Crônica

Crônica A mulher é loba da mulher por Eliana Jacob



Crônica A mulher é loba da mulher por Eliana Jacob

Uma rede internacional de tráfico  de mulheres – com sede no Brasil - foi denunciada há poucas semanas.  A quadrilha aliciou mais de cem garotas - que seguiram para vários países. Em um apartamento em São Paulo, um homem abordava as meninas pelas redes sociais com o convite de testes na sua “empresa de maquiagem”. Lá faziam fotos e vídeos, que eram enviados aos clientes.
As aliciadas eram carimbadas como objetos, com selo de qualidade – produto tipo exportação. Aquelas que  tinham título de miss ou muitos seguidores na internet ganhavam um cachê mais alto, embora não houvesse um padrão de beleza estabelecido. A idade também não importava, meninas menores passavam nos aeroportos com documentos falsificados. Da mesma forma, as promessas também eram falsas e, assim que chegavam ao seu destino, percebiam a armadilha em que haviam caído.
O tráfico de pessoas é uma das atividades ilícitas que mais se expandiu no século XXI e é considerado o terceiro negócio ilegal mais rentável - perdendo apenas para o das drogas e o das armas. A pandemia não impediu que o tráfico de mulheres prosperasse, pelo contrário. Em situação de vulnerabilidade, a maioria era atraída com  propostas de trabalho,  estudo ou casamento, sendo posteriormente forçadas à exploração sexual.
O filósofo inglês Thomas Hobbes acreditava que “Em seu estado de natureza, o ser humano estaria sempre disposto a sacrificar o bem-estar de próximo em nome  de suas vontades”.  Por conta disso, ficou célebre  sua frase: “O homem é o lobo de homem”. Creio que nenhuma teoria explica tão bem o que temos visto.
Uma modelo conhecida no Brasil ajudava a aliciar as meninas e, outras duas da quadrilha, em Portugal e na Espanha para organizar os programas das garotas com os clientes. Contrariando o conceito tão difundido de sororidade – mulheres cuidando de outras mulheres, como se fossem irmãs – essas criminosas mentiam, enganavam e escravizavam quem mais deveriam proteger. Terrível realidade! Neste caso, caberia melhor a expressão “a mulher é loba da mulher”.