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“Acreditei nos meus sonhos”



“Acreditei nos meus sonhos”

O empresário Jeder Cássio Rissato, 47 anos, não para. Acaba de retornar da China, onde foi atrás de novidades para sua rede de lojas, Gigantão. Ele é exemplo de sucesso e inspira outros empresários. O hoje bem sucedido empresário, foi criado em São Paulo na Cohab de Carapicuíba e começou trabalhar muito cedo. Aos 7 anos vendia sorvete e aos 13 ingressou no Bradesco em um projeto para menores carentes. De São Paulo, aos 16 anos, pediu transferência para Fernandópolis, para voltar a região, já que a família toda é de Meridiano. Aos 21, pediu demissão do banco e foi se aventurar no comércio onde está há mais de 26 anos. Ao retornar da China, Jeder recebeu CIDADÃO, para falar da viagem, de política, de Fernandópolis que está completando 79 anos e dos novos sonhos. “Eu sempre consegui superar as minhas expectativas, até porque acredito nos meus sonhos. Tudo que sempre tive vontade que acontecesse, graças a Deus, até hoje aconteceu”, disse. Falou também de política. Disse que o que viu na experiência de candidato a vice-prefeito em 2012, tirou sua vontade de ser político. Veja a entrevista:


O mundo hoje está com os olhos voltados para a China e você acaba de retornar de viagem a esse país. O que viu por lá de oportunidade para seu negócio?
Desde quando comecei com o Gigantão há 25 anos já existia a China, só que a China no mercado popular deixava muito a desejar em relação a qualidade, tanto que durante um bom tempo o mercado nacional conseguiu competir porque conseguia fazer produtos populares de melhor qualidade. O que salta aos olhos hoje na China é a inversão da qualidade, Eles estão ainda conseguindo fazer produtos mais baratos só que de uma qualidade muito boa. Frise-se também a questão da inovação. Antes a China era considerada a cópia de tudo, copiava os outros. Hoje você vê as coisas nascendo na China e os outros copiando. E isso me chama a atenção. Outra coisa que me chamou a atenção na China é a questão trabalhista. É a primeira vez que fui para a China e a visão que tinha, do que ouvia dizer, era de escravidão, que as pessoas ganhavam pouco e trabalhavam 12 horas por dia. Se era isso, não existe mais. Hoje um funcionário de escritório na China ganha 1.200 dólares, coisa quem nem no Brasil se ganha, para trabalhar das 9 às 17 horas, sem trabalhar de sábado. Houve muitos avanços na questão trabalhista, mais do que no Brasil atualmente. São coisas que me chamaram a atenção, como por exemplo, o dinheiro lá foi banido. Hoje tudo é pago através do WeChat, um aplicativo de celular. Tudo se paga pelo celular. Só turista usa dinheiro na China, os chineses pagam tudo pelo celular.
Essa viagem à China fez você ter visão diferente do país?
Completamente. O que chama atenção é que eles estão dando a volta por cima. É claro que a gente ainda vê a população mais antiga ainda usando caneta e papel, mas de outro lado tem o pessoal super antenado. Os dois mundos ainda existem na China, mas a gente percebe que a modernidade já está dominando. Sem contar também o canteiro de obras. É surpreendente. Atravessamos a China em um trem bala e você só vê canteiros de obras. Pelo que vi, não tem quem segure a China. 
Como se sente um empresário brasileiro, que vive toda essa incerteza aqui e chega na China e vê essa realidade desenvolvimentista?
O que trava muito o Brasil são as leis. Vejo empresários com muita vontade de crescer, de investir, mas as leis travam o país e ainda assim conseguimos fazer muita coisa. Falando de forma simplória, na China é uma pessoa que manda e todo mundo segue. No Brasil para se fazer uma mudança é uma luta. Pelo que me lembro, desde a época de Fernando Henrique Cardoso estão tentando fazer reformas, que disseram ser imprescindíveis para o país e até hoje está essa luta, tem que se fazer barganha, jogo político e no final, o que era para ser uma grande mudança, torna-se uma mudança minúscula. Isso é o que atrasa muito o crescimento do país. Apesar disso, tenho grandes expectativas com o Brasil.
O Gigantão de hoje é o empreendimento sonhado há 25 anos? 
Eu sempre consegui superar as minhas expectativas, até porque acredito nos meus sonhos. Tudo que sempre tive vontade que acontecesse, graças a Deus até hoje aconteceu. A gente vive de sonhos. Então comecei muito pequeno, não tinha experiência em comércio, nem dinheiro. Lembro que minha primeiro loja era pequena e na época comprei fantasias do Piu piu e do Banana de Pijamas e me vestia para chamar a atenção. As pessoas passavam rindo da minha cara. Eu mesmo pintava as faixas, imprimia minhas propagandas naquelas impressoras matriciais e saia entregando para as pessoas. Não tinha dinheiro para propaganda. Era com muita dificuldade, mas sempre lutei com as armas que tinha e foi assim que fui conquistando as coisas. E quando comecei o Gigantão, sempre fui curioso e buscava as inovações. E é isso que tem acontecido até hoje. Fui para a China com esse propósito, de buscar novidades para Fernandópolis e região.
O que significa a rede Gigantão hoje em termos de geração de empregos?
Eu já gerei mais empregos do que atualmente. Já tive mais de oito lojas e hoje tenho quatro. A vontade é sempre oferecer mais empregos, só que infelizmente as leis no país atrapalham muito. Claro que agora veio uma reforma da legislação trabalhista e temos expectativa de que possamos gerar três vezes mais empregos do que geramos atualmente. Só que temos que dançar conforme a música. 
