Fernandópolis recebeu na terça-feira, 13, um dos maiores oradores espiritas da atualidade. Divaldo Pereira Franco é sucessor de Chico Xavier. Aos 91 anos, consegue cumprir uma agenda que começou na segunda-feira em Birigui, passou por Fernandópolis, seguiu para Rio Preto, Catanduva, Araraquara, Ribeirão Preto e termina neste domingo em Araras. A conferência que proferiu no Villa Vip’s reuniu cerca de 4 mil pessoas (veja na página 7-B). Antes da conferência, abriu espaço para um contato com a imprensa de Fernandópolis. O jornal CIDADÃO e a Rádio Difusora registraram esse momento. Abaixo, um resumo dessa entrevista, focada nos tormentos que afligem a sociedade, o papel da família, e a ansiedade que leva muitos jovens à depressão e ao suicídio. Divaldo deixou a uma mensagem de otimismo e uma receita para ter saúde: Amar. Sobre o momento político nacional, considerou inconcebível o estudo de gênero para crianças de cinco anos, o aborto e fez um alerta: “A sociedade terrestre vive uma crise de valores éticos, morais, sociais e econômicos”. Veja a entrevista:
Que mensagem o senhor trouxe para Fernandópolis?
Uma mensagem de otimismo, de esperança e de paz. Todos nós, criaturas humanas atravessamos um momento nebuloso em nossa existência. A sociedade terrestre encontra-se numa crise de valores éticos, valores morais, sociais e econômicos. E em decorrência disso, a aflição toma conta do nosso planeta. A área da ciência e da tecnologia ofereceu-nos grande contribuição no que diz respeito ao progresso intelectual. No entanto, a criatura contemporânea padece de injunções muito dolorosas, a violência, a miséria e, sobretudo, a depressão. Podemos repetir a palavra autorizada da Organização Mundial de Saúde que a depressão é a pandemia mais séria deste momento. Por volta de 2025, a incidência da depressão apresentará o primeiro lugar no resultado dos óbitos, porque a depressão induz a transtornos muito complexos, desde a sua variada apresentação até a incidência de suicídio, loucura e outros transtornos. Então, advém a preocupação de transmitir da melhor maneira possível essa mensagem libertadora de que o espiritismo é portador, porque no momento filosófico que atravessamos, de negação, de distúrbios e, acima de tudo, de indiferença, tem que que ceder lugar a uma era de uma filosofia otimista calcada na mensagem do Cristo.
O senhor é um cidadão do mundo. Qual é o sentimento que sobressai quando chega a uma cidade como Fernandópolis, onde já esteve outras vezes?
Sentimento de profunda alegria, porque passa pela tela da memória os sentimentos de outras oportunidades que estive em Fernandópolis, cidade que aprendi a amar desde a primeira vez quando aqui estive. E rejubilo-me com todo o progresso, o desenvolvimento.
O senhor diz que vivemos uma crise de valores morais, éticos. Neste contexto, qual é o papel da família?
A família é a célula mater da sociedade. Quando a família se desagrega, a sociedade sucumbe. Nós, os espíritas, temos o dever de ir contra tudo que atente em desagrado da família e sua destruição. É óbvio que a família tradicional necessitava de correção, mas a família moderna cedeu lugar, desde os anos 70, à libertinagem, não a liberdade. E nós vemos os frutos hoje numa juventude apátrida, apática, sem norteamento, sem lar, sem equilíbrio para despertar para a idade adulta e marcada por trauma profundos. A família tem prioridade na linguagem espírita. O egrégio codificador Allan Kardec, várias vezes, referindo-se à família e a educação, que é uma das únicas fórmulas para a salvação da sociedade, diz muito bem que a educação é o maior adversário da crueldade e do materialismo. Então, temos que adir aos nossos raciocínio, a construção da família, porque uma família ordinária, no sentido de equilíbrio, da família comum, será a base da sociedade do futuro. Recordo-me de um pensamento de Mohandas Karam Chandra Gandhi. Ele disse que ‘numa casa se alguém tem paz essa casa é pacifica. Se numa rua há uma família de paz, haverá pacificação’. E ele vai num crescendo até a sociedade pacifica do futuro e sintetiza tudo isso numa frase monumental. ‘Se um único homem atingir o mais elevado grau de amor, isto será suficiente para neutralizar o ódio de milhões’. E nós temos o exemplo de Jesus Cristo, o exemplo de Sócrates, de Francisco Cândido Xavier e tantos outros. Exemplos que marcaram a sociedade com esses homens nobres que são os guias e condutores ético-morais. Então, a família é fundamental. Sem uma família ajustada, teremos uma sociedade em delinquência, em anarquia.
