Quando você recebe visita em sua casa, ao abrir a porta, costuma dizer: “Não repare a bagunça”? Ao entregar um presente a alguém, geralmente, o gesto vem seguido da frase: “É só uma lembrancinha” Ou ainda: “Comprei pra você porque era a sua cara”?, pois bem, você está usando chavão, também chamado de clichê.
Esse recurso linguístico é muito usado no dia a dia, nas conversas informais, quando não existe preocupação com a originalidade da linguagem. Nessas situações, o que se busca é apenas a comunicação e a tentativa de manter o contato entre os falantes, ou para ser original, para “não se desconectar”.
Entretanto, nas redações escolares, o chavão deve ser evitado, e é comum nos depararmos com as seguintes estruturas no início das dissertações: “Nos dias de hoje...”, “Atualmente...”, “No mundo em que vivemos...” E para finalizar: “Precisamos nos conscientizar...” Nesses casos, o aluno fica prejudicado, já que essas expressões cristalizadas fazem crer que seu autor não tem criatividade e, provavelmente, está com preguiça de pensar. É preciso ter cuidado na hora de fazer escolhas, e se não for possível mostrar uma ideia nova, pelo menos, que seja focalizada de uma nova forma.
Não é só no nível linguístico que encontramos chavão: veja, quem tem um pinguim de enfeite, em casa, coloca-o, invariavelmente, onde? No cinema, há aquela famosa cena, dentre outras, em que mocinho e bandido brigam em cima de um trem, aí o mocinho vê a ponte e se abaixa, o bandido não vê, e...? Nas novelