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Alguém com o dom de dar sem querer receber



Alguém com o dom de dar sem querer receber
Estender as mãos a quem está começando a vida é uma atitude nobre, mas poucos descruzam os braços para ajudar ao próximo. Ceder, renunciar, doar, ajudar, dar sem ter nada a receber, há tempos deixou de fazer parte do vocabulário de muitos.

Contudo, no mundo ainda existem pessoas especiais – comissionadas por Deus – para ajudar aos menos favorecidos. Tal qual anjos disfarçados de gente, que vez ou outra descem do céu para suavizar a dor dos oprimidos.

Um desses anjos certo dia “pousou” na Comunidade das Famílias São Pedro (Cofasp), no Jardim Araguaia, para devolver a vida e alegria a crianças que, até então, tinham dificuldade para entender o amor, a amizade, o carinho e a bondade sem a espera de reciprocidade.

A partir de então, quem não tinha pai, ganhou um; quem não tinha um amigo, deixou de ser sozinho. Quem achava que não tinha utilidade para nada, ganhou uma flauta e um maestro de primeira: Luís Fernando Paina.

Há dois anos ele apareceu na entidade, segundo Mônica Sartore Tavares, professora e coordenadora da Cofasp, para conhecer o trabalho e acabou se apaixonando e decidindo implantar um projeto. No início, começou ensinando os alunos a tocar flauta doce. Ao ver o potencial de cada uma, teve a iniciativa de levá-las para Orquestra de Fernandópolis.

Sem ter como transportar as crianças para os ensaios, por falta de veículo na comunidade, Fernando se dispôs a vir buscá-las com seu próprio carro, gratuitamente, duas vezes por semana.

“O Fernando é para nós mais que um amigo. Ele veio aqui para conhecer o trabalho e acabou se apaixonando. Ele é uma pessoa de coração imenso, as crianças o adoram. As entidades de um modo geral são muito carentes de voluntários e hoje está muito difícil conseguir um. Quando o Fernando começou o projeto era aqui mesmo na Cofasp. No decorrer do contato, ele foi observando que eles tinham dom para a música e teve a idéia de levá-los para tocar na orquestra de Fernandópolis. Eu disse que não tínhamos condução para transportar as crianças, mas ele prontamente me disse: “isso não é problema, eu venho buscá-los”. Às vezes a gente dá uma gratificação simbólica para ele, mas nada pagaria o que ele tem feito por essas crianças. Não tem ninguém como ele”, elogiou Mônica.

Há dois anos, faça chuva ou sol, ele busca a criançada na Cofasp e leva até a sede da orquestra, que fica no estádio municipal. Ao todo são 18 alunos que se dividem em dois períodos, dez de manhã e oito à tarde.

Para conseguir transportá-los são necessárias duas viagens. Quando chega o dia eles aguardam ansiosos. Basta a Parati Preta, quatro portas, encostar e a professora grita: “O Fernando chegou, onde está a turma da primeira viagem?”. Em poucos segundos eles se ajeitam e partem satisfeitos. De volta ao Jardim Araguaia, Fernando dá uma buzinada, e lá se vai a “turma da segunda viagem”.

Às vezes, mesmo doente ele vai ao encontro das crianças, como aconteceu no último dia 28 de novembro, quando a reportagem do CIDADÃO decidiu investigar uma “denúncia” anônima de um morador do bairro que relatava o empenho do maestro.

Este não é o único projeto voluntário que Fernando desenvolve na cidade. Há também o trabalho com os alunos da APAE, dos “Os Sonhadores” e das “100 flautas” - em parceria com a Diretoria de Ensino. Luís Fernando Paina realmente é alguém – que como as demais pessoas focalizadas neste caderno – tem “mania do bem”.


HOMENAGEM
QUERO SER COMO ELE QUANDO EU CRESCER
“O Fernando é uma pessoa sincera é um cara muito legal, bacana. Ele está nos ensinando em uma etapa muito importante de nossas vidas. Ele é como um pai, é muito atencioso, inteligente. Eu gostaria de ser como ele quando eu crescer”. Abner das Chagas Oliveira, 14, aluno da Cofasp.

