Geral

Alaor aceita a demissão da filha, mas quer isonomia



Alaor aceita a demissão da filha, mas quer isonomia
Quando todos esperavam um Alaor Pereira Marques vociferando na tribuna da Câmara contra a exoneração de sua filha Geiza do serviço público, feita na segunda-feira pela prefeita Ana Bim, ele surpreendeu pela serenidade. Mas deixou claro que, se não houver isonomia – leia-se o afastamento dos funcionários que se enquadram na condição de beneficiários do nepotismo – ele vai à barra dos tribunais. A próxima semana promete sérios desdobramentos no caso.

CIDADÃO: Há algum tempo, você apresentou um projeto de lei pedindo o fim do nepotismo no município de Fernandópolis. A Câmara rejeitou por maioria de voto esse projeto. Nesta semana circulou a notícia da exoneração da sua filha Geiza, que era funcionária há anos do setor de Educação da prefeitura. A que você atribui essa exoneração, visto que não houve justa causa?
ALAOR: Quero primeiramente dizer que a minha filha entrou na prefeitura na época do prefeito Newton Camargo, a convite dele e do doutor Ricardo Franco, que na oportunidade era diretor de Planejamento da prefeitura, e que eu não era vereador naquela ocasião. Eu era simplesmente um radialista. Ela foi convidada por méritos dela. Eu realmente elaborei o projeto antinepotismo porque evidentemente nós temos que moralizar a cidade que amamos. Infelizmente, a Câmara o rejeitou. Quando eu vi que a minha filha ligou dizendo que a prefeita a havia exonerado do cargo que ela ocupava há mais de oito anos, eu fiquei muito feliz de saber que, apesar da Câmara ter rejeitado o projeto, ela, a prefeita, o está encampando, ou seja, foi a minha filha, amanhã tem que ser a mulher do Warley, depois a mulher do Ademir de Almeida, depois a mulher do Milton Bortoleto, depois os parentes de todos eles e, é lógico, os parentes da própria prefeita municipal. Eu fiquei sabendo que ela aderiu ao meu projeto, então eu fiquei muito feliz – o que a Câmara não fez, ela está fazendo de livre e espontânea vontade.

CIDADÃO: Por que a prefeita não começou então pelos parentes dela?
ALAOR: É questão da caneta, a caneta poderosa está na mão dela, ela achou por bem começar pela minha filha, porque eu sou um vereador combativo, que fiscaliza, sou um espinho às vezes, no calcanhar dela.

CIDADÃO: Quanto à rejeição do seu projeto contra o nepotismo, você acha que houve uma manobra - até pelo fato da vereadora Maiza Rio não estar na cidade naquele dia, e o vereador Baroni assumir a presidência no lugar do Ademir, que raramente vai à tribuna?
ALAOR: Sim, houve toda uma estratégia, eu acredito que foi montado porque nós tivemos somente meu voto, o voto do doutor Francisco e o voto do doutor José Carlos Zambon. Mas o que me surpreendeu foi o Manoel Sobrinho Neto Junior e o Pedro Ribeiro de Toledo votarem contra o projeto. Que eu saiba, eles não têm parentes na prefeitura. Os demais, como têm parentes, eu acho que votaram para protegê-los.

CIDADÃO: A administração a ferro e fogo que a prefeita Ana Bim vem adotando não provoca situações até constrangedoras, como o caso em que o vereador Étore Baroni declarou publicamente que tem medo da prefeita, na qualidade de funcionário público? Você acha que um prefeito deve administrar sob a égide do terror, da intimidação?
ALAOR: Não é só o vereador Baroni que é funcionário da prefeita e que tem medo dela não. Os funcionários já me confessaram que têm medo da prefeita. Eu acho que nenhum funcionário pode trabalhar sob pressão e com o medo do seu patrão. Tem que trabalhar com amor, carinho, o respeito tem que ser mútuo entre patrão e empregado. O Baroni declarou também que jamais ele poderia votar contra a patroa dele. Nós não sabemos se por medo ou se para prevenir, preservar seu emprego.

CIDADÃO: Em relação à demissão da Geiza: não é um tiro no pé que a prefeita está dando? Ela demite a filha de um vereador que é conhecido, um radialista famoso, uma pessoa que tem capacidade de mexer com a opinião pública. Não é inabilidade política da prefeita?
ALAOR: Se ela não demitir os outros e mantiver só a exoneração da minha filha eu concordarei com sua opinião, aí sim será burrice. Mas eu acredito que isso não vá acontecer. Acho que ela vai exonerar todos os parentes dela e também de todos os vereadores, inclusive quando ela retornava de viagem no dia em que o Rui Okuma morreu, no caminho ela exonerou o marido, que era diretor de Saúde do município, mostrando ali que ela era contra o nepotismo, que não queria nenhum tipo de grau de parentesco na administração. Foi seu primeiro ato, ela declarou isso para a imprensa, mas agora nós também vimos que ele não sai da prefeitura. Não sei se ele tem alguma remuneração ou não tem, se seria um voluntário da paz para a cidade.

