O médico urologista Aer Trindade, embora esteja feliz com a campanha do seu Palmeiras, não deixa de se preocupar com a incidência do câncer de próstata, uma doença complicada. No Dia Mundial de Combate ao Câncer, esse profissional formado em 1967 pela USP de Ribeirão Preto, casado com Carmem Gomes Trindade e pai da médica Maria Teresa, do advogado Aerzinho e do agrônomo Marcelo, e que há 38 anos vive e trabalha em Fernandópolis, faz um alerta: quem se alimenta basicamente de vegetais tem menos chances de contrair a doença do que os adeptos das proteínas animais.
CIDADÃO: Existe uma recomendação para que todos os homens acima de 50 anos façam o exame de próstata. Por que especificamente acima dessa idade?
AER: Primeiro é preciso entender o que é a próstata, uma glândula do tamanho de uma castanha que produz o líquido espermático ou esperma, substância com nutrientes que serve de veículo para os espermatozóides e que fica localizada na saída da bexiga e acima da ampola retal e tem a função reprodutiva. O exame é efetuado em homens acima de 50 anos porque é o tumor mais freqüente no homem desta idade. Na verdade fazemos uma detecção precoce, não uma profilaxia de câncer de próstata. É o tumor mais freqüente no homem acima de 50 anos.
CIDADÃO: No que consiste o exame chamado PSA?
AER: O PSA é produzido pela célula da próstata. É uma proteína produzida pela célula da próstata. Em determinadas condições esse PSA aumenta, uma dessas condições é o câncer de próstata. Também aumenta no caso de prostatite e de outra doença da próstata chama hiperplasia. Então o PSA não dá o diagnostico do câncer de próstata; ele apenas indica uma alteração na próstata. Na verdade a gente faz dois exames importantes: ou você faz um toque e um PSA ou faz ultra-som e um PSA. Mas quando você faz o ultra-som e o PSA e faz o toque e o PSA o valor que você investiu para fazer o exame de próstata é o mesmo, mas o toque é muito mais barato que o ultra-som, por isso fazemos o toque.
CIDADÃO: Em relação ao velho preconceito do exame de toque retal, alguns homens evitam o exame por se julgarem ofendidos na sua masculinidade. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
AER: Felizmente esse tabu está caindo. São poucas as pessoas que desistem do toque retal. Já tomaram consciência através da mídia, dos programas de conscientização feitos pela Sociedade Brasileira de Urologia, que faz programas para a prevenção do exame de próstata. Hoje, essa resistência já diminuiu muito.
CIDADÃO: Uma prostatite pode comprometer a capacidade de ereção?
AER: depende da prostatite. Existem dois tipos de prostatite, que são a crônica e a aguda. A prostatite aguda realmente é um estado febril, um processo infeccioso que aumenta a próstata e que eleva o PSA a níveis altíssimos; ela pode realmente interferir na ereção, mas é uma situação passageira.
CIDADÃO: E a hiperplasia?
AER: A hiperplasia é um tumor benigno na próstata, na verdade é uma proliferação das glândulas; é o tumor mais freqüente no homem, o tumor que mais se opera no mundo. Em 1988 se faziam nos Estados Unidos cerca de 280 mil cirurgias de próstata. Com o advento dos medicamentos para hiperplasia da próstata esse número abaixou para 80 mil por ano. É o tumor que dá uma qualidade muito ruim à vida do homem. Ele passa a urinar muitas vezes à noite, faz força para urinar, acaba de urinar e acha que não acabou tudo. Existem dois tratamentos dependendo de qual é a hiperplasia. Tem tratamento cirúrgico, através da cirurgia aberta, ou de tratamento medicamentoso. Existem vários medicamentos hoje em dia chamados alfa-bloqueadores, uma enzima que transforma o hormônio masculino a testosterona, que é o hormônio produzido pelos testículos em hidrotestosterona.
CIDADÃO: Existe algum grupo étnico, comportamental ou familiar que tenha mais propensão ao câncer da próstata do que outro grupo?
AER: Isso é importante, a gente sabe que os homens da raça negra têm uma tendência a ter mais câncer de próstata que o da raça branca, normalmente por isso aconselhamos os negros a fazer o exame antes dos 50 anos, em torno dos 45 anos. Tem também o caráter familiar. Se o pai ou o avô teve câncer de próstata a chance é maior. Se uma pessoa da família tem; a chance é quatro vezes maior; se duas pessoas da família têm; as chances são 8 vezes maiores. Estudos são feitos em autópsias nos corpos de indivíduos que morrem por outras razões, como acidentes, que produzem informações importantes. O câncer de próstata é o câncer latente, tumor latente, esse tumor latente de próstata é mais ou menos igual tanto nos orientais chineses, japoneses, coreanos - eles tem menos tumor de próstata que os americanos, mas esse tumor é um tumor clínico, mas o tumor latente é mais ou menos igual.Você vai fazer uma biópsia em um indivíduo asiático, americano num branco ele é mais ou menos igual, é um tumor na pele que pode se transformar em um tumor clínico, exatamente aí que vem o fator da prevenção. Tem uns estudos em japoneses que foram para os Estados Unidos depois da guerra, que mostra o seguinte: os japoneses que vieram para os Estados Unidos e os que ficaram no Japão, aqueles que vieram para os Estados Unidos tiveram 8 vezes mais chances de ter câncer de próstata do que os que ficaram no Japão. Por que? Tem o fator ambiental, a gente sabe que a alimentação dos asiáticos é preponderantemente vegetal enquanto que o americano tem a alimentação muito mais voltada para o produto animal, dentro desse fator alimentar que foi predominante. Aí que temos que estudar, é importante, quando você vai fazer um tratamento curativo, o exame de detecção de câncer de próstata quando ele está no órgão, depois que está fora é um tratamento apenas paleativo, mesmo esses pacientes que a gente faz o tratamento da próstata, ou tratamento cirúrgico através de radioterapia, um terço desses pacientes que a gente acha que é curável o tratamento falha. O que é importante é fazer a prevenção do câncer.
CIDADÃO: E como é essa prevenção?
AER: A prevenção, evidentemente, se dá na criação de condições que não facilitem as coisas para a doença. Para prevenir a poliomielite você se vacina, no câncer de próstata não existe essa vacina, mas a prevenção é para mudar os hábitos alimentares, alimentação à base dos produtos vegetais, que é mais saudável, através de vitamina A B e C, da ingestão da vitamina D. O alimento hipercalórico aumenta a porcentagem do câncer de próstata. Quando diminui o consumo de gordura diminuem as chances. Tem que fazer a prevenção através principalmente da alimentação. O problema do câncer de próstata é complicado. O paciente jovem com o PSA alto é uma preocupação. Porque a ciência já estabeleceu níveis considerados dentro da normalidade ou acima dela. Normalmente isso varia com a idade. Assim como o que realmente dá o diagnóstico de câncer é a biópsia, pode-se dizer que a melhor forma de se evitar o câncer de próstata é através da mudança de hábitos. E fazer os exames periodicamente, de acordo com as recomendações médicas.