A Santa Casa de Fernandópolis completa no dia 18 de fevereiro dois anos de intervenção judicial, sem data prevista para terminar. Foi o que disse o provedor/administrador judicial Marcus Chaer durante entrevista ao programa Rotativa no Ar da Rádio Difusora FM nesta quinta-feira, 20.
Ele foi mais longe. “Na minha opinião, se não fosse a intervenção a Santa Casa já teria fechado as portas por conta de todas as mazelas que, por isso falo de herança maldita”.
O próprio juiz interventor Vinicius Castrequini Buffulin fala nos despachos sobre a intervenção, que ela está durando mais tempo do que deveria. “Mas, considerando a pandemia e todos os achados não tem uma data definida ainda para ser levantada. Acredito não vai demorar muito”, estimou Chaer. Segundo ele, até hoje ainda peticiona coisas novas ao juiz, o que alonga o tempo da intervenção.
“Nos últimos dois anos, a intervenção permitiu a estruturação da Santa Casa. Hoje podemos dizer que é uma empresa. Anos atrás não era assim, não se sabia o que era fluxo, quanto recebia, quanto gastava. Empresa na minha visão tem que ter fluxo, protocolos e processos. Ela tem que ter uma identidade cultural. Hoje já começamos a implantar isso, mudando a cultura, fluxo, muda processo, para andar como empresa para quando a intervenção for levantada daqui a um tempo”, diz.
Mas, ainda tem muitas “surpresinhas” no caminho. Chaer cita que outras Santas Casas têm dívidas, mas funcionam, porque tem superávit mensal, isto é, arrecadam mais do que gastam.
“A Santa Casa de Fernandópolis ainda não arrecada mais do que gasta. O custo dela é alto. Nós temos muitas surpresinhas. Antiga gestão saiu e fez confissão de dívidas com cheques para os fornecedores que estão sendo executados, a justiça tem que acatar e vem os bloqueios judiciais no faturamento, direto no convênio que é nosso maior recebimento. Essa herança maldita prejudica até hoje, pagamos quase R$ 400 mil de parcelamento bancários de outras gestões. O grosso da dívida nós já renegociamos, mas ainda falta muito”, relata. Ele lamenta que a maior dificuldade de renegociação de dívida envolve fornecedores locais de onde se esperava maior compreensão para o problema do hospital. “Eu entendo a posição da empresa, mas estamos falando de um hospital. Não custa sentar e negociar”.
O provedor enfatiza ainda a questão política. “Quando a sociedade começar a entender que a Santa Casa deve ser apolítica e apartidária, que ela depende de todos, sem preferências, as coisas vão fluir melhor”. Ele afirma que ainda tem uma fase critica pela frente com judicializações, pagamento de empréstimos e negociação de dissidio salarial com o sindicato.
Sobre a polêmica com o fim do internato do curso de Medicina da Universidade Brasil, Chaer disse que nunca fechou as portas para a negociação. “Tendo valores justos estamos abertos para conversar. A Santa Casa é um Hospital de Ensino e uma das nossas missões é ter estudantes. Temos convênios com a FEF nos cursos da área da saúde, com a própria universidade no curso de enfermagem. O curso (medicina) está aqui, estruturado, tendo entendimento de ambos os lados acho que podemos chegar a um acordo. Depende muito da proposta que vier”.
Mesmo em meio às dificuldades, a Santa Casa tem buscado melhorar sua estrutura de atendimento. Neste momento o hospital está reformando a fachada e a entrada principal, com recursos repassados pela Sabesp (parte do lucro da empresa, por lei, é repassada a Santa Casa e AVCC). “Esperamos entregar a obra concluída nas próximas semanas. Depois vamos avançar para a fachada da Hemodiálise e do pronto-socorro”, disse Chaer.
Com mão de obra própria o hospital também iniciou a reforma da Unidade 4, onde funcionava o atendimento para a Covid. Com isso, o provedor diz que a Santa Casa não tem estrutura física e nem de pessoal (conta com cerca de 100 funcionários afastados por covid) para reabertura dos leitos de Covid. “Já havíamos combinado com a DRS 15 que após o fechamento dos leitos, iriamos iniciar a reforma da unidade. Hoje não temos onde alocar esses leitos”, explicou.