A nossa juventude vive em grande ansiedade. O que senhor diria aos jovens?
Asseveram alguns psicanalistas que o fator essencial é o desamor. Está provado cientificamente na experiências dos estudos dos neurônios, que quando a pessoa ama, ela produz determinadas substâncias neuronais semelhantes ao fóton que aglutina as moléculas. Este amor propicia saúde, bem estar, faz com que o indivíduo adquira um tipo de imunologia natural. Quando nós odiamos, temos ciúmes, quando somos agressivos, violentos, os nossos neurônios produzem uma substância equivalente ao próton, que destrói as reservas da saúde. São unanimes hoje os estudiosos, particularmente do câncer, que propõe que, antes de uma quimioterapia, que o indivíduo faça uma autoanálise, uma viagem para dentro, uma autoterapia de amor pelas células. Em experiências desse gênero o Dr. Bernie Siegel, cancerologista americano, assevera que o amor pode mudar a estrutura das células humanas e provocar a saúde. Então, nós vemos uma juventude desamada, uma juventude que perdeu o lar, uma juventude que no momento da transição não sabe como perguntar e como proceder. Nas horas dos conflitos, que são resultado dos hormônios e despertamento, não tem os pais. Os pais, com todo respeito e exceções, estão vivendo um período de muitas concessões. E os jovens recorrem aos expedientes comuns e se permitem ser adotados pelos traficantes. A ansiedade por dias melhores, os distúrbios domésticos, as lutas, a perda do lar que foi transformado em um campo de batalha, as seduções, as paixões imediatas, deram-nos um estado de ansiedade permanente. E neste sentido, Jesus Cristo é um terapeuta tão fascinante que ele previu e apresentou o primeiro recurso terapêutico para a ansiedade. Ele disse ipsis verbis: não vos preocupeis com o dia de amanhã. A cada dia basta a sua própria aflição. E completa, se vos amardes uns aos outros, sereis felizes. Nós hoje precisamos ter o hormônio do amor. Que as pessoas são antipáticas, que algumas merecem ódio, sem dúvida, mas se nós somos mais saudáveis, deveremos dar o exemplo da nossa transformação afetiva, tendo paciência e, ao invés, de considerar a sociedade má, considere que ela está numa fase de transtornos da luta do instinto para a razão, que ainda não pôde superar o ego em detrimento do selfie. Então, que demos o direito de ser pessoas em aprendizagem e as ajudemos com a nossa compaixão.
Depressão e suicídio têm crescido bastante entre os jovens...
Se nós pudermos oferecer ao jovem segurança, estabilidade, se ele tiver certeza que depois de errar, a família o recebe e lhe dá uma nova chance, se depois de haver cometido deslize a porta do lar se encontra aberta por pais que se tornaram exemplos, com certeza não terá depressão. Por que a depressão tem fatores de natureza biológica, endógenas e exógenas, interna e externa, a hereditariedade, as doenças infectocontagiosas, as sequelas das doenças infectocontagiosas, mas tem os fatores mesológicos, os fatores externos, que são os fatores sociais, os vícios, os hábitos de degradação da personalidade, as conversas mal sãs e, ao mesmo tempo, vamos encontrar o desvio do comportamento, em que o sentido da vida é o prazer. O prazer depois de fluido perde a finalidade, até o prazer mais açucarado, mais avançado. Sai-se de uma busca para outra, para outra, e vem a ansiedade. Diríamos que o melhor recurso para responder uma questão dessa é: volte-se para o bem. Procure um trabalho de qualquer natureza, preencha o vazio mental com uma ação social e você estará na primeira terapia de cura da ansiedade, como também de cura da culpa e do transtorno de depressão bipolar. Em cada 100 pessoas que nós atendemos, 70 são transtornos de conduta e tormentos de ansiedade.
