Crônica

Crônica À espera de um resultado por Eliana Jacob



Crônica À espera de um resultado por Eliana Jacob

Pela segunda vez durante a pandemia, cismei que estava com sintomas de covid-19. Pela segunda vez, fiz o exame do cotonete. Quem já fez  sabe que demora 2 horas para sair o resultado e, como toda espera, esse período é uma eternidade.
Fui ao laboratório agora à tarde, voltei para casa e tentei  descansar um pouco.  Não deu! A cabeça a mil não me deixava relaxar. Em duas horas, passei minha vida a limpo: preocupações de todo tipo, o que deveria ser resolvido, algumas providências - que sempre parecem urgentes - me atormentaram.
A primeira questão foi: se eu estivesse realmente doente, como iria contar para minha mãe? Poderia esconder, dar uma desculpa para não vê-la alguns dias mas, e no final de semana – que sempre almoçamos juntas – o que eu faria? E em casa, o que precisaria ter na despensa e na geladeira para a rotina seguir  normalmente? Pensei comprar alguns tecidos para costurar uma toalhas de mesa, fronhas, lençóis, escrever algumas crônicas ou assistir a algumas séries. Será que vou conseguir? Uma amiga que já foi infectada disse que os remédios são fortes e ressecam os olhos; disse que ela mal podia dormir. Já tenho insônia, imagina nessa situação!...Ainda falta uma hora!
 Quanto às nossas refeições, como faríamos? E da minha cachorrinha Nicole, quem cuidaria? Meu neto que fica comigo todas as manhãs, sentiria minha falta? Meus amigos rezariam por mim?  E se eu piorasse  e fosse hospitalizada, como me sentiria sozinha lá? Longe de minha família não sou ninguém.  Será que poderia usar o celular para falar com eles? Será que tem relógio no quarto? Ah, talvez não seja  uma boa ideia! Nessas situações, as horas não passam. Meu Deus! Aqui, nesta espera, as horas também não passam!
Tudo isso seria muito penoso, mas... e se eu piorasse ainda mais e precisasse ser entubada? Iriam me avisar ou iriam  me sedar para não perceber nada? Eu ficaria o tempo todo inconsciente? Como faria para ir ao banheiro? E  banho, lá a gente toma todos os dias? Será que teria vaga para mim na Santa Casa? E se eu tivesse que ir para outra cidade? Meu Deus! Assustador pensar em tudo isso! Duas horas já se foram.
Pego o celular, entro no site do laboratório com meu número e minha senha. Resultado: “Não detectado”. Pronto! Volto a respirar aliviada! Daqui uns dias, completo 60 anos. É hora de comemorar. Saúde!!!