Artigos

Amanhã é o Dia do Citricultor e...



Amanhã é o Dia do Citricultor e...
 Tendo em vista a grande crise que atinge o setor, especificamente, os pequenos e médios produtores de laranja, o Observatório traz uma entrevista com o engenheiro agrônomo Marcos Mazeti, presidente do Sindicato Rural e representante de Fernandópolis na FAESP - Federação da Agricultura do Estado de São Paulo. Ele comenta as principais causas da crise do setor que vem esmagando os citricultores que pouco tem a comemorar na data de amanhã, Dia do Citricultor. Mazeti ressalta ainda que os produtores não devem desfazer de suas terras.

A que se deve esta crise no setor da citricultura?

Deve-se a fusão das indústrias processadoras que passaram a produzir sua matéria-prima (cerca de 70%). Paralelo a isso, o produtor investiu em irrigação, equipamentos, maquinários, mão de obra, e nesses dois anos trabalhou no prejuízo.

Fernandópolis está sendo atingida diretamente com a crise no setor? Como analisa nossa situação?

O município de Fernandópolis tem um diferencial que é a diversificação da atividade rural. Temos cana, uma cultura que chegou com força nos últimos anos – hoje, a cana já ocupa entre 20 e 25% dos 55 mil hectares do município; a citricultura, que no nosso caso é mais voltada para o mercado. Aliás, Fernandópolis tem a laranja mais doce do Brasil. O clima quente favorece essa qualidade da laranja. Temos também a seringueira, a ovinocultura, o eucalipto, a pecuária leiteira. A cana, por exemplo, entrou mesmo foi nas grandes propriedades, onde normalmente se dava a pecuária de corte. Ela ainda não afetou a citricultura pela força e amor que os nossos produtores tem na fruta.

Qual a participação do Sindicato Rural de Fernandópolis na luta contra esta crise?

O SIRF - Sindicato Rural de Fernandópolis tem participado da comissão especial da citricultura da FAESP - Federação da Agricultura do Estado de São Paulo e um dos assuntos mais discutidos neste período de um ano para cá é a questão da formação do Concecitrus - Conselho dos Produtores de Laranja e das Indústrias de Suco de Laranja.

A principal briga do Sindicato é pela renda dos produtores?

Sem dúvida. Cuidamos da parte social como a geração de empregos, condições de trabalho, a parte ambiental, mas para ser sustentável tem que garantir a renda do produtor rural. É duro ver os pequenos chorando por não saber mais o que fazer por ter assumido dívidas de financiamentos e não ter tido retorno. O preço da caixa de laranja (40,8kg) melhorou, mas continua ruim. Atualmente o preço mínimo é de R$11,45. Como o produtor mantém o pomar dele? Ainda mais com esta incidência de doenças do cancro cítrico e do grenning que arrasam os pomares.

Você citou que o preço mínimo estipulado pelo governo, de R$11,45 não cobre os custos de produção. Qual seria o valor ideal para a caixa de laranja de 40kg?

Teria de ser algo em torno de R$15.

Em suma, a crise não se deve a queda de mercado, mas sim a formação de cartel?

Sim. A principal causa é a formação de cartel das indústrias que se uniram e fazem a sua própria estratégia de mercado que favorece apenas a si e os grandes produtores ligados a eles. Essa concentração desvaloriza o preço da laranja. Não é por queda de mercado ou queda na procura por suco de laranja e sim pela estratégia deles que prejudica o pequeno e médio produtor.

Em meio a todo este cenário negativo, existe uma notícia boa para os nossos citricultores?

A boa notícia que tenho é que o a emenda da renegociação das dívidas dos citricultores foi aprovada pela Câmara no último dia 21 e já está no Senado para ser aprovada, após isso irá à sanção e os bancos prorrogarão para 15 de fevereiro de 2015 os vencimentos de parcelas vencidas provenientes de operações contratadas por produtores e suas cooperativas. Outra boa notícia é o fato de lembrar que nossa laranja é a melhor do Estado de São Paulo. Nossa fruta é procurada por grandes centros de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina.

Agora, da parte dos produtores, o que pode ser feito para resolver ou amenizar o problema?

É preciso uma maior união da classe. É preciso que se filiem aos seus sindicatos e fortaleçam a nossa voz que clama pela valorização do homem do campo. Precisamos dar as mãos uns aos outros e esta união tem que partir de todos que vivem da agricultura, não só dos citricultores, porque hoje a crise é da laranja, mas amanhã pode ser da cana, da seringueira... Precisamos fazer com que as autoridades saibam o que estamos passando para que desenvolvam políticas que nos atinjam positivamente.

Há quanto tempo vem ocorrendo a crise no setor cítrico?

Já oscilou muito entre bons e maus períodos, mas de uns três anos para cá vem judiando muito do citricultor.

A citricultura já foi considerada o orgulho da economia nacional. Você ainda enxerga dessa maneira?

Ainda é um orgulho para a economia sim, mas o poder está concentrado na mão de poucos. O nosso suco é conhecido em todo o mundo. E nós, da região noroeste paulista temos a melhor laranja do Estado, porém estamos passando por esta crise no setor. É um reconhecimento muito grande, mas o pequeno e o médio produtor não estão satisfeitos como deveriam estar.

O que o presidente do Sindicato diria para aqueles produtores insatisfeitos que pensam em deixar a vida no campo?

Nós precisamos manter o homem do campo no campo. Quero dizer para que não vendam suas terras, que é o que eles têm de maior valor. Este bem está trocando de mãos. Nós sabemos das dificuldades, mas o homem do campo é quem sabe lidar com a terra porque ama aquilo que faz. Muitos me procuram e dizem que vão arrendar sua propriedade,  mas eu aconselho a não arrendar em sua totalidade. Se ele tem 100 alqueires e quer arrendar para plantação de cana, arrende apenas 50%, mas não abra mão da terra e invista na diversidade cultural.

Dá para se estimar quantos produtores já deixaram a citricultura e buscaram outras culturas de produção?

É difícil fazer o cálculo, mas aproximadamente de 30 a 40% do total já deixaram de produzir laranja em virtude da crise. Um bom exemplo é o número de produtores de laranja em todo o Estado de São Paulo que é de 11 mil produtores. Há 10 anos existiam mais de 20 mil.

Tendo em vista a crise da citricultura, qual seria a potência em nossa microrregião no que tange ao agronegócio?

Particularmente, acredito em todas as culturas desde que sejam feitas com planejamento. Mas o forte do agronegócio, principalmente em Fernandópolis é a agroindústria. Temos dois frigoríficos dentro de Fernandópolis, sendo quatro na microrregião, duas usinas de cana-de-açúcar, uma exportadora de levedura que leva nosso nome para todo o mundo, a Fazenda São Pedro que tira 15 mil litros de leite por dia, a maior produtora borracha e de mudas de seringueiras que fica em Brasitânia, duas faculdades com cursos de agronomia, engenharia ambiental e medicina veterinária, uma ETEC, uma regional da CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral uma base da Polícia Ambiental, revendas de tratores Massey Fergusson, Valtra Valmet e New Holland, a família Okuma que é uma dos maiores produtoras de laranja dentro do Ceasa de Campinas, dentre outros. Ou seja, muitos se esquecem da dimensão da nossa força na agroindústria. Os fernandopolenses precisam fazer uma reflexão da força deste seguimento.