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Ano de celebrações na Brasilândia



Ano de celebrações na Brasilândia

2018 é um ano especial para o bairro da Brasilândia. A Paróquia São Luiz Gonzaga criada em 1958 está celebrando 60 anos de instalação e em novembro, dia 10, o bairro vai comemorar 80 anos de fundação. No último sábado, durante a celebração da Festa do Motorista e do Padroeiro São Cristóvão, defronte a igreja São Luiz Gonzaga, o padre Luiz Carlos Marton, 64 anos, que completou no domingo 34 anos como sacerdote lembrou a importância da Brasilândia para Fernandópolis. “É o bairro mãe de todos os bairros de Fernandópolis. Foi aqui que foi celebrada a primeira missa em Fernandópolis. A nossa paróquia está completando 60 anos e o bairro 80”, destacou. Esta semana, o padre recebeu CIDADÃO para esta entrevista. Marton iniciou o sacerdócio em 1984, em um momento histórico para a igreja. “Foi quando houve a troca dos padres holandeses assuncionistas e assumiram os padres diocesanos. Eu, ainda diácono, o padre Lourenço e o padre Sardinha assumimos a Paróquia Santa Rita”, recordou. O padre fala da descoberta de um tesouro no interior da Igreja da Brasilândia, cujo prédio em estilo gótico, foi construído e inaugurado em 1944, portanto há 74 anos. “Na reforma que fizemos há dois anos encontramos o cruzeiro da primeira missa em Fernandópolis guardado dentro 

da sacristia. É uma relíquia. Está lá com a data da missa entalhado na madeira”. Veja a entrevista:

