Crônica

Crônica: Almoço de domingo – Por Eliana Jacob Almeida



Crônica: Almoço de domingo – Por Eliana Jacob Almeida

Nossa mesa de refeição era grande para caber meu  pai, minha  mãe  e os seis filhos. Era um momento que minha mãe prezava muito; ninguém podia se atrasar, sentávamos todos juntos e, na hora da janta, todos tinham que estar de banho tomado. Para ela, as refeições eram reunião de família , momento em que todos se olhavam e ela descobria como cada um como estava.

Herdei isso de minha mãe. Agora com os filhos casados, o  ponto mais alto de  minha semana é a hora do almoço no domingo. Eles chegam quando a comida já está quase pronta. Passam para pegar minha mãe, que sempre chega me dizendo: “Você está corajosa, fazendo almoço no domingo!” 

Um vai arrumar a mesa, colocar toalha, enquanto outro pega os talheres, guardanapos e os copos. Meu filho abre a geladeira atrás de uns queijos para aperitivar; minha filha dá uma espiada nas panelas. A comida borbulhando no fogão, eu correndo para preparar a salada. Sim, sou lerda na cozinha, só dou conta de fazer o almoço porque o marido vai lavando tudo o que eu sujo - olha que não é pouco!  Às vezes, ele reclama, eu retruco , mas sei que ele tem razão.

A mesa quadrada é para 8 pessoas, mas somos 10. Aperta um pouco, e mais uma cadeira num canto. Do outro lado, o cadeirão de papa do Otávio. De tudo que há na mesa, ele só come tomate. Frases entrecortadas cruzam a mesa. “Falta a colher para o arroz”, um se levanta para buscar. “Aproveita e traz a pimenta!” “Alguém quer coca?” “Eu prefiro água com gás.” “Me passa a salada.” “Que delícia que ficou!” “Foi feito com amor!”

Paro de comer para observar o momento. São várias gerações em volta da mesa. Dependendo de como se olha cada um relação ao outro, há  bisavó, avós, pais, filhos,  netos e bisnetos. Entre a bisa de 89 anos e o bisneto de 2,5, temos gente de toda idade, o que enriquece nossa experiência de vida. São várias histórias, desde o tempo em que avião descia na avenida da casa de minha mãe até o post mais recente dos primos no Instagran. Acaba o almoço, uns pegam o celular para ver as novidades, outros assistem TV. Alguém liga para a sorveteria e encomenda um pote com os sabores de sempre. Enquanto não chega nossa sobremesa, tentamos evitar que minha mãe arrume a cozinha. Ela insiste; quase sai briga.

Curto cada segundo desses domingos, pois é certo que terei saudades.