Geral

Associação Anti-Alcoólica estende suas mãos a alcoólatras há 35 anos



Associação Anti-Alcoólica estende suas mãos a alcoólatras há 35 anos


Sábado, 20 horas. Prédio de n.º 1560 da rua Rio Grande do Sul, ao lado dos Correios, no centro de Fernandópolis. Em uma mesa no centro de um simples plenário denominado Jesus Alves Pereira, o “Zuza”, um senhor, Orlando Matheus, anfitrião daquela reunião, dá as boas vindas a todos os presentes.



“Boa noite a todos. A Associação Anti-Alcoólica é um local onde homens e mulheres trabalham estendendo suas mãos aos que hoje estão caídos, porque caídos já foram”, diz o integrante mais antigo da entidade, atual diretor de relações públicas da AAA.



A história da AAA de Fernandópolis



Projeto Rondon: O Projeto Rondon é um projeto de integração social coordenado pelo Ministério da Defesa e conta com a colaboração da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação – MEC. A organização e implantação de atividades comunitárias solidárias são destaques no Projeto. Desde sua criação, em 11 de julho de 1967, o Projeto realizou várias atividades de cidadania, bem-estar, desenvolvimento local, sustentável e gestão pública, inclusive em Fernandópolis e região. Em 1972, a professora fernandopolense Maria Aparecida Godoy Secco conheceu a Associação Anti-Alcoólica de São José do Rio Preto durante uma pesquisa acadêmica para seu trabalho integrado ao Projeto Rondon. Então, Fernandópolis conhecia pela primeira vez a AAA. Após esse primeiro passo, um grupo de amigos formado por Jorge Aidar, Écio Vidotti, José Umberto Martin, Leontina da Conceição Siqueira, entre outros, uniram-se para custear os gastos de uma perua Kombi para levar fernandopolenses à “Associação Anti-Alcoólica da Alta Araraquarense”, como era chamada a AAA de Rio Preto.



Lá, alguns deram seu voto, e mais do que o voto e o início da luta contra o primeiro gole e o alcoolismo, decidiram fundar em Fernandópolis uma unidade da entidade que os havia acolhido.

No dia 14 de março de 1972, a AAA era fundada em Fernandópolis, tendo o Dr. Antero Lichotto, juiz de direito à época, como presidente de honra, Dr. Osmar Maia, advogado, presidente reitor, Cláudio Gianini, bancário, presidente executivo, Joaquim Alves de Souza, aposentado, vice-presidente executivo, Jesus Alves Pereira, o Zuza, funcionário público estadual, como primeiro secretário, Antonio Brambati, operário, segundo secretário, ao lado de mais 24 diretores e conselheiros compondo a administração geral da entidade.



“Nas primeiras viagens a Rio Preto, alguns bêbados iam totalmente alcoolizados e vomitavam nos pés das esposas e mães dos alcoólatras que eram levados e buscavam ajuda. Mas essas viagens é que viabilizaram a fundação da Associação aqui em Fernandópolis, que salva vidas há 35 anos, e devolve para homens e mulheres, suas famílias, a dignidade, o emprego, que são perdidos, jogados fora, a cada copo, a cada gole, a cada dia de embriaguez. O alcoolismo é uma doença e a Associação Anti-Alcoólica é o melhor remédio”, declara Osvaldo Silva, advogado, bancário aposentado do Banco do Brasil, atual 1.º tesoureiro da AAA de Fernandópolis.





Contínua devoção

“Fundamos associações em diversas cidades, até mesmo em outros estados, como o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná. Em cidades mais próximas, mantínhamos presença mais freqüente. Colocávamos nossos carros, às vezes não tão novos, na estrada por essa causa, pois foi aqui que encontramos a nossa salvação. Quando tínhamos que atravessar o Rio Paraná de balsa, saindo do Estado de São Paulo para o Mato Grosso do Sul, muitas vezes nós esperávamos muito tempo. Ocorriam constantemente problemas na balsa, e o atraso era inevitável. Nós já chegamos a sair de casa às 8h e retornar somente à meia-noite. Muitas pessoas que não são alcoólatras, ou não têm esse problema na família, podem achar que o alcoolismo não é um problema sério em nossa sociedade, mas quando você sofre na pele e se encontra no fundo do poço do desespero, jogado na sarjeta, totalmente na escuridão, vê como é triste essa doença chamada alcoolismo. Quando alguém consegue, com a ajuda de amigos, familiares e do pessoal da AAA dar o voto, evitar o primeiro gole e sair da vida de um completo bêbado, nosso trabalho aqui na Associação Anti-Alcoólica é recompensado”, ressalta Dalberto Antonio, o conhecido Jamanta, funcionário público municipal aposentado, atual diretor administrativo da entidade.



Durante as reuniões que ocorrem todos os sábados às 20 horas no prédio da AAA, localizado à avenida Rio Grande do Sul n.º 1560, ao lado dos Correios, os testemunhos dos recuperandos são as “pílulas” do remédio que é a Associação. Na tribuna, considerada a “tribuna da verdade”, os integrantes da entidade relatam com muita humildade e realidade “nua e crua”, cada fato que vivenciaram durante suas experiências da vida “de bêbados”. Ao final das reuniões, Orlando Matheus enfatiza que naquele momento, a pessoa que quiser dar o voto pode se aproximar à mesa e iniciar uma nova vida, longe do álcool. O encontro é finalizado com a leitura da Oração de São Francisco de Assis, sempre acompanhada por uma corrente formada pelos presentes, todos de mãos dadas.



Além de Osvaldo Silva, Jamanta e Orlando Matheus, a atual diretoria da Associação Anti-Alcoólica é composta por Geraldo Silva Moreira, presidente, Dorival Rossanese, vice-presidente, Acílio Alberto Domingues de Carvalho, primeiro secretário, Aristides Cândido de Oliveira, segundo secretário e Paulo Edmilson da Silva o segundo tesoureiro. Há também os conselhos fiscal e consultivo, além do departamento feminino, formado por mães, esposas, irmãs e filhas dos recuperandos. O telefone da Associação Anti-Alcoólica é o 3442 2878.