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CIDADE CONTRA CIDADE



CIDADE CONTRA CIDADE
A edição do dia 28 de maio do jornal “A Cidade de Votuporanga” traz um artigo imperdível sobre a eterna rivalidade entre aquela cidade e Fernandópolis. O autor não o assinou, mas, pelo bom-humor, pelas informações que contém e pelo bom-senso, vale a pena sua transcrição ipsis literis:

Nossas divergências com Fernandópolis

Num debate na TVE, dia desses, perguntaram a um editor de um grande jornal carioca o porquê do seu periódico dar tanto espaço para a sucessão de Lula, sabendo que as eleições presidenciais só vão acontecer em 2010. O editor respondeu sem rodeios: "Todo dia eu acordo sabendo que tenho 42 páginas para fechar no jornal. Não posso desprezar uma grande fonte de notícia que é o Congresso. Estou apenas reproduzindo o que dizem lá". Respeitando as devidas proporções, é exatamente o que estamos fazendo aqui. O jornal local reflete o sentimento da sua gente e os assuntos debatidos na Câmara Municipal fazem parte da nossa pauta de redação. Muitas vezes damos vazão a assuntos banais até porque foi debatido no âmbito do legislativo.

Recentemente, em Fernandópolis, dois vereadores, no calor da discussão de um projeto sobre a competência do município em regular o horário de expediente bancário, matéria aprovada em Votuporanga, suscitou a rivalidade dos dois municípios. Um deles teria dito que "detesta Votuporanga". Quando a rivalidade existia de fato nos anos 60, a concorrência foi muito acirrada, porém, saudável. Há quem diga que as duas cidades progrediram em face dessa competição. Na disputa, Votuporanga teria levado a melhor nos anos 60, quando conquistou a Faculdade, as regionais da Cesp, Telesp, primeira agência do INPS, entre outras. Fernandópolis foi mais feliz nos anos 70 com a instalação do 16.º Batalhão da Polícia Militar, as regionais do Banespa e da Polícia Civil. Desse tempo contam histórias memoráveis da rivalidade entre as duas cidades. Em Votuporanga contam que um prefeito determinou a confecção de um mapa rodoviário que aumentava a distância entre as duas cidades. Pelo mapa da Prefeitura dava mais de 100 quilômetros, numa estrada que passava por Cardoso e Pedranópolis. Com esse mapa debaixo do braço o prefeito sustentava que a distância entre as duas cidades inviabilizava a instalação de qualquer órgão regional em Fernandópolis que tivesse jurisdição sobre Votuporanga. Já na administração de Nabuco (60-61 e 69-72) o seu grande trunfo era a amizade pessoal com o governador do Estado, Carvalho Pinto. Por conta dessa amizade, Carvalho Pinto chegou a fixar a sede do governo em Votuporanga por três dias. Contam que numa das visitas de Carvalho Pinto à região, nossas autoridades políticas aguardavam-no no Estádio "Plínio Marin", onde o governador chegaria de helicóptero.
Enquanto isso, de radinho no ouvido, o pessoal acompanhava por uma emissora de rádio as promessas que o governador fazia em Fernandópolis. Carvalho Pinto anunciou uma importante obra lá e os políticos daqui acharam que dava para "melar" com a interferência do Nabuco. Este mais sensato ponderou: "Vocês estão me pedindo para encostar a faca no pescoço do professor", e descartou a ira dos amigos. Fora dos gabinetes, a rivalidade predominava especialmente no esporte. Os derbys entre Votuporanguense e Fefecê sempre davam o melhor público e os dirigentes aguardavam com ansiedade esse confronto, até para aliviar o caixa. Folclore ou não, alguns saudosistas contam do "alejadinho" que veio assistir o "clássico regional" no estádio "Plínio Marin" e saiu correndo e esqueceu suas muletas na arquibancada na hora da briga. Aparece sempre também algum "quarentão" para lembrar do corre-corre dos bailes de Fernandópolis ou do pega na turma de Fernandópolis nos bailes daqui. Todavia, os jovens dos nossos dias, da era da internet e do encontro nas micaretas, se misturam sem se importar com a origem do outro nas festas de Votuporanga e Fernandópolis. No comércio, as lojas daqui têm filiais lá e vice-versa. O futebol, que aqui acabou e lá vive a duras penas, já não atrai torcida, que prefere ficar em casa e ver os grandes clubes na televisão. Os tempos são outros. Até porque a população das duas cidades praticamente dobrou nas últimas décadas e os que vieram depois não guardam ressentimentos assumidos pelos primeiros habitantes. Definitivamente, os tempos são outros. O que aparentemente acontece hoje é que existe uma disputa política interna em Fernandópolis. Nesse contexto, o comparativo com Votuporanga, realmente avançada em alguns setores, como o número de habitantes por exemplo, é um meio de alfinetar a prefeita Ana Bim, que pelo visto tem rejeição na Câmara e na importante camada social da vizinha cidade. Lá insistem que ela teria dito aqui, num ato no Senac, que "iria se mudar para Votuporanga", mas por aqui ninguém ouviu o que seria uma manifestação de política de boa vizinhança. Edinho Araújo mudou-se para Rio Preto e virou prefeito sem perder os amigos de Santa Fé. Dizem que Itamar Borges pode sair de Santa Fé e ir para Jales ou até mesmo para Fernandópolis, que é a terra da sua mulher. Júlio Semeghini dizia nas rodas políticas, sem ser levado a sério, que iria transferir o seu domicilio eleitoral para Votuporanga ao ver o seu partido (PSDB) desandar na eleição municipal de Fernandópolis, enquanto que em Votuporanga o candidato tucano tinha preferência de 80% do eleitorado. Por tudo isso, não tem sentido o desabafo de dois vereadores de Fernandópolis. É preciso acompanhar a evolução da modernidade. Quem poderia imaginar que um dia o filho de Percy Semeghini, prefeito de Fernandópolis, teria perto de 10 mil votos em Votuporanga. Isso é real. Que os políticos de Fernandópolis resolvam suas diferenças em casa, sem anunciar que detestam o vizinho.