Neste domingo, 25, quase uma centena de feirantes de Fernandópolis vão comemorar o Dia do Feirante (data em homenagem a primeira feira livre instalada em 25 de agosto de 1914) do jeito que mais gostam: trabalhando. E olha que a rotina dessa turma, homens e mulheres, é dura. Começa na chamada “boca da madrugada”, lá pelas duas horas da manhã, quando muita gente sai da balada e vai saborear um pastel quentinho na feira como manda a tradição. “É cansativo, mas eu gosto. Já trabalhei em diversos locais, já fui funcionário público, trabalhei em lojas, fui professor, trabalhei nos Correios. Larguei tudo e vim me encontrar como feirante e é o que pretendo continuar fazendo. Aqui sou feliz”, diz o presidente da Associação dos Feirantes, Cleber Eduardo Cestari, 36 anos. A Feira de Fernandópolis existe desde 1975 e nestes 44 anos sempre esteve sob gestão da prefeitura. Essa situação mudou em abril, quando o prefeito André Pessuto repassou a gestão para a associação. Desde então, muita coisa já mudou e, de acordo com Cleber, muita coisa ainda vai mudar. Afinal, a feira não é apenas um ponto tradicional de encontro dos fernandopolenses, mas uma fonte de renda para centenas de pessoas. Calcula-se entre 300 e 500 pessoas que trabalham na feira, direta ou indiretamente. E a fila para entrar na feira é gigante, cerca de 400 pessoas aguardam uma oportunidade, mas o espaço físico limita abertura para novos feirantes. A entrevista de hoje no CIDADÃO é com presidente da Associação dos Feirantes de Fernandópolis, Cleber Cestari. Veja:
Quando surgiu a Associação dos Feirantes de Fernandópolis e quando efetivamente começou a funcionar?
A surgiu de uma vontade que nós tínhamos em 2016, de nos organizarmos para deixar a feira mais bonita, mais acessível onde a população pudesse encontrar um local agradável, limpo e higiênico para comprar produtos de qualidade ou fazer refeições, sabendo que não haveria risco para sua saúde. Foi quando montamos a associação e no início não deu muito certo, porque não tínhamos poder para administrar a feira. A associação existia no papel, mas não tinha autonomia, já que a feira era vinculada à prefeitura a quem cabia decidir tudo sobre a feira. Veja que a feira existe desde 1975 e de lá pra cá existem vários decretos de regulamentação, desde horário de funcionamento, quem podia entrar, conduta dos feirantes, etc. Com o passar do tempo, a feira foi crescendo e sem uma gestão direta, começou a ficar meio que desorganizada, onde cada um achava que podia agir de uma forma. Então tinha feirante que achava que podia chegar a hora que queria, ir embora a hora que achasse conveniente, entrar com carro no espaço da feira. Isso causava muitos problemas. A gente notou também que o consumidor que vinha a feira para comprar seus produtos, gastar seu dinheiro, tinha dificuldade para estacionar nas imediações da feira, porque os feirantes que chegavam de madrugada ocupavam todos os lugares no entorno. Isso era um grande problema. Os próprios feirantes se auto sabotavam. Hoje, quem chega as feiras aos domingos, observa no perímetro que não tem um carro de feirante estacionado.
A partir de quando essa associação passou a funcionar e pôde então começar a organizar a feira?
Foi logo que o prefeito André Pessuto assumiu a prefeitura, conversamos e ele nos orientou a formalizar a associação e solicitar a gestão e organização da feira, para que não houvesse mais interferência política. Hoje a gestão da feira é da associação, temos total autonomia na organização e funcionamento das feiras em Fernandópolis.
Significa que uma pessoa que queira colocar seus produtos na feira passa agora pela associação e não pela prefeitura?
Isso. Para ele poder trabalhar na feira hoje, tem que fazer uma solicitação e entrar na lista de espera que tem em torno de 400 pessoas. Tem muita gente querendo trabalhar. O primeiro passo a partir do momento que assumimos a gestão da feira, foi realizar uma medição de todos os estandes, barracas dos feirantes, e fazer um projeto arquitetônico com engenheiro. Com isso demarcamos o espaço de cada um para ver se conseguiríamos abrir espaço para mais feirantes. Hoje acredito que, direta e indiretamente, de 300 a 500 pessoas trabalham na feira de domingo. São muitas as pessoas que dependem da feira para sobreviver. Nós já tinhamos a feira de quarta-feira, na praça do Corinto e de sexta na Avenida Líbero, ao lado do Quartel. Surgiu então a ideia de fazer uma nova feira noturna e decidimos lançar a ideia da feira às terças-feiras, ocupando o espaço coberto ao lado do mercadão. Deu muito certo para o feirante e repercutiu muito bem na população. Na feira de terça já temos 43 feirantes trabalhando. Não tem mais porque falta espaço físico nesta área coberta, onde tem iluminação e a gente conseguiu a liberação do banheiro do Mercado Municipal através de uma parceria com a Associação do Mercadão que é presidida pelo Bassan. Isso ajudou muito. Hoje a gente mantém uma pessoa para limpar os banheiros. Fechamos a área do mercadão com grade para que a pessoa que vai usar o banheiro não tenha acesso a essa área. Antes quem vinha à feira não tinha condição para usar o banheiro. Com a associação, resolvemos esse problema.
Qual a capacidade do espaço da feira aos domingos para acomodar feirantes?
Hoje nós temos 94 feirantes trabalhando na feira aos domingos. Temos 11 vagas que estamos terminando de ajustar os espaços para colocar mais feirantes que estão na lista de espera, sempre observando o critério de antiguidade. Creio que a partir de 20 de setembro a gente consiga dar andamento neste processo. Estamos terminando de reestruturar e organizar a feira que assumimos em abril passado. A prefeitura agora só tem a responsabilidade de fiscalizar, além do apoio que nos oferece, principalmente no sentido de limpar a área após cada feira realizada, deixando tudo limpo.
A gente nota que as feiras de terça, quarta e domingo, estão consolidadas. Nos demais dias, quais os planos?
Na quinta-feira, das 17 às 21 horas, tem a Feira do Produtor Rural na praça central da cidade que é organizada pelo Sindicato Rural e Senar. Essa feira é um evento fora da associação. A Associação tem as feiras na terça, quarta, sexta e domingo. A feira de sexta-feira, na calçada da Avenida Líbero de Almeida Silvares, ao lado do Quartel, tem poucos feirantes porque falta estrutura, iluminação e sanitário. Aquela feira acontece há uns 10 anos. Estamos avaliando trazer essa feira para o espaço coberto ao lado do Mercadão. Estamos trabalhando na ideia de que as feiras noturnas, das 17 às 21 horas aconteçam neste espaço do mercadão, que ficou bonito, uma reivindicação de muitos anos dos feirantes. Eu estou na feira há 19 anos e a gente ouvia em todas as eleições o pessoal batendo no peito que ia cobrir a feira. A gente tem que reconhecer que graças ao deputado Fausto Pinato e ao prefeito André Pessuto, finalmente conseguimos essa cobertura.
O que mudou na Feira a partir do momento que a Associação assumiu a gestão?
Hoje, o feirante está mais tranquilo. Ele chega 2 horas da manhã para começar a trabalhar, ele tem banheiro para poder usar. Antes tinha que esperar abertura do Mercadão. Conseguimos também junto a Secretaria de Trânsito o fechamento da Avenida Raul Gonçalves ao lado do antigo Tênis para que os feirantes possam deixar ali seus veículos. Colocamos um segurança para garantir o patrimônio do feirante. Já tivemos problemas de furtos e danos nos veículos. Esse problema foi resolvido e o entorno da feira ficou livre para a população que vai as compras. Temos também assessoria jurídica para nos ajudar. Isso tem um custo para o feirante, porque junto com a administração da feira vieram os bônus e os ônus. Mas dá muito mais tranquilidade para a gente trabalhar.
Onde a associação busca as receitas para manter esses serviços?
A associação vive exclusivamente de uma taxa mensal, algo entre 20 e 50 reais, que os feirantes pagam de acordo com o tamanho do espaço que ocupam, o que fica mais justo.
Como presidente da associação, já tem na mente o ideal de uma feira?
Sim, a padronização é o nosso objetivo a ser alcançado. Queremos todos os feirantes usando aventais, estejam uniformizados, uma feira as barracas identificadas, criando um espaço agradável, com atendimento de qualidade e conforto. Temos que fazer algo diferente, porque num primeiro momento a pessoa compra com os olhos, por isso tem que investir na aparência, depois vem o cheiro e na sequência o toque. Hoje temos barracas de todos os tipos e cores. A barraca onde vendemos pasteis tem a identificação, mas na maioria a pessoa não sabe nem o nome do feirante. É preciso que todos tenham essa identificação, para criar um espaço mais próximo entre o cliente e o feirante. Já criamos também nosso espaço no facebook, um meio de comunicação que tem nos ajudado muito. Ou seja, estamos fazendo propaganda do nosso negócio. Temos também um sonho de neste espaço da feira, à noite, de organizar um encontro de food truck para oferecer também uma gastronomia diferenciada. Está na nossa pauta.
Compensa ser feirante?
Compensa. É cansativo? É, mas eu gosto. Já trabalhei em diversos locais, já fui funcionário público, trabalhei em lojas, fui professor, trabalhei nos Correios. Larguei tudo e vim me encontrar como feirante e é o que pretendo continuar fazendo. Trabalhar na feira é gostoso porque você vê pessoas diferentes todos os dias que viram amigos.
Neste domingo, 25, é Dia do Feirante e a comemoração será trabalhando?
Sim, vamos comemorar trabalhando. E olha que bacana. No dia 7 de setembro, teremos o desfile de 7 de setembro e a Escola Maria Simão vai homenagear os feirantes. Eles vão contar a história da feira e nós feirantes vamos participar do desfile, será a primeira escola a desfilar.
Como é rotina de um feirante para vir à feira de domingo?
Eu, meu pai, minha família, a gente acorda à meia noite de sábado para domingo e começamos organizar as coisas em casa, colocamos os recheios dentro das caixas térmicas, tira os refrigerantes, carrega o carro, organiza tudo até lá pela 1h45. É hora de tomar um banho, colocar o uniforme e vir pra feira. Duas horas da manhã a gente chega e meia hora depois já começamos atender a turma que está saindo da balada e não dispensa o pastel. Graças a Deus, muita gente vem prá cá nesse horário porque sabe que estamos aqui. Em 19 anos, nunca perdemos um domingo de feira. E agora já temos a novidade do cartão de crédito. Temos que nos adequar a modernidade, né. Não dá para perder cliente.
Você é um feirante feliz?
Graças a Deus, muito feliz. Sou presidente da associação, não ganho nada para ocupar esse posto, temos muita dor de cabeça, porque são 94 feirantes hoje e cada um tem uma necessidade, cada um quer uma coisa e a gente tem que acomodar tudo para que o coletivo prevaleça. Isso é igual política, agrada uns, desagrada outros, não tem como agradar todos, então a gente tenta agradar a maior parte do pessoal que trabalha aqui. Não tomo decisão sozinho, somos uma associação e procuramos tomar as decisões em conjunto visando o bem comum.