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Alaerte Vidali: o “garotinho” do futebol



Alaerte Vidali: o “garotinho” do futebol

A boa fase do FFC – Fernandópolis Futebol Clube – despertou os apaixonados por futebol, incluindo os desta e de outras gerações. Para os novos, pode se tratar de um nome desconhecido, mas para quem viveu o futebol nas décadas de 70, 80 e 90 é sabido que não pouco poderia se escrever sobre a história do esporte na cidade sem citar um de seus principais ícones: Alaerte Vidali. O narrador esportivo foi o responsável pela maioria das transmissões de futebol desde a época de ABE - Associação Bancária de Esportes – que anos depois se tornara Fernandópolis Futebol Clube. Alaerte é o autor de bordões que se eternizaram na linguagem esportiva, como a “boneca da festa”, apelido que deu à bola, “mete a bola na sacola”, quando era marcado um gol e o mais tradicional “garotinho”. Em seus 54 anos de rádio, muita história para contar, muitos casos que só os mais íntimos sabiam e, que agora, todos terão acesso.

 

Como foi a trajetória de Alaerte Vidali até o seu primeiro emprego no rádio?

Sempre gostei de futebol, sou palmeirense, e eu tinha mania de escutar os jogos de futebol e ficar narrando junto a um amigo meu que já faleceu, Jonas Marin, que trabalhava no Banespa. Certo dia, Edson Ribeiro, chamou o Jonas para fazer um teste no estádio, narrando, e o Jonas me chamou para ir junto, e eu fui. À época, o português do Jonas era muito melhor do que o meu, só que eu tinha mais pique do que ele. Então, ele narrava e quando faltava cinco minutos para acabar o jogo ele deixava eu narrar. Acabava o primeiro tempo, ele voltava e quando faltava cinco minutos para acabar ele deixava eu narrar, até que um dia o Moacir Ribeiro Filho, começou a pegar no pé dele dizendo que eu é que deveria transmitir os jogos e foi aí que tudo começou.

Em quem o senhor se inspirou no começo da carreira?

Eu gostava muito do Pedro Luiz, mas nunca tive categoria para imitá-lo. Também tinha o Edson Leite, que também era da Bandeirantes, naquela época a rádio Band tinha uma equipe fantástica e comandava as transmissões esportivas.

O senhor indicaria essa profissão para os seus filhos?

Não. Trabalhei com pessoas que em termos de profissionalismo, não tinham iguais, mas para engolir, era quase impossível. Então eu não indicaria essa vida, de forma alguma, para os meus filhos. Minha filha caçula trabalha no Banco do Brasil, a mais velha é professora. Tenho outra menina que tem síndrome de Down e não consegue trabalhar e tem também meu menino, que  trabalha desde os 18 anos na Embratel.

O senhor ainda tem algum sonho em relação ao rádio?

Ah, eu já aprontei muito. Acho que tudo que sonhava já alcancei.

Desta nova safra de jornalistas esportivos e narradores, quem o senhor destaca como melhor e por quê?

O José Silvério é um mito que temos que respeitar e ele já está radiando na marra, pois quando ele saiu da Jovem Pan, ele não queria narrar mais, mas teve que ir. Hoje em dia já não há renovação nesta área. Basta pegar Fernandópolis de base. Aqui nós temos o Ivan Gomes e o Natanael Coelho, Toninho e o Fredy Jorge e isso já faz tempo. Se for falar de uma safra mais nova o último que lembro no Brasil é o Eder Luiz.

Como o senhor cria seus bordões?

Eu falo ‘garotinho’, ‘a boneca da festa’, ‘mete bola na sacola’, mas todos eles saem na hora. Eu nunca parei para criar alguma coisa, sai na hora e acaba pegando. A que mais marcou, eu acho, é ‘a boneca da festa’. O ‘garotinho’ também pegou, mas eu não trato nem como bordão e sim como uma mania mesmo de falar. Se eu conversar com você o dia inteiro, eu não vou te chamar pelo nome, vou te chamar de garotinho, é um vicio. Mulher eu tenho mania de chamar de amor ou anjo. Esses tempos atrás eu liguei num call center e a moça me pediu pra repetir o que tinha falado, aí eu perguntei para ela o que ela queria que eu repetisse e ela disse que estava muito feliz por alguém estar a chamando de amor aquela hora da manhã (risos). Outro dia quase que a mesma situação, só que toda a hora a moça do outro lado do telefone ficava falando que se chamava Tereza, passava mais um pouco e ela dizia: meu nome é Tereza, aí eu perguntei para ela porque que toda hora ela estava falando o nome dela e ela me respondeu dizendo que era porque eu chamava ela de amor e de anjo toda hora e não tinha dito o nome dela (risos).

O senhor acabou de declarar que é palmeirense. O que pensa de seus colegas jornalistas e narradores que escondem seus times?

Eu acho um erro, não sei. Mas alguns deles acham que pega mal, não sei. Sempre tive uma característica, sempre narrei gols do FFC e do adversário com a mesma intensidade. Até um dia, na segunda-feira, lembro que um torcedor cansou de me xingar porque ele pensou que eu estava narrando o gol do FFC e ele estava comemorando. Como disse, eu sou palmeirense e já narrei jogos do Palmeiras contra o Corinthians, Palmeiras X São Paulo e mesmo sendo torcedor, sempre gritei na mesma intensidade.

Qual foi a melhor partida de futebol do FFC que o senhor já transmitiu?

Teve uma partida que nós estávamos numa série de decisões com o Oeste de Itápolis e no jogo decisivo, todos já davam o Oeste de Itápolis como campeão, a torcida já estava saindo do estádio e o Fernandópolis marcou um gol. Foi uma coisa inesquecível. Fora este, sem dúvida, já narrei outros bons jogos.

Mais recentemente o senhor voltou temporariamente aos microfones para narrar o jogo de São Bernardo e este jogo lhe reservou uma verdadeira aventura, com acidentes na estrada, congestionamento, chuva. Como foi isso para o senhor?

Nunca tinha acontecido isso comigo. Quando nós íamos radiar na sexta-feira, por exemplo, nós viajávamos na quinta-feira. Nesse caso não, viajamos no mesmo dia do jogo e ainda acabou acontecendo tudo isso. Foi a primeira vez em todos esses anos de rádio que eu cheguei atrasado numa transmissão. O curioso desta partida também foi que que chegamos e estávamos montando o equipamento, saiu o gol do São Bernardo. Alguns minutos depois, quando abrimos a transmissão, o FFC empatou. Agora o duro foi em Guaratingueta, que saíram sete gols e eu estava com uma ferida na boca e narrar sete gols não foi fácil. Mas eu gostei, pois fazia uns três quatro anos que eu não pegava um microfone.

O senhor pensa em voltar a narrar?

Eu tenho um problema de saúde muito sério. Quando a doença ataca eu fico uns cinco seis meses sem poder falar com ninguém. Mas, se eu estiver com saúde e for convidado eu narro sim com o maior prazer.