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A solidariedade em primeiro lugar



A solidariedade em primeiro lugar
Alice da Silva Ferrarezi nasceu em Araçatuba – e para servir ao próximo. Muito jovem, ela se casou com o pecuarista Luiz Ferrarezi e, em 1960, mudou-se para a fazenda que a família possui nesta região. Apenas em 1975, o casal se mudou para Fernandópolis, por causa dos estudos dos quatro filhos – Junior, Suzete, Neto e Lenise (hoje, dona Alice tem nove netos e um bisneto). Em 1980, um acidente automobilístico levou precocemente o marido Luiz. Pela primeira vez, Alice viu o que representavam as agruras de um período de recuperação física em um hospital – na própria pele. Chegou a pedir a Deus que a ajudasse, mas depois constatou que Ele tinha trabalhos mais difíceis a realizar. Talvez por isso, ela decidiu ajudá-lo – e, uma vez refeita fisicamente, se lançou às obras benemerentes na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, a APAE, onde ocupa hoje posto honorífico. Na última terça-feira, ela foi empossada presidente do Rotary Club Nova Era – é a 12ª mulher a assumir tal posto entre os 68 clubes do Distrito 4480 do Rotary. Na ocasião da posse, o Nova Era repassou US$ 2 mil para a Fundação Rotária, que deverão ser usados na abertura de poços em um país árido do mundo, beneficiando cerca de 600 pessoas, ou para a recuperação de meninas mutiladas do Senegal. O clube doou ainda R$ 1 mil ao Orfanato de Fernandópolis. Incansável, Alice assumiu também, há poucos meses, outro desafio: a atuação no Volfer, os Voluntários da Santa Casa de Fernandópolis. De tudo isso, essa mulher-cidadã fala nessa entrevista. Um belo (e raro) exemplo de vida para seus descendentes.

CIDADÃO: Na última terça-feira, a sra. assumiu a presidência do Rotary Club Nova Era. Quais são os seus projetos para a nova missão que está encampando?
ALICE: O Nova Era tem projetos sociais, de envolvimento pleno com a sociedade e de produzir melhorias no bem-estar das pessoas necessitadas.

CIDADÃO: O que representa ser a 12ª mulher a assumir um posto dessa natureza? Existe uma nova mentalidade?
ALICE: Sim, isso está acontecendo. Hoje, a mulher é vista como uma pessoa “inteira”, com as mesmas possibilidades e capacidade que o homem. Elas são respeitadas e incluídas em todas as ações.

CIDADE: A sra. tem um histórico de trabalho muito importante na APAE. É impossível falar na APAE de Fernandópolis sem lembrar do seu nome. Quanto tempo a sra. tem de militância na entidade e quantos anos foi presidente?
ALICE: Entrei na APAE logo após ficar viúva, e antes já colaborava, com algumas doações, mas sem me envolver. Em 1980, depois da morte do Luiz, fui convidada para fazer parte da diretoria da APAE e acabei me tornando presidente. Foi um desafio à minha capacidade, porque eu conhecia praticamente nada sobre a deficiência mental, e acabou sendo uma experiência maravilhosa, que acrescentou tudo o que faltava na minha vida. Foi um verdadeiro complemento existencial conhecer o que é a APAE.

CIDADE: A sra. ainda tem contato com ex-alunos da entidade?
ALICE: Sou a Presidente de Honra da APAE! Não só tenho contato, como um envolvimento muito forte com a diretoria, os alunos, funcionários e pais. Enfim, com toda a família apaeana.

CIDADE: Na sua opinião, essa militância fez da sra. uma pessoa melhor?
ALICE: Muito melhor – aos meus próprios olhos e, acredito, aos olhos de Deus. O trabalho me fez mais compreensiva, mais calma, me fez entender as coisas difíceis de explicar e aceitar na minha vida, como o fato de ter ficado viúva muito cedo, com os filhos ainda na adolescência. Quando conheci a APAE, entendi que Deus tinha muito mais com que se envolver, problemas mais graves do que os meus, e passei a tentar resolver eu mesmo os problemas, e esqueci, por exemplo, detalhes como o da minha aparência, essas coisas menores. Sem dúvida, me tornei uma pessoa muito melhor.

