Crônica

Crônica: Abaixo o etarismo – Por Eliana Jacob Almeida



Crônica: Abaixo o etarismo – Por Eliana Jacob Almeida

Há poucos dias, um quadro do “Porta dos fundos” causou polêmica pela abordagem infeliz. Fábio Porchat mais duas colegas simulam uma reunião on-line, mas a mãe dele – de quem só ouvimos a voz - atrapalha-os o tempo todo, ao que ele aconselha; “Vá mexer no celular, mamãe! Psiu! Agora estou trabalhando”. Suas colegas , então, perguntam como ele pode deixar sua mãe sozinha ao celular, com tantas fake News, golpes, dark web etc. Ele diz que ela tem 57 anos e, desconsiderando sua capacidade de discernimento, trata-a de modo infantilizado, como uma idosa ignorante no mundo tecnológico.

Fazendo um contraponto, depois assistir ao episódio, a escritora Cris Guerra explica a Porchat, com muita elegância que, se ele tenta combater todo tipo de preconceito, que fique atento ao “etarismo”- preconceito contra idosos. E mostra, sem nenhum tipo de arrogância, o quanto ele está por fora nessa questão. Eu não conhecia a Cris Guerra, mas em apenas um vídeo, ela ganhou uma fã.

Creio que ele realmente não conhece uma mulher de 57 anos. A maioria está nas redes sociais e domina razoavelmente bem a tecnologia. Hoje as mulheres dessa idade – ou mais! - não se contentam apenas com o papel de avó. Tenho amiga dessa idade lançando curso de inglês, com material preparado por ela. Várias entrando no mundo das bikes, pedalando 40, 50, 60km nos finais de semana. Há também as atletas com ótimo preparo físico, que competem frequentemente e ganham medalhas em triátlon. Muitas venceram doenças importantes e hoje deram um novo significado em sua vida.

Depois de aposentadas, descobriram um talento e agora costuram, fazem artesanato, são motoristas de aplicativo e, assim, arrumaram outra fonte de renda e de realização. Quantas estão em instituições filantrópicas ajudando a construir um lugar melhor para o próximo; algumas cantam nos hospitais para alegrarem a vida dos pacientes; outras visitam doentes e preparam lanche para os que viajam em busca de tratamento médico. Elas fazem compra pela internet, fazem live, ensinam, orientam.

Ah, o Porchat não conhece as mulheres “idosas” de hoje. Deveria prestar mais atenção no que elas estão fazendo e aprender com elas. Se tiver a sorte de chegar aos 57 anos, descobrirá que “envelhecer é para os fortes”. Abaixo o etarismo!