O senhor iniciou seu sacerdócio em Fernandópolis?
Iniciei em 1984 quando houve a mudança dos padres holandeses para os padres diocesanos. Na época, ainda era diácono, vim para cá com os padres Lourenço e Sardinha. Nós três assumimos a paróquia Santa Rita com esta mudança histórica dos padres holandeses assuncionistas que entregaram a paróquia de Fernandópolis para a Diocese que assumiu. São 34 anos de sacerdócio que completei no domingo passado, dia 29. 
O senhor completará quatro anos à frente da Paróquia São Luiz Gonzaga da Brasilândia que está completando 60 anos de criação. Como é esse momento?
É bonito ver que, o que vale são as pessoas, a comunidade de fato. Temos  que ter esse cuidado de olhar onde estamos, olhar para aquele povo, perceber como é a vida deles naquela comunidade, a realidade e se encarnar ali, vamos dizer assim, usando esse termo. É aprender a caminhar com eles, porque é você quem chega para trabalhar. Esse cuidado eu aprendi desde que comecei a ser padre, ver as pessoas, conhecer o jeito do lugar, respeitar o lugar e se colocar no meio deles. Foi o que eu fiz. Valores todas as comunidades têm e a Brasilândia não é diferente. Falar que não tem, a gente está pecando. Então é um lugar que tem valores que as vezes muita gente não enxerga. São pessoas boas, que trabalham, que dedicam e que valorizam a comunidade que é simples, humilde. Eu gosto muito desse jeito.
A Paróquia São Luiz Gonzaga é uma das mais antigas da Diocese e traz em si uma história muita rica. Recentemente vocês encontraram dentro da igreja o “cruzeiro” da primeira missa celebrada em Fernandópolis...
Nós temos uma relíquia, um documento. Aquele cruzeiro é um documento e não podemos ignorar. É um cruzeiro que marcou o início não só da Brasilândia, mas de Fernandópolis, que estava lá, esquecido, escondido. Depois da reforma que fizemos lá há dois anos, é que descobrimos esse cruzeiro da celebração da primeira missa pelo padre Izidoro Cordeiro Paranhos, que era o padre sempre convidado para celebrar missas das fundações dos municípios. Esse cruzeiro está lá na Sacristia, onde foi guardado certamente para ser preservado e traz a data da primeira missa entalhada na madeira. Esse ano vai completar 80 anos da missa de fundação da Brasilândia. Essa, podemos dizer, foi a primeira missa celebrada em Fernandópolis e não apenas na Brasilândia.
A Igreja, da década de 40, também tem um valor histórico?
A Igreja tem o estilo gótico, da época. É uma igreja bonita e que hoje em dia não se constrói mais. Ela não é grande mas tem esse estilo, que de fato deveria ser um dos cartões postais da cidade. Não tem luxo, mas tem estilo que a gente procura cuidar. Na reforma tivemos o cuidado de até os vitrais não serem diferentes daquilo que já é dela. Então, a arquitetura marca uma época. A Igreja São Luiz Gonzaga é uma igreja especial. 
Outra relíquia da igreja é o relógio da torre que por muitos anos, a badalada podia ser ouvida de vários pontos da cidade. Existe ideia de colocar esse relógio para funcionar?
É um assunto que a gente não pegou firme ainda. Por outro lado, tem a questão de conseguir pessoa que se possa confiar que vai fazer um serviço que vai dar certo. Na maioria dos relógios de igreja, as pessoas que faziam o trabalho de manutenção e recuperação, quase não existem mais. Precisa pesquisar bem para quem vai se entregar o serviço de recuperação. Já apareceu alguém se oferecendo para consertar, mas ficamos com um pé atrás. Será que vai se fazer um serviço bem feito para depois não parar, porque se não funciona direito, as pessoas cobram da gente. Temos que ter cuidado. Por enquanto a gente não escuta muita cobrança. Alguns dizem que é bom que fique parado, porque o barulho das badaladas de hora em hora vai atrapalhar o sono das pessoas. Acho importante ter o relógio funcionando. Hoje em dia tem jeito de regular o equipamento para que as badaladas não ocorram a partir de um horário à noite, até amanhecer o dia. Na Catedral de Votuporanga, 10 horas da noite, por exemplo, é a última vez que ele bate e vai retomar no outro dia às 7 horas. Então, tem meios de evitar que o relógio incomode as pessoas. 
Como foi sua caminhada nestes 34 anos?
Nesses 34 anos de padre passamos por várias cidades, comecei aqui em 1984, fiquei três anos, depois trabalhei em Macedônia, Mira Estrela, Cardoso, Jales, Sud Menucci, Meridiano, Estrela d´Oeste, voltei para Meridiano e em seguida para Cardoso. Hoje estou aqui na Brasilândia.
Muito se fala que a integração da Brasilândia com a Vila Pereira não chegou a ser efetiva. Ainda se nota resquício disso?
Brasilândia tem uma história que a gente escuta falar sobre o comportamento de quem era da Brasilândia e quem era do centro. Resquícios ainda existem. A gente percebe que a Brasilândia, não sei se estou certo em dizer isso, mas ela tem que ser olhada com mais carinho por toda a cidade, pelo que ela significa como história. Falta esse lado. Não diria abandono, mas um pouco de esquecimento, de valorizar mais a Brasilândia que é um bairro onde começou toda a história. É o bairro mãe de todos os lugares, do centro, dos bairros. A Brasilândia tem as raízes do município de Fernandópolis. Esse olhar merece ser feito, não apenas da minha parte, mas da população, das autoridades, porque é um bairro que tem uma importância histórica. Não podemos cometer esse pecado de não ter esse olhar. A nossa praça, onde está a igreja, é grande, doada pela família Barozzi. Naquela época, a fé chegava junto com os desbravadores. A família italiana, era católica e havia a preocupação de reservar a área para a igreja, para a praça e foi isso que fizeram, doando para a Igreja. Apesar da área ser da Igreja é um espaço público. É claro que qualquer intervenção precisa da autorização da Diocese. Agora mesmo estamos esperando colocar na praça a academia a céu aberto, que já foi autorizada pelo bispo e até agora não foi instalada. O pessoal está cobrando os aparelhos para fazer ginástica. 
Nesse período como padre, o mundo se transformou radicalmente. Como era ser padre quando começou e como é agora?
Quando comecei a procura do padre era bem diferente do que é hoje. Você acompanhava situações diversas. As pessoas valorizavam, te ouviam. Antes tinha muito mais casamento, batizados. Hoje, muitos não estão mais a fim de escutar o que padre fala e mesmo em casa, não escutam o pai e a mãe. As confissões são muito poucas. E mesmo na Semana Santa durante o sacramento da confissão, diminuiu muito a procura. As pessoas estão procurando outros atendimentos, em consultórios psiquiátricos, de psicólogos. Naquele tempo quase não tinha isso e o padre era quem fazia esse papel. As mudanças foram muito rápidas e hoje não é tão fácil ser padre nesse mundo para quem começou há 34 anos. Vamos tentando acompanhar, na medida do possível, as mudanças.