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Cinco gerações e uma esperança



Cinco gerações e uma esperança
Dona Francisca de 107 anos, ladeada pela tataraneta Lívia, a bisneta Silvia (à esquerda), a filha Amélia e a neta Francisca (à direita)

Em meio à uma das piores pandemias já vivenciadas pela humanidade, a ciência surge como uma luz resplandecente no final de um longo e obscuro túnel do tempo. Tempo marcado por perdas irreparáveis, por comportamentos inadmissíveis de uns e esforços incalculáveis de outros.
No meio de tudo isso, esperança e alívio, gratidão e reconhecimento àqueles que correram contra o tempo e contra a probabilidade de dar errado, mas que agora, tendo o resultado em mãos, provam que o impossível é apenas uma questão de visão míope e de opinião pessimista. 
A terça-feira, 9 de fevereiro de 2021 coloca Fernandópolis como recanto de uma das histórias mais bonitas já contadas desde o início da pandemia do novo coronavírus. No enredo, quatro gerações da mesma família que foram vacinadas com o imunizante contra a Covid-19. Dona Francisca Cândida Jesus de Paula, com 107 anos de idade é a matriarca. Junto com as filhas, Amélia Cândida da Silva, de 90 anos e Francisca Felisbina da Silva Pinheiro, 66 anos, que é cuidadora da avós e mãe, tomaram a vacina juntas. Detalhe: dona Francisca de 107 anos está entre as pessoas mais idosas do mundo a receber a vacina
A quarta geração é a filha da cuidadora dona Francisca Felisbina, a Sílvia Mara Pinheiro De Marchi, 37 anos, que atua na área da Saúde. Das cinco gerações, apenas Lívia Pinheiro De Marchi, que agora tem 9 anos de idade, não foi vacinada.
A história repercutiu nos principais veículos de comunicação da região noroeste. Sílvia Mara conta que a família está recebendo muitas ligações e mensagens, mas que os comentários feitos na publicação de outros veículos de comunicação a deixaram muito indignada. 
“Estão dizendo que minha família está furando fila, porque a minha mãe foi vacinada também. Esclarecendo que nós não procuramos ninguém, nós que fomos procurados pela equipe de imunização”, ressalta.
De acordo com o cronograma de vacinação do governo do Estado de São Paulo, todos os membros da família vacinados estão dentro das normas exigidas já que no quesito de idade, duas delas têm acima de 90 anos, uma atua como cuidadora e a outra é profissional da saúde.
Já estão sendo vacinadas pessoas com idade entre 85 e 89 anos e, a partir do dia 1º de março, idosos com idade entre 80 e 84 anos.
Sobre a dimensão que tomou a pandemia, Sílvia Mara conta que mesmo já sabendo do risco de propagação do vírus, não imaginava que fosse ocorrer com tamanha gravidade como ainda acontecendo.
“Sabíamos que a pandemia vinha com tudo, mas não esperávamos que levaria tanta gente, inclusive pessoas da nossa família. A cada boletim informativo, o nosso cuidado é redobrado. Esperávamos mais consciência humana”, conta Sílvia Mara.
Como na família três das cinco gerações fazem parte do grupo de risco, Sílvia Mara conta que a rotina diária em casa se tornou preocupante, principalmente por causa da mãe, avó e bisavó.
“Tivemos que restringir visitas e unir mais como família para dar mais suporte aos meus pais, já que além de idosos, cuidam da nossa avó e bisavó”, explica.
Já com relação a chegada da vacina, Sílvia Mara disse que eles estavam confiantes porque sabiam que um dia chegaria.
“Estamos aliviadas e ansiosas para a segunda dose. Porém, sabemos que temos que continuar com todos os cuidados até que todos sejam imunizados. Vejo todos os dias pacientes que sofrem com a doença e com as sequelas que ela deixa, é muito triste! Espero e confio que os ‘ignorantes de plantão’ aceitem também essa oportunidade que está sendo oferecida”, ressalta.
Embora já tenha sido imunizado mais de 1,3 milhão de pessoas no estado de São Paulo, ainda tem gente  que continua desacreditando na ineficácia da vacina e afirmam que não tomarão as doses do imunizante. Concepção bem diferente da família Marchi que vê na vacina, a saída para o fim da pandemia.
“Infelizmente, existem muitos boatos sobre a eficácia das vacinas. Eu acredito no potencial dos laboratórios responsáveis pelo desenvolvimento. Esperei ansiosamente pelo dia da minha 1° dose (06/08 - por ser secretária médica), e fiquei muito feliz quando recebi a notícia de que elas três também receberiam a 1° dose”, afirmou Sílvia.
São cinco gerações de mulheres que veem na vacina contra a Covid-19 a esperança para que tudo volte à normalidade, mas sobretudo, que milhares de vidas sejam poupadas. Cinco gerações que abraçam diariamente o desejo de viver, amar e cuidar umas das outras.