O Pais saiu de uma eleição dividido em polos opostos. Qual a sua visão?
A minha área não é sociológica, não é política, é área religiosa. Os dois candidatos apresentavam plataformas bem diversas, algumas agressivas, outras libertinas. No meu caso, por exemplo, preferiria a severidade à libertinagem. Sou pessoalmente oposto ao estudo do gênero nas escolas, porque não posso admitir, como criatura humana, que estuda a religião, que conhece Deus, que uma criança de 5 anos tenha discernimento para eleger qual dos sexos ao qual deseja pertencer. Isso porque, aos 5 anos de idade, o aparelho sexual da criança é apenas um aparelho escretor, não tendo ainda a glândula pineal, libertado os hormônios da sexualidade. A criança é uma fantasia, Aos 5 anos, psicologicamente, ela se encontra ainda no período lúdico, da imaginação. Pessoalmente examinei o candidato que defendia essas teses, incluindo o aborto, que condeno de uma maneira quase que fanática. A mulher tem o direito pelo seu corpo, mas não tem o direito de matar, porque o feto não é o seu corpo. Nós, os espíritas somos frontalmente contra o aborto. O outro candidato foi apresentado como homem que desejaria acabar com os homossexuais, com as lésbicas, com os negros. Eu não posso conceber que alguém tenha um sonho tão estúpido. É provável que tenha dito isso no arroubo, mas também tive ocasião de ouvi-lo em outras propostas de dignificar a nação, de evitar a bandalheira, o crime, que graça de tal forma, que somos hoje um dos países mais violentos do mundo. Vivia dias de expectativas dolorosas. E quando surge um candidato que se propõe a moralizar, é uma esperança. A doutrina espírita tem uma ética, a ética socrática, a ética platônica, a ética cristã, a ética dos grandes filósofos modernos. Então só posso solicitar que deem oportunidade ao candidato (presidente) eleito. Unamo-nos todos em favor da nacionalidade brasileira.
O senhor afirmou em outra ocasião que o país sairá do caos com grandes arranhões, mas realizará sua missão de Pátria do Evangelho. Poderia ser mais específico?
Foi uma afirmação muito antes do período eleitoral, mais ou menos por volta de 1998, em uma entrevista, afirmávamos que os espíritos nobres nos haviam comunicado que iríamos atravessar períodos de turbulência, aliás isto é óbvio, não precisa de informação do além. Por que nós vamos olhando a criminalidade, a degradação, a miséria social, as tentativas governamentais para educar e nós vemos a educação falida, vemos a saúde destruída. Então, os espíritos diziam, isso vai passar. Isso faz parte de um alicerce do qual nós vamos erguer uma sociedade mais justa. Me referia, que no futuro, nós iriamos sair desse estado de miséria social e moral para um período de bênçãos e que, a missão histórica do Brasil, de levar a paz e o exemplo à humanidade, não havia sido cerceada, nem cancelada. O Cristo Jesus que ama todas as Pátrias havia elegido o Brasil para ser a sede da Doutrina Espírita, por sermos o país que quase não temos carmas coletivos. Os dois grandes carmas coletivos foram a guerra do Paraguai e, naturalmente, a escravidão. Mas, então o que dizíamos é que passaríamos um período negro, mas logo isso se diluiria e nós alcançaríamos a nossa finalidade que é um mundo melhor. É uma perspectiva dos dias que virão. Não me atrevo dizer que será com esse candidato, porque corrigir, consertar, reeducar, exige muito trabalho. E acredito que, com o candidato que foi eleito nós teremos muitas dificuldades. Ele irá enfrentar muita problemática, muita reação, como é natural, mas se nós, os brasileiros conscientizarmos de que, o que está em jogo, é o país, é sociedade brasileira, são nossos filhos, nossos netos, nós que estaremos reencarnados no futuro, tudo faremos para apressar esse progresso da pátria brasileira.