Quando tinha 18 anos, Segisney de Oliveira Pereira conseguiu emprego na Companhia Entrepostos Armazéns Gerais de São Paulo, a CEAGESP. Vinte e dois anos se passaram, e Segisney, o Serginho, chegou aos 40 com a mesma anotação em sua carteira de trabalho. Como a sua história de vida se confunde com a da empresa, Serginho está preocupado com a possibilidade do projeto do Porto Intermodal ser alterado. Ele sabe que o Pólo Logístico significará a redenção econômica para a região e a otimização dos negócios da CEAGESP, cuja unidade de Fernandópolis foi mantida justamente porque havia a perspectiva da instalação do Pólo. Serginho quer ficar aqui, gosta da cidade e quer ver o filho Bruno, de 17 anos, fazendo faculdade em Fernandópolis. Casado com Élica, formado em administração de empresas e atualmente cursando pós-graduação em Gestão Empresarial, Serginho torce para que a região triunfe nessa luta.
CIDADÃO: Como você avalia a atual situação da CEAGESP de Fernandópolis?
SEGISNEY: O entreposto da CEAGESP de Fernandópolis, caminha a passos lentos. Já teve momentos melhores, e a reestruturação de governo representou poucos investimentos na empresa. Nesses últimos quatro anos, houve alguns investimentos que ajudaram as unidades a se manterem. Esta unidade sempre foi deficitária, pelas dificuldades da agricultura na região principalmente agora, com a monocultura da cana. Falta também reestruturação dos equipamentos, que são antigos e precisam de remodelação.
CIDADÃO: O que a unidade está estocando atualmente?
SEGISNEY: Estamos trabalhando com algodão pluma, vindo de uma empresa de São Paulo. Essa empresa compra da Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, e está estabelecendo estoques estratégicos em Fernandópolis e Jales. Trabalhamos também com alguns produtores da região, armazenando polpa cítrica de laranja e farelo de soja. Os demais são farinha de mandioca, milho e fécula de mandioca.
CIDADÃO: Há cerca de dois anos, a CEAGESP desativou sua estrutura em Araçatuba e trouxe boa parte dos equipamentos para Fernandópolis. Aparentemente, a empresa contava com a consecução do Porto Intermodal de Água Vermelha. Até que ponto o porto é estrategicamente importante para a CEAGESP?
SEGISNEY: A unidade de Araçatuba já estava em fase de desativação, e tínhamos que tirar aqueles equipamentos de lá. Havia equipamentos em bom estado, e eles inicialmente deveriam ir para Tupã, mas com a idéia do porto, a matriz de São Paulo gostou da idéia e trouxe esses equipamentos para poderem ajudar no transbordo de mercadorias. Só que até agora esses equipamentos estão sem montagem dentro dos pavilhões, porque o projeto arrefeceu. A montagem custa dinheiro, e é preciso ter a perspectiva cristalina da instalação do porto para investir na montagem.
CIDADÃO: Qual é a versão correta dessa história dos famosos 100 metros de ramal ferroviário entre os armazéns e o tronco da estrada de ferro?
SEGISNEY: A CEAGESP sempre trabalhou com o ramal ferroviário ligado direto ao tronco. Em 1995, necessitou-se de uma reforma nos dormentes, e aí a Fepasa, em período de transição, sucateou tudo. A estrada ficou parada, não passava mais trem. Esse ramal, que sempre funcionara perfeitamente, acabou tendo os trilhos retirados não aqui dentro, mas no percurso até a estação. Então falta refazer essa ligação para que a locomotiva possa vir até os armazéns e trazer os vagões.
CIDADÃO: Se a ferrovia Norte-Sul efetivamente instalar uma ligação com a CEAGESP, quais resultados concretos poderão ser alcançados?
SEGISNEY: Vai alterar nosso trabalho positivamente, porque os produtores de Minas e Mato Grosso, por exemplo, terão condições de trazer os produtos por preço acessível. Muita gente já me ligou o pessoal do algodão, por exemplo - para saber se há condições de trazer algodão do Mato Grosso via ferrovia. Teria, sim, se houvesse um ramal ligado. Esses produtores têm o custo do transporte onerado pelas estradas precárias, e você sabe que o transporte rodoviário é mais caro.
CIDADÃO: Quando surgiram os primeiros comentários sobre o Pólo Logístico de Água vermelha, apareceram grandes empresas buscando informações sobre negócios?
SEGISNEY: Vieram a Bünge, a Cargill...outras empresas no setor de grãos soja, milho enfim, empresas ligadas à agricultura, ficaram vivamente interessadas no projeto. Eles perguntavam se iria mesmo ter continuidade, como funcionaria, etc. Afinal, interessava para eles o transbordo em Fernandópolis, em vez de no Mato Grosso.
CIDADÃO: Qual é o grau de importância da logística no transporte de grandes cargas?
SEGISNEY: A logística leva a uma redução de custos em torno de 20 a 30%. Para o produtor, o que interessa é vender. Só que o comprador, se tiver logística nos transportes e conseqüentemente este custo reduzido, poderá pagar melhor ao agricultor.
CIDADÃO: Geograficamente, a posição de Fernandópolis, na logística do transporte de grãos, é boa ou ruim?
SEGISNEY: Quanto ao transbordo, estamos no centro, numa posição excelente, pelo menos para a ligação com o Porto de Santos. Podemos centralizar a produção de Minas, Goiás e dos dois Matos Grossos.
CIDADÃO: Então, a questão hoje é puramente política?
SEGISNEY: Sem dúvida. Já era para ter iniciado o trabalho do porto, se não fossem as interferências políticas dos municípios que hoje querem pegar o projeto.
CIDADÃO: Como está a questão do credenciamento na Bolsa de Mercados Futuros (BMF)?
SEGISNEY: Toda a documentação já está em São Paulo, as procurações já foram lavradas, agora é só esperar o OK para o início da comercialização direta via bolsa de mercadorias.
CIDADÃO: E no que consiste esse acordo?
SEGISNEY: Consiste em criar melhores condições de venda para o produtor, e com garantias. Toda venda futura será melhor e terá garantia de recebimento.
CIDADÃO: Tem preço mínimo garantido?
SEGISNEY: O preço mínimo não é estipulado pela bolsa. A Bolsa de Chicago é que controla essa posição. Entenda: se uma mercadoria custa R$ 18, você consegue R$ 19, R$ 20, porque terá um prazo para a entrega. Por exemplo, se a depositária for a CEAGESP, você entrega sua mercadoria aqui e acabou sua preocupação.
CIDADÃO: Então, só faltam detalhes burocráticos?
SEGISNEY: Sim, e já encaminhamos todas as certidões que nos foram solicitadas, tanto de Fernandópolis como de Rio Preto.
CIDADÃO: Havia a promessa de que viriam de Rio Preto uma balança rodoviária, uma balança ferroviária e um secador de alta capacidade. Esse maquinário veio?
SEGISNEY: Esse maquinário não veio. Mas ela só viria mesmo se o projeto do porto tivesse seguido em frente na forma esperada, porque você só pode investir onde há a demanda de serviços. Trazer esses equipamentos custa caro.
CIDADÃO: Essa questão do Porto Intermodal parece ser crucial para sua empresa, não é?
SEGISNEY: Como cidadão e como encarregado do escritório desta unidade, minha expectativa é muito grande. É até um desabafo: entrei aqui com 18 anos, foi meu primeiro emprego, eu aposto muito na CEAGESP, sei trabalhar nisso e gosto, e sei o quanto o produtor necessita de uma unidade da CEAGESP na sua região. Nós não comercializamos, nós transportamos e estocamos, o produtor fica livre para negociar por quem quiser. Acho que, agora, com o reforço de grandes cidades e de muitas forças políticas, o projeto do Pólo Logístico vai começar a caminhar a passos largos. Se essa vitória final vier, veremos se modificar para melhor a paisagem sócio-econômica de nossa região, onde, atualmente, é muito difícil trabalhar com a agricultura.