CIDADÃO: Há uma nova entidade surgindo em Fernandópolis, da qual a sra. também faz parte: a Volfer, ou Voluntários da Santa casa de Fernandópolis. O trabalho vai bem? Como está a estruturação da Volfer?
ALICE: Quero dizer, primeiro, da nossa alegria de ter como presidente da Volfer a dona Wandalice Franco Renesto. Ela é uma pessoa maravilhosa, capaz e que impõe grande respeito, além de saber motivar a produção dos companheiros de entidade. Então, já é importante e estimulante trabalhar com uma pessoa que gosta e que sabe o que faz. Além disso, tem o objetivo: a Volfer tem um sentido muito humanitário, e penso que vai dar muito certo. Nós já estamos com uma campanha, percorrendo as indústrias – começamos pela indústria dos Careno, por iniciativa da Alma e seu marido. É o “cofre solidário”.

CIDADÃO: Como é essa campanha?
ALICE: O “cofre solidário” passa pelas indústrias, escolas, comércio, enfim, por toda a cidade e pelas outras cidades que se beneficiam com a nossa Santa Casa. O objetivo é que as pessoas colaborem com R$ 1, apenas isso. Isso permite a todos que participem. Vai acrescentar muito, porque de grão em grão nós poderemos suprir algumas necessidades.

CIDADÃO: Qual é a proposta da Volfer, em termos do trabalho que será desenvolvido internamente no hospital?
ALICE: É a humanização do tratamento. As equipes médicas e paramédicas não dispõem de muito tempo para dedicar aos pacientes. Assim, os voluntários irão auxiliar no tratamento, dando atenção e carinho aos doentes, conversando com eles, ler para quem não têm condições da leitura. Já temos um grande número de pessoas dispostas a participar e acho que esse é o caminho: humanizar o tratamento. Temos também um projeto de presentear todas as pessoas que estiverem no hospital no Dia das Mães – todas, não só as mães, mas também filhos, pais, etc. Confeccionaremos lembranças para serem distribuídas para todo o hospital no Dia das Mães.

CIDADÃO: A sra. acredita que o amor ajuda na terapia?
ALICE: Eu mesma precisei muito desse amor. Tive uma fase em minha vida em que quase fiquei paraplégica. No acidente que levou meu marido, tive uma fratura de coluna. Então, foi muito importante o envolvimento e o carinho dos parentes e amigos, que me ofereceram tanto amor, que eu sobrevivi. Quando você sai de uma situação como essa sem seqüelas, como eu saí, passa a entender que a cura se deu em boa parte pelo amor. É doloroso, mas você supera porque o amor lhe ajuda a superar. Quando o Junior Sequini nos convidou para participar da Volfer, e a dona Wandalice foi escolhida a presidente, todas nós do movimento ficamos seguras e confiantes, porque o amor estará em primeiro lugar. A Volfer nos próximos dias receberá seus jalecos e crachás, e aí daremos início ao grande trabalho que pretendemos desenvolver dentro da Santa Casa.

CIDADÃO: A sra. conhece bem Fernandópolis. Quais são as grandes virtudes desta cidade?
ALICE: A solidariedade. É a principal qualidade de nossa gente. Há muita contradição, muita rixa, quando se fala em política, por exemplo. Mas, quando se fala em trabalhar para minimizar a dor, o sofrimento de alguém, aí aparece a solidariedade, que é abundante em Fernandópolis. Veja quantas instituições há na cidade – e em todos os eventos as pessoas aparecem, participam, colaboram de coração. Por que? Porque existe essa virtude chamada solidariedade.
CIDADÃO: E qual é a maior carência?
ALICE: É a falta de vagas no mercado de trabalho. É uma necessidade mundial, e Fernandópolis não foge à regra.