Como empresário, sente-se realizado, ou busca algo mais?
Como falei, vivo de sonhos. Mas, ao mesmo tempo que tenho sonhos, tenho os pés no chão. Sempre vou crescendo com segurança, vendo onde posso pisar. Vejo as grandes redes crescendo através da internet, então estou com planos de vendas pela internet. Abrir uma loja física é sempre muito complicado, complexo. Tem que ser guerreiro para encarar aluguel, despesas trabalhistas e ainda entender de um emaranhado de leis que você nunca sabe o que é certo e errado. Pela internet, você pode vender para o mundo. Isso me instiga e o desejo é ter o Gigantão na internet.
Quem vê o empresário Jeder Rissato bem sucedido, não imagina como começou essa história?
Eu cresci em São Paulo na Cohab de Carapicuíba, minha mãe era separada do meu pai, e desde os 7 anos já vendia sorvete no bairro. Com 13 anos eu passei numa pré-seleção do Bradesco para menores carentes. Com 14 anos estava registrado como técnico de manutenção de máquinas. Consertava todas as máquinas do banco. Pedi transferência para o interior, foi quando vim para Fernandópolis com 16 anos e dava assistência nas máquinas do Bradesco da região toda. Então com 16 anos, viajava e era responsável por todos os equipamentos do banco. Depois, com o tempo, o Bradesco foi se automatizando e repassou serviço para terceiros, foi quando sai do banco com 21 anos e iniciei no comércio com uma lojinha minúscula, ali ao lado onde hoje é a loja da minha filha, a Dondoca. Primeiro foi uma loja de confecção, depois aprendi a fabricar camisetas, colocar estampas. Nesse início, cheguei a sortear um Fusca para os meus clientes. O carro era meu e quando consegui comprar um melhor, fiz o sorteio. Criei a raspadinha da Tomaladaka. Fui criando outras formas de propaganda, sem gastar dinheiro. Então foram coisas que fiz e que me levaram onde queria estar. 
E Fernandópolis na sua visão?
É uma cidade interiorana e é uma escolha de quem mora aqui. Vejo as pessoas tendo grandes sonhos para Fernandópolis, que ela cresça muito, me lembro do projeto da ZPE.  Só que esquecem que isso tem um preço. Em cidades maiores temos problemas de violência que não temos aqui. Temos que parar para pensar onde queremos chegar. Vejo hoje Fernandópolis uma cidade que todo mundo ama. Não conheço ninguém que morou aqui ou que more aqui que fale que gostaria de morar em outro lugar. As vezes até falam, mas quando vão, o maior sonho é voltar para Fernandópolis. Aqui é uma cidade gostosa de se viver, acolhedora. Querendo ou não somos muitos bem servidos com faculdades, variedades de cursos. É lógico que não temos os empregos que gostaríamos e isso gera frustração. Todos gostariam de estudar os filhos aqui e que eles permanecessem aqui. E muitos têm que sair para trabalhar. A gente tem esse preço a pagar. Mas, sou muito otimista em relação à cidade.
Você chegou se aventurar na política e parou. Passou a vontade de ser político?
Não tenho a menor vontade hoje de ser candidato. Foi um sonho, meus parentes sempre se envolveram na política, já foram prefeitos, vereadores. Cresci vendo isso e tinha essa vontade de fazer a diferença na política. E exatamente por ter sido candidato, vi muitas coisas que me tiraram a vontade de continuar. Como empreendedor, fui para a China, e se quiser mudar alguma coisa na minha loja, mudo e pronto. E sei que hoje na política não é tão simples assim. Hoje Fernandópolis tem dois deputados, um ótimo nome como prefeito que é o André, só que vejo que não conseguem fazer o que gostariam e sempre se esbarra em problemas que atrasam muito as coisas. Sinto que se entrasse eu me frustraria, não conseguiria fazer o que teria vontade de fazer.
Na política, o que sonhou para Fernandópolis para fazer a diferença?
Sempre entendi que Fernandópolis tem um potencial de turismo e o sonho era transformá-la em cidade turística. Vejo o Água Viva penando até hoje, quando a gente poderia ter um clube como o de Olímpia, que atraísse pessoas do Brasil inteiro e isso gerasse renda. Que a cidade oferecesse também mais atrativos para os universitários, com eventos culturais, esportivos. Fernandópolis não pode apenas oferecer balada para os jovens. Temos que oferecer mais cultura, esporte, lazer. Mas, estamos num bom caminho.
Como um dos grandes empresários da cidade como avalia o cenário atual em Fernandópolis e no Brasil?
Eu sou muito otimista. Acho que estamos em um bom momento, a cidade nunca teve dois deputados ao mesmo tempo. É difícil fazer mudanças por conta das leis, mas vejo muitas coisas boas vindo para a cidade. Estamos no caminho certo, não só Fernandópolis, mas também o Brasil. Neste momento, em que muitos enxergam com descrença o cenário eu vejo como excelente a fase que vivemos. Até pouco tempo éramos conformados em ver usineiros comandando o pais, maus políticos roubando. Hoje ninguém mais aceita isso. Gente que nunca imaginaríamos está presa. Então, creio em que em um ou dois anos muita coisa boa vai acontecer. Estamos na melhor idade para ver todas essas mudanças para melhor.
Crise nunca o assustou?
Eu tenho comércio há mais de 25 anos, sempre ouvi alguém falar de crise e nunca aceitei a palavra crise, sempre procurei adotar a palavra crie. Sempre que uma oportunidade deixa de existir nascem duas ou três. Temos que estar abertos a mudanças.