma estratégia comercial de oferecer o preço como atrativo. 
Você se considera um empresário ousado?
Eu prefiro me colocar com uma pessoa com vontade de executar. Temos empresários em Fernandópolis que gostam de empreender. Temos vários exemplos, mas eu cito um deles, o Júnior da Secol. Basta ver o empreendimento das quatro torres da Avenida 4, com 240 apartamentos. Não é só ganhar dinheiro, mas empreender na cidade. Eu admiro o cara que faz. Essa é minha vontade. Pra mim será prazeroso poder reerguer o Água Viva. Estou muito focado, muito focado mesmo no desejo de fazer as coisas. Tenho limitações enormes, mas a minha vontade é fazer o melhor.
O desejo na compra do Água Viva é para fazer a diferença?
Com certeza. Dentro das minhas limitações, sim, sim, sim. Questionam se vai ficar igual ao de Olímpia ou de Santa Clara, melhor não fazer comparações. O ideal seria aparecer um empresário com dinheiro para fazer e acontecer. Mas, não apareceu, faz cinco anos que o Água Viva está ai às minguas. Teve esse leilão que foi divulgado ao extremo e só apareceram dois investidores. O que posso dizer é que o Água Viva voltará a ser referência regional.
Após a posse, pretende fechar o clube e o hotel para essas obras prioritárias?
Para não quebrar a expectativa, a minha intenção é não fechar o clube. A minha ideia é fazer as reformas necessárias com o clube e hotel funcionando. Eu tenho que formar um time com pessoas, gente que vai vestir a camisa comigo e que vai ajudar a tocar esse empreendimento. Pretendemos então realizar as coisas simultaneamente, funcionando normalmente. Vamos conversar com os atuais funcionários e ver quem fica, quem não fica. 
O que diria nesse momento aos fernandopolenses?
Não vai faltar trabalho e não vai faltar vontade de fazer o Água Viva ser referência regional novamente. Digo com certeza: o Água vai melhorar e muito. A nossa proposta é bem pé no chão, sem aventuras. Eu sei o que não devo fazer.