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Ajudar o próximo traz benefícios para a saúde de quem ajuda?



Ajudar o próximo traz benefícios para a saúde de quem ajuda?
O “Mania do bem” segue este ano para sua quarta edição. Há quatro anos a equipe de reportagem do CIDADÃO vem “garimpando” os rios da vida à procura de pessoas que - de alguma forma - promovam o bem. A missão tem se tornado cada vez mais desafiadora, pois à medida que as edições vão sendo produzidas, os personagens conhecidos vão se esgotando. O que talvez poucos saibam é que, há algum tempo, psicólogos, neurologistas e epidemiologistas têm afirmado que já está cientificamente comprovado que ajudar ao próximo traz benefícios à saúde de quem ajuda. Fazer o bem é bom para o coração, o sistema nervoso, imunológico, aumenta a expectativa de vida e a vitalidade de um modo geral. Contudo, só os seres mais sublimes são capazes de promover o “bem pelo bem”, sem esperar nada em troca, se não o prazer de ver a alegria estampada no rosto das pessoas. Já vislumbrando o “Mania do Bem 2009”, o CIDADÃO traz uma matéria especial com o psicólogo, filósofo e teólogo Diocélio Xavier Rocha, sobre o tema, com intuito de incentivar as pessoas a promoverem, cada vez mais, o bem.


O poder curativo de praticar o bem
Chris Kiefer, Ph.D., professor de antropologia da Universidade da Califórnia, em San Francisco, descobriu nas pessoas entrevistadas que, “altruístas naturais” (pessoas que ajudam os outros voluntariamente sem esperar qualquer recompensa) cresceram em um lar carinhoso. As pessoas criadas por famílias onde não existia amor ou onde o amor era distribuído de forma injusta, eram menos generosas, lhes faltava confiança e apresentavam um grau de altruísmo e saúde mental bastante inferior. Luks também escreve sobre isto em seu livro: O Poder Curativo de Praticar o Bem. O livro conta que, de 3,3 voluntários pesquisados em 1989 - aqueles que ajudavam regularmente - informavam dez vezes mais que havia melhorado sua saúde do que aqueles que só trabalhavam como voluntários uma vez por ano. Entretanto, o contato pessoal é muito importante. Doar dinheiro ou roupas não proporciona a mesma sensação de bem-estar do que estar diretamente envolvido com uma ação solidária.

O inovador psicólogo Abraham Maslow, antes de sua morte, em 1970, concluiu que o comportamento altruísta é um reflexo magnífico do bem-estar psicológico do indivíduo. Essa pessoa é compassiva por entender que toda a vida é interligada e não deve ser vivida no isolamento, procurando satisfazer somente o próprio ego; mas a serviço da comunidade. Maslow afirmou que o altruísmo, a compaixão, o amor e a amizade significam o desabrochar do verdadeiro ser. Contudo, há que se tomar certo cuidado com a motivação com que essas ações são realizadas para não nos assemelharmos ao pai que chega ao filo e diz: “Filho, se você obedecer-me, a partir de hoje, toda noite eu te darei R$ 100”. É óbvio que ele terá a devida obediência, mas enquanto a promessa e os benefícios forem cumpridos.

O meu propósito é falar de algo mais sublime do que essa troca. Falo do amor pelo amor. Da compaixão pela compaixão. Da bondade, sem que se espere algo como devolutiva. Robert H. Schuller disse que há duas espécies de pessoas neste mundo. As que constroem paredes e as que constroem pontes. A frase de Schüller nos leva a fazer uma análise sobre o que estou guardando e encerrando dentro destas paredes ou quem estou deixando fora delas. Neste fim de 2008, gostaria de refletir com aqueles que adoram construir paredes. Pois na nossa defensiva e, às vezes, hostilidade, costumamos afugentar pessoas que necessitam de nós.

Quando recebi o convite para falar sobre fazer o bem, logo me veio a mente o grande motivo que nos impede de fazê-lo: a construção de paredes, nossas imensas barragens. Neste ponto inicial desta reflexão, te convido a construir pontes e não paredes. Os que as constroem são aqueles que esperam o melhor das pessoas. Construir pontes é se prender a algo sublime e espiritual é nos ligar àqueles que necessitam de nosso amor e ajuda. O que você está construindo, pontes ou paredes? Quantos dias ensolarados se tornam cinzentos porque sua mente enraivecida agita-se e luta com adversários e adversidades como: seu ex-marido, ex-esposa, funcionário, filho, filha, pais, professores, aquele freguês, aquela cliente. Quanta energia espiritual tens gasto em lugares e pessoas que não valem a pena. Enquanto travamos estas lutas inúteis e improdutivas que têm o poder de nos ferir e de tirar de nós o resto de compaixão, perdemos tempo precioso para crescermos como seres humanos, fazendo e cumprindo o segundo grande mandamento do cristianismo: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.”


Ele deixou um exemplo de solidariedade e compaixão
Na hora de fazer o bem é preciso olhar para o homem e vê-lo não como alguns vêem. Por exemplo, para a biologia, o homem é fruto de uma evolução; para a ciência apenas objeto de estudos. Já para a filosofia é apenas mais um ser complexo que pensa e que está procurando se achar neste vasto universo; para a química, apenas matéria finita, meras reações; para a sociologia ele é apenas o resultado discutível de um fator social.

Mas para Deus, o homem é jóia preciosa, motivo de sua entrega no calvário, razão de sua vicária morte. Deus percebe o homem como um ser carente de ajuda, primeiramente Dele, e depois do seu semelhante. Quando olhamos para aqueles que necessitam de ajuda desta maneira, não mais o percebemos como indigentes, mendigos, incapazes, miseráveis ou fracassados. Vemos como seres especiais que estão necessitando de ajuda. Esta ajuda pode ser financeira ou uma simples refeição, um abraço, um abrigo, um conselho, um incentivo, uma força para recomeçar a vida ou um encaminhamento espiritual.

Enfim, notamos que todos precisam da ajuda de alguém. O grande mestre do amor e da misericórdia, chamado Jesus, o maior psicólogo que já andou por este mundo, deixou-nos um grande exemplo de solidariedade e compaixão registrado no Evangelho de Marcos 5:1-20. Onde fala sobre a maior preocupação do coração dele: Ter um encontro com o ser humano e poder, assim, transformá-lo. Uma das maiores preocupações das pessoas, nestes dias, é se encontrar. Elas se sentem perdidas, desorientadas, confusas. Não conseguem discernir o que vem de Deus ou do mal. Este texto de Marcos, capítulo cinco, mostra o quanto a fé - movida de compaixão e sensibilidade - é capaz de fazer bem ao seu humano. A história fala de um jovem que tinha sua família, trabalho, sonhos, projetos; mas que em certo momento da vida fez uma escolha errada. Escolheu seguir o caminho das trevas, do erro, da perversidade, abrindo brechas para algo que não conhecia e não conseguia controlar. O texto narra que sua mente era “perturbada”.

Sempre penso que o pior mal que existe e que nos faz sofrer é aquele que criamos, alimentamos e deixamos viver dentro de nós. E quantos estão vivendo “possuídos” por este mal. Que vivem lutando para serem alguém ou alguma coisa, mas são caçados vivos e derrotados. Quantas pessoas - enquanto você lê este texto - estão se sentindo num verdadeiro sepulcro? Que estão se alimentando de sobras, da escória da humanidade? Quantas pessoas, aqui em Fernandópolis, estão como que entre mortos, não conseguem andar no meio dos vivos, sem esperança, sem apoio, sem ajuda, sem alguém que lhes ofereça algo que os tire de onde estão. Quantos que, neste instante, estão sendo vitimados por toda sorte de violência física, mental e social?

