O filme “Antes de partir” não é novo e, apesar do título, não é melancólico, não nos deixa deprimidos, pelo contrário; trata da proximidade da morte com humor e leveza. Jack Nicholson e Morgan Freeman atuam como dois homens que se conhecem num quarto de hospital e, ambos com uma doença terminal, têm pouco tempo de vida. Resolvem, então, fazer uma “lista de botas”- nome original do filme – em que definem os dez desejos que pretendem realizar antes de partir –ou seja, antes de ‘bater com as botas’. Como dois adolescentes rebeldes, fogem do hospital para viver todas as aventuras que envolvem a realização de cada lista.
O filme é catártico, pois muitos daqueles desejos coincidem com os nossos; isso promove uma reflexão das boas. E há um diálogo formidável quando um deles vai fazer uma tatuagem e encontra resistência no outro, que diz : “não faço nada em mim que seja para o resto da vida”. Então ele responde: “Que resto da vida? Nós vamos morrer daqui a 5 minutos!”
Pois bem! No meio dessa pandemia, acompanhando o boletim com o número diário de mortes – que chegou a mais de 4.000 - penso nesse diálogo a todo instante e nunca senti a morte tão próxima. Por isso não estou conseguindo me cuidar como deveria. Tenho me alimentado mal, com muito doce, massa e refrigerante . Quando vem um pensamento de “ow, segura a onda aí, não exagera! ”, logo me vem “Para quê?...daqui a 5 minutos, quem sabe?” Se vou caminhar, mesmo tendo tempo, percorro um caminho batido – nem mais nem menos. “Muito esforço para quê?”...Meu cabelo precisa urgentemente de um retoque na raiz, mas daqui a 5 minutos...
É como diz aquela velha história do Brecht. Fazendo uma paráfrase, teríamos: Primeiro, surgiu um vírus na China, mas eu não me importei, eu não moro na China. Depois começou a morrer gente na Europa, mas eu não me importei, eu não tenho parentes na Europa. Depois, o vírus atravessou o oceano, chegou ao Brasil, mas não me importei: acha que vai chegar a minha cidade?... Agora ele está aqui, levando meus amigos – e me sinto completamente assustada.
Algumas pessoas próximas me repreendem, dizem para eu parar de ver jornal, como se, fazendo isso, a realidade mudasse. Não, não muda! O que muda é acatarmos a receita exaustivamente repetida: máscara, álcool em gel e distanciamento social - enquanto a vacina não chega para todos. E prece, muita prece pedindo a Deus proteção, força e serenidade para mantermos nossa saúde mental. Que Ele tenha piedade de nós e nos dê bem mais do que 5 minutos.