UM ANJO QUE CHEGOU PARA MUDAR NOSSAS VIDAS
“O Fernando ensinou um novo caminho para gente, que foi o da música. E a música mudou bastante a minha vida. Antes eu era muito impaciente, através da música eu fiquei mais calma. Aprendi a apreciar músicas de todos os gêneros, desde contemporâneas até outras. Minha mãe não via a hora de ver minha primeira apresentação, ela até comprou roupa nova para eu me apresentar. O Fernando é um anjo que chegou para mudar a vida de todo mundo”. Suélen Cristina de Souza Silva, 14, aluna da Cofasp.

ENSINA COM AMOR, SEM QUERER NADA EM TROCA
“Eu acho o Fernando uma pessoa de caráter, que tem bons sentimentos e uma pessoa boa para todos. É difícil encontrar pessoas com ele. O Fernando nos ensina com amor e não pensando em ganhar algo em troca. É difícil ver isso hoje em dia”. Lariane Fernanda dos Santos, 12, aluna da Cofasp

UM SEGUNDO PAI
“Se não fosse o Fernando na nossa vida eu não o que seria de nós, eu tenho ele como um segundo pai, pois ele faz as coisas com o coração. Ele pensa no nosso futuro. Eu acho que ele pensa que a gente pode ser uma continuação dele no futuro. E isso é muito bom” Bruna Aparecida Farias, 13, alunas da Cofasp.

NÃO É QUALQUER PESSOA QUE FAZ O QUE ELE FAZ
“O Fernando é um anjo na nossa vida. O que ele faz pela gente é lindo e não é qualquer pessoa que faz isso, só ele mesmo. Por isso nós gostamos tanto dele, é como um pai para gente”. Lalesca Conceição de Paula, 12, aluna da Cofasp.

UMA PESSOA CATIVANTE
“Trabalhar com Fernando é algo muito especial porque ele é uma pessoa cativante não mede esforços para fazer o melhor e nunca quer nada em troca. A gente acaba se cativando pelos trabalhos sociais por influencia dele. Hoje eu estou trabalhando na orquestra mais por gosto do que por remuneração. E ver aquelas criancinhas que sofreram abuso sexual ou que são rejeitadas pelos pais tocando com alegria nos emociona muito. E isso é o que o Fernando nos ensinou a fazer, a dar o melhor a estas crianças carentes. Não tenho palavras para falar do Fernando, ele é um grande companheiro, sempre quando a gente precisa dele ele está a disposição. A gente costuma dizer que a orquestra é a segunda casa dele, porque ele está aqui de segunda a domingo. Quando não tem nada para fazer ele marca um ensaio e a gente vem tocar. Por tudo isso ele merece essa homenagem, porque ele realmente tem mania de fazer o bem”. Raphael Martins, 20, Maestro assistente e educador musical da Orquestra de Fernandópolis.

ELE ACREDITA NAS PESSOAS MAIS DO QUE ELAS MESMAS
“O Fernando é uma pessoa muito importante para mim, pois antes de entrar para a orquestra eu tocava na noite e isso não estava dando muito certo, dava muita dor de cabeça. Depois que eu entrei para a orquestra e passei a ouvir os conselhos do Fernando minha vida mudou, tudo deu certo para mim este ano. Ele acreditou em mim quando nem eu mesmo acreditava. O Fernando deposita uma confiança tão grande que nem você acredita que pode ser tudo aquilo que ele diz. E foi o que aconteceu comigo neste ano. As conquistas que eu tive nesse ano todas têm a mão dele. Ele realmente é uma pessoa maravilhosa”. Renato Márcio, 25, professor de trombone e educador musical da Orquestra de Fernandópolis.

TUDO O QUE SOMOS VEM DELE
“O Fernando surgiu como um professor, depois virou amigo e hoje ele é um irmão. Tudo o que a gente tem na orquestra e graças ao empenho dele. Tudo o que a gente precisa ele ajuda, seja no pessoal, na banda, ele está sempre disposto a ajudar. A minha família faz questão de me ver na orquestra, pois sabe que se eu estiver aqui não me envolverei com coisas negativas. A amizade e o bom relacionamento que mantemos aqui, bem como tudo que somos hoje, vem do Fernando. Nós o amamos”. Daiane Rilko Casale, 19, professora de clarinete e educadora musical da Orquestra de Fernandópolis.