Este texto diz também que aquele jovem andava pelas ruas dia e noite, como se estivesse “surtado”, gritando, se ferindo com pedras e gemendo pelas ruas. Sem rumo e sem saber o que esperar mais da vida. Mas um belo dia este homem, teve um encontro com o Cristo. Ele viu a Jesus de longe e correu em sua direção. Talvez, por alguns segundos de lucidez, se prostra diante dEle. Ele foi ao lugar certo.

Jesus foi o maior revolucionário que já existiu neste mundo. Não era pseudo-moralista, não era acometido por legalismos de formas e costumes religiosos, não fazia nada para aparecer e ser promovido, não buscava reconhecimentos humanos. Embora, puro e eternamente divino, pensava em gente como eu e você. Suava, comia, dormia, sentia, chorava, ria, decepcionava com pessoas e acreditava nelas. Para Jesus, estar num banquete com nobres era igual a sentar-se ao chão com leprosos. Ele estendia sua mão às prostitutas (Uma delas, Maria Madalena, se tornou sua maior discípula) comia com ladrões e pecadores e tinha todo tempo para ouvir um jovem, como este deste texto, perdido e cheio do mal.

Isto me chama à necessidade de “repensar sobre religião e fé. Estamos longe, bem longe de alguma coisa parecida com aquilo que Jesus fez e gostáramos que fizéssemos hoje. Aquele encontro de Jesus com este jovenzinho perdido teve mudanças eternas em seu espírito, mas também em seu físico e em sua vazia alma. Jesus o libertou daquelas forças das trevas, sombrias que o levavam para o mal e destruição (Isto se chama Reestruturação espiritual). Sua agressividade e violência foram substituídas por um espírito tranqüilo, manso e sossegado (Isto se chama Equilíbrio mental ). Ele deixou de andar nu pelas ruas e cemitérios, não era visto pela sua família e nem pela sociedade como um bicho, um animal, sem escrúpulos. (Isto se chama reconstrução de valores éticos, morais e culturais). O evangelho que restaura a moralidade do ser humano é o mesmo evangelho que dá uma peça de roupa para ele. (Isto se chama compaixão). Quantos Gadarenos (região em Israel onde vivia o jovem do texto) existem em nossa cidade hoje? O que você pode fazer por ele? O que Jesus faria em seu lugar?
Fazer o bem é uma sublime missão de Deus concedida aos homens. Deus usa pessoas para ajudar pessoas. Neste fim de ano, você pode ser um agente de transformação e de ajuda se quiser.

Conta uma história que, certa vez, a mãe perguntou ao filho qual era a parte mais importante do corpo humano. E ele respondeu que eram os ouvidos, pois achava que o som era muito importante. Ela disse: - Não. Muitas pessoas são surdas e vivem muito bem. Algum tempo se passou e a mãe fez a mesma pergunta. Ele, então, respondeu que eram os olhos. Olhando para ele, a mãe disse: “a resposta ainda não está correta, porque há muitas pessoas que são cegas e vivem muito bem”. Por diversas outras vezes a mãe lhe dirigiu a mesma pergunta, mas ele nunca acertava a resposta. No dia em que seu avô morreu - enquanto todos lamentavam sua perda - a mãe olhou para ele e perguntou: “você já sabe qual parte do corpo é mais importante, meu filho?” Observando que ele estava confuso por estar fazendo a pergunta naquele momento, ela disse: “Hoje é o dia que você necessita aprender esta importante lição: a parte do corpo mais importante é o ombro”. Sem entender o menino perguntou: “Porque eles sustentam minha cabeça, mamãe?” Ela respondeu: “Não, é porque pode apoiar a cabeça de um amigo quando eles choram”.

Fazer o bem é mais do que uma demonstração de humanidade é um privilégio daqueles que são nobres de coração e alma. O meu desejo - não só para este fim de ano - é que o amor flua do seu interior e que você sempre tenha um ombro para oferece aos seus amigos quando eles precisarem de um.