CIDADÃO: E se ela não tomar essas medidas?
ALAOR: Vamos esperar passar a Semana Santa. Se ela não exonerar nenhum outro funcionário que tem grau de parentesco com vereadores ou com ela própria, nós vamos buscar um remédio jurídico junto com o Ministério Público, e também já estamos sabendo que tem um burburinho na cidade a respeito de uma blindagem para com a prefeita e para com a mulher dos vereadores, mas isso nós vamos falar no momento exato.

CIDADÃO: É notório que você e o vereador Francisco Albuquerque fazem oposição à prefeita, porém, se analisarmos o índice de aprovação de projetos do Executivo, veremos que é o maior da região. A prefeita está podendo administrar, do ponto de vista político. A Câmara tem atendido às suas reivindicações, seus pedidos ao Legislativo. Por que então essa atitude?
ALAOR: Temos que separar o que é oposição e o que é crítica. A Câmara de Fernandópolis não tem nenhum vereador de oposição. Oposição é aquela que segura o projeto e não vota, o que nós fazemos são criticas que recebemos da população. O povo pede para nós, nós cobramos a prefeita. Oposição era naquela época em que os prefeitos colocavam as máquinas na praça, aquilo sim era oposição. Hoje não tem oposição, nós aprovamos projetos com dispensa de formalidades. Foram 100% de projetos aprovados. Se você negar nas atas das sessões ordinárias, você pode ler e ver que não está registrado qualquer voto meu ou do Francisco contrários aos projetos da prefeita. Projetos volumosos, de R$ 600 mil ou R$ 1 milhão, não temos oposição. Temos o fator crítico quanto ao jeito dela administrar a cidade e lidar com os funcionários. Ela tem que ter mais respeito com o funcionário público.

CIDADÃO: Como ficará daqui para frente seu relacionamento com a prefeita, na hipótese das exonerações se restringirem à Geiza?
ALAOR: Vou entrar com um pedido no Ministério Público pra tomar providências. Todos os Ministérios Públicos do estado de São Paulo que foram provocados tomaram providências. Acredito que o MP de Fernandópolis não vai deixar também de receber a minha representação.

CIDADÃO: Politicamente, você sairia da posição de crítico para adotar uma postura de oposicionista?
ALAOR: Não tem como fazer oposição na Câmara Municipal de Fernandópolis. Ela está blindada, não adianta você votar contra um projeto porque mandou a filha embora. Pelo contrário. É mais fácil colocar as minhas palavras para o povo realmente saber que ela está fazendo uma péssima administração e como eu disse na sessão passada que o dinheiro público está sendo uma farra, vistos os R$ 600 mil que foram gastos com propaganda numa empresa de São José do Rio Preto e também deixar faltar leite nos postinhos para crianças menos favorecidas. Enquanto faz um mau gasto de um lado, deixa faltar remédio nos postinhos, leite e fazendo inaugurações de pinturas de reformas.

CIDADÃO: E a verba da Santa Casa? Você apresentou projeto no ano passado que foi aprovado. Essa cotação de verba seria de R$ 1,1 milhão e o Executivo mandou 773 mil...
ALAOR: Ela mandou na lei de diretrizes orçamentárias o valor de 800 mil, que nós elevamos para R$ 1,1 milhão, tirando das diretorias menos importantes da prefeitura e colocamos ali. Se nós temos que fazer uma aplicação de 25% na Saúde, acho que a AVCC recebendo R$ 400 mil e a Santa Casa R$ 1,1 milhão já se teria dado um bom avanço para atingir o índice de 25% na saúde publica. Ela fez uma conta de um real e qualquer coisa por habitante e mandou esse projeto, mas o modo como esse projeto chegou aqui na Câmara é muito velho é conhecido. É a navalha na mão de macaco. Ela deixa de repassar três meses, o que acontece? Você ficar sem receber por três meses.

CIDADÃO: O Francisco Albuquerque é médico e vereador, é colega dos médicos que não estão recebendo. Ele não foi pressionado?
ALAOR: Agora que os médicos estão reclamando ela, a prefeita, manda (o projeto) faltando quase 400 mil reais. Aí os médicos correm na prefeitura e ela fala que o projeto está na Câmara. Só que o projeto chegou à Câmara somente no dia 4 de março, e foi aprovado no dia 14.