Raras vezes se tem a chance de entrevistar um ser humano tão cativante quanto a professora Etelvina Rossete Cavariani, de 66 anos, casada com Joubert Cavariani, mãe de Patrícia, Gisele e Leandro e avó de sete netos.
De olhinhos verdes brilhantes, franzina, fala suave, essa filha de Nipoã cursou o Normal em Mirassol, onde conheceu Joubert, com quem viria a se casar em 1965. Mais tarde, eles viveram em Populina e depois fixaram residência em Fernandópolis, terra que adotaram como sua.
Além de professora, dona Etelvina é mãe e avó dedicada; não bastasse, ela ainda acha tempo para desenvolver seu trabalho de catequista na Igreja Católica e produz o melhor carpaccio do planeta (diferentemente da esmagadora maioria dos cozinheiros, ela não esconde a receita). Um belo exemplo de pessoa, a dona Etelvina.
CIDADÃO: Onde a senhora nasceu?
ETELVINA: Nasci em Nipoã, onde vivi até os 10 anos de idade. Depois, fui fazer o 4º ano primário em Mirassol.
CIDADÃO: A família toda se mudou para Mirassol?
ETELVINA: Sim. Meu pai tinha uma banca de verduras no mercado, e nós, os filhos, o ajudávamos todos os finais de semana. Nosso serviço era abastecer as gôndolas e entregar mercadorias aos fregueses em suas casas. Todos os sábados e domingos, nós íamos às 5h para o mercado e trabalhávamos até 11h, horário do fechamento. Foi uma fase árdua, mas que deu perfeitamente para estudar. Éramos seis irmãos. O nome do meu pai é Armindo Rossete. Minha mãe, Emilia Pessoa Rossete.
CIDADÃO: Quando a senhora conheceu o Joubert?
ETELVINA: Foi no tempo de Mirassol, em 1957. Ele jogava futebol, nessa época. Namoramos sete anos, quase oito. Eu me formei em 1964 e casamos em fevereiro de 1965. Nesse mesmo ano, passei no concurso de ingresso e fomos morar em Populina. Era agosto de 1965. Lá vivemos nove anos e foi onde nasceu a Patrícia, nossa primeira filha. Depois, mudamos para Fernandópolis. O Leandro tinha um ano. Moramos primeiro na Avenida Milton Terra Verdi. Depois compramos nossa casa atual.
CIDADÃO: Como foi que a senhora virou a mestra do carpaccio?
ETELVINA: Essa história do carpaccio é engraçada. Eu sempre achei que meus filhos deveriam trazer os amigos para casa, ficar perto da gente, conviver conosco. Então, arrebanhei esses mocinhos aqui na minha varanda. Nesse tempo, o Leandro era mocinho. Então, o Joãozinho Pimenta, hoje também advogado, como meu filho, queria montar uma choperia ali atrás da Matriz. Ele sempre comia carpaccio aqui em casa. Nós somos de origem italiana e eu aprendi a fazer, mas até então só para consumo familiar. O Joãozinho pediu que eu fizesse o prato para servir na choperia. Ele dizia: Vai ser uma novidade, quase ninguém conhece. Eu fiz, só para ajudá-lo. Em seguida, a Eliane Greco também abriu uma casa comercial e me pediu para fornecer carpaccio. Aí, a coisa foi fluindo. Apareceram outros fregueses, e também os particulares. Eu fui aperfeiçoando o produto, e também a forma de conservar e as embalagens. Comecei a precisar de estoques até então, eu fazia na hora para quem pedia. O gozado é que comecei a ficar internacional (risos). Outro dia mesmo levei um susto, tive uma encomenda grande de Rio Preto. Hoje, tenho uma boa clientela. Os médicos de Fernandópolis adoram o meu carpaccio.
CIDADÃO: E a receita do molho? Se eu pedir, a senhora fornece ou é segredo?
ETELVINA: Eu não me importo de fornecer, não. Os meninos é que falam que não adianta ensinar, porque o meu molho é diferente, é a mão (risos).
CIDADÃO: Então, vamos passar ao leitor pelo menos os ingredientes. Se o Lucheta souber que entrevistei a senhora e não peguei a receita, estou perdido!
ETELVINA: Leva alcaparras, maionese, limão, pimentinha vermelha, orégano, azeite de oliva, mostarda. Depois de muito bem triturado, coloca-se uma camada de carne e sobre ela o molho, em revezamento. No final, sobrepõe-se uma camada de queijo parmesão ralado bem grosso, e na hora. Deve-se colocar numa bandeja enfeitada com alface cortada fino, tomate seco. É muito ruim...(risos). Às vezes, faço o prato para os buffets de Fernandópolis, que encomendam para festas, casamentos.
CIDADÃO: A senhora, que é mãe de três filhos, avó de sete netos e uma pessoa criada à moda antiga, o que pensa do comportamento da sociedade moderna e das relações entre pais e filhos? As coisas melhoraram ou pioraram?
ETELVINA: No tempo em que criei meus filhos, até que não me preocupei tanto, porque eles sempre foram respeitosos e obedeciam pai e mãe. Hoje, eu percebo entre os jovens, já que ainda trabalho em escola e na catequese, uma mudança muito grande. Os jovens têm as idéias próprias e falta muito o componente da religiosidade. Tanto na escola quanto na catequese, eu falo muito na importância de haver respeito, porque as relações entre jovens e pessoas mais velhas andam muito difíceis. Além disso, o excesso de atividade dos pais na vida moderna acaba fazendo com que eles se esqueçam um pouco da educação dos filhos. A parte humana, espiritual, acaba ficando num segundo plano. É por isso que a gente, como professora e catequista, tem a preocupação de resgatar um pouquinho dessas coisas, que andam em falta mesmo. Há um distanciamento muito grande. Falta carinho, amor, diálogo. Eu ainda consigo mostrar aos meus filhos que eles devem conversar com suas crianças. Falo que é preciso sentar, fazer tarefa junto, descobrir as aflições deles. Mesmo a Gisele, que hoje é uma empresária ocupadíssima, não deixou de dar atenção aos três filhos. A Patrícia tem um estilo de vida mais parecido com o meu, e o Leandro também é bom pai. Se isso é uma graça, então posso dizer que sou uma pessoa muito agraciada por Deus. Tenho três filhos maravilhosos.
CIDADÃO: Amanhã será Dia das Mães. Qual o recado que a senhora gostaria de mandar a todas elas, especialmente as de Fernandópolis?
ETELVINA: Gostaria de dizer a todas as mães que filho, a gente carrega nove meses na barriga e a vida inteira no coração. Isso é muito importante.