A Prefeitura de Fernandópolis abriu licitação para a compra de 15 mil microchips para implantar em todos os cães do município. O pacote inclui aplicadores e aparelhos leitor e coletor de dados. O investimento é de R$ 210 mil. O veterinário do CCZ – Centro de Controle de Zoonoses – Mileno Tonissi, que é vereador, diz que trata-se de um investimento em saúde pública. “A gente vem batalhando por esse projeto há anos e agora vamos poder implantá-lo. Vamos melhorar, e muito, o controle de animais no município”, justifica. Nesta entrevista ao CIDADÃO, Tonissi aponta como grave o problema de abandono de animais no município e alerta que a leishmaniose está disseminada por praticamente todos os bairros. “Isso é muito grave”, diz. O veterinário adianta que, precedendo a ação para implantação de microchips nos cães, agentes de Saúde estão batendo de casa em casa para realizar o que chama de censo animal. O microchip que será implantado nos cães tem o tamanho médio de um grão de arroz, ou seja, realmente é muito pequeno e fino. Ao redor do sistema eletrônico existe uma capsula feita de vidro cirúrgico, o mesmo que é utilizado na fabricação de um marca-passos. Este dispositivo eletrônico conta com um código único e exclusivo, que permite a identificação do animal em um determinado banco de dados onde é possível inserir todas as informações sobre animal e seu dono. Mileno explica detalhes do projeto. Veja a entrevista:
Como será desenvolvido o projeto para implantação de microchips nos animais de Fernandópolis?
Esse projeto vem de anos e anos que a gente vem batalhando para ver se consegue implantar o microchip em todos os animais do município. O que está pegando um pouco ainda é a obrigatoriedade. Estamos discutindo, porque será necessário alterar leis para tornar obrigatória a implantação do microchip nos animais. Uma vez colocado o microchip, vamos melhorar, e muito, a situação de controle dos animais no município, principalmente aqueles que são abandonados, que o pessoal costuma soltar nas ruas. Com o microchip não vai ter como a pessoa abandonar seu animal, haja vista, que é só passar o leitor e vamos identificar a origem desse animal e quem é o proprietário.
Esse microchip é praticamente de um tamanho de grão de arroz?
É menor que um grão de arroz e ele vai conter todas as informações do animal, desde o dia que nasceu, vacinação, se é castrado, a vermifugação, a própria alimentação e os dados do proprietário.
A aplicação do microchip é subcutânea?
Sim, é subcutânea, feita por nós, médicos veterinários. É aplicado em local pré-determinado, a gente não deixa estabelecido o local para evitar que esse microchip seja retirado.
Para alcançar todos os animais da cidade, como será desenvolvido esse projeto?
É imprevisível, não temos um prazo. O objetivo é realizar isso o mais rápido possível. Estamos na fase de montagem de um plano de ação. Ainda temos dúvidas se vamos realizar esse processo casa a casa, ou de outra forma. Neste momento estamos desenvolvendo um censo animal no município. Os agentes de saúde estão coletando informações com os munícipes a respeito de animais domésticos, cães e gatos. Esse censo vai nos ajudar, e muito, uma vez que com esses animais cadastrados, saberemos as casas que precisamos ir para implantar o microchip. Inicialmente pretendemos implantar o microchip somente em cães. Em alguns pet shops e clínicas da cidade já tem esse microchip à venda e o próprio dono do gato, no caso, pode implantá-lo. Já temos animais microchipados em Fernandópolis.
Como é desenvolvido o processo de inserção dos dados no microchip?
Através de um programa que vamos dispor no Centro Controle de Zoonoses e nós estaremos alimentando esse programa com as informações passada pelos donos dos animais. A partir disso, o animal estará automaticamente identificado. Bastará passar o leitor para sabermos sua origem.
Por que o Centro de Controle de Zoonoses e a prefeitura estão fazendo isso?
Isso é de suma importância para a Saúde Pública. Afinal, estamos passando por um problema seríssimo em nosso município que é a leishmaniose, além de várias outras zoonoses e isso gera muita preocupação. A leishmaniose, no caso, pode levar uma pessoa a óbito. Já tivemos em Fernandópolis, além dos cães, casos positivos em humanos. A nossa preocupação é, além de animais abandonados, ter um controle maior pensando em saúde pública.
A partir desse projeto implantado, como será tratada a questão dos animais abandonados?
Estamos vendo, porque será necessário alterar leis visando mexer no bolso da pessoa. Aquele animal que foi abandonado, vamos passar o leitor, identificado o dono, vamos até ele e notificamos, haja vista que abandono, na lei, é crime. Comprovado que esse animal foi abandonado, o dono poderá pagar multa e até responder a processo.
É muito comum, avisos de animais desaparecidos e donos desesperados. A partir do microchip será mais fácil localizar esse animal?
Também, vai ajudar e muito. Então a pessoa, encontra um animal, aciona o CCZ e vamos passar o leitor e identificar o dono, já que vai constar no microchip o telefone do dono, para verificar se o animal realmente está perdido. Confirmando, a gente devolve.
Geralmente no segundo semestre, o CCZ realiza a campanha de vacinação contra raiva, momento em que vocês têm acesso a boa parte dos animais da cidade. Seria o momento para iniciar a microchipagem dos cães?
Sem dúvida, a ideia é essa, em agosto, que é o mês do cachorro louco, começarmos a desenvolver esse projeto. Mas, temos que superar a parte burocrática. Estamos na fase de avaliação de leis para alteração, de compra dos microchips. Ainda não dá para garantir, mas a ideia é essa.
Como veterinário, como classifica essa medida?
É de suma importância. Não só para o CCZ, mas também todas as clínicas veterinárias da cidade, porque bastará ter um leitor para ter acesso a toda ficha do animal, informações importantes para qualquer procedimento veterinário. Para nós do Centro de Zoonoses será de grande importância, tanto para a saúde pública quanto para diminuição de animais abandonados que a cada dia aumenta mais.
O custo desse projeto você classifica como investimento em saúde?
Perfeitamente. Talvez, muita gente não veja assim, mas nós precisamos agir para ter um controle maior, principalmente com o problema da leishmaniose. Antigamente eram poucos os cães contaminados com a doença, hoje, infelizmente a situação se alastrou. O índice de animais contaminados é altíssimo e isso acontece na maioria dos bairros onde já tem animais portadores da leishmaniose. Basta o mosquito palha picar o animal contaminado e picar o ser humano, para passar a leishmaniose.
Você citou o censo animal. Ele está sendo realizado casa a casa?
Sim, os agentes de saúde estão passando casa a casa e fazendo esse levantamento. Se por acaso ainda não passou em sua residência, pode ficar tranquilo que vai passar e nós vamos cadastrando todos os animais do município.
Hoje os animais assumiram posição de integrantes das famílias. O que você diria à população na expectativa de implantar esse microchip nos cães?
Primeiro que o microchip não causa nenhum problema para o animal. O microchip é implantado subcutâneo, não causa dor e não prejudica em nada o animal que fica microchipado sem ninguém saber. Então, é uma ação de grande importância não só para o município, mas para os donos. Infelizmente, ainda tem aqueles que largam os animais soltos nas ruas, aqueles que maltratam e abandonam. Estamos fazendo o possível para diminuir esse problema.
A partir do momento que a cidade tiver esse projeto implantado, acha que vai inibir o que ocorre atualmente com frequência, ou seja, animais de outros municípios que são abandonados aqui?
Sim, a partir do momento que verificarmos que o animal não é microchipado saberemos que ele veio de outra cidade e poderemos averiguar isso. Temos visto que pessoas de outros municípios percebendo o animal doente, toma a iniciativa de trazer e abandonar em Fernandópolis ou em outro município, com o intuito de alguém pegar e cuidar. Só que não veem o perigo nessa ação, já que uma pessoa pode ser contaminada. E isso pode complicar e muito a saúde pública.
Quando você fala na leishmaniose, a recomendação ainda é a eutanásia, embora já exista algum tipo de tratamento. Qual a posição que vocês adotam?
Já tem o tratamento, porém, é muito caro e difícil de fazer. O que alguns veterinários fazem é o tratamento da sintomatologia. Conforme os sintomas aparecem, é feito o tratamento do problema. Mas, uma vez o animal portador da leishmania, ele vai ser portador da doença para o resto da vida. Inclusive esse tratamento que é preconizado pelo Ministério da Saúde, não acaba com a leishmaniose, simplesmente reduz o nível de leishmania no organismo, de maneira que o animal deixa de transmitir a doença. Infelizmente, ainda a eutanásia é recomendada nestes casos em que o animal já desenvolve o sintomas. É complicado, principalmente para nós veterinários, ter que sacrificar o animal. Mexe muito com o psicológico da gente, mas, por outro lado, temos que ver a questão da doença no ser humano, principalmente em crianças e idosos que podem ir a óbito, porque o medicamento para a cura em humano é muito forte. Nós tivemos o exemplo de Votuporanga que chegou a ter 10, 11, óbitos por causa da leishmaniose.
Quando é apresentado o diagnóstico da doença e a recomendação da eutanásia, como reagem os donos?
É triste, têm aqueles que entendem e aqueles que na hora não entregam os animais, preferindo assinar um termo de recusa. Mas, o que temos visto é que passado algum tempo, ele nos procura porque o animal está sofrendo muito e acabam pedindo para que seja eutanasiado para pôr fim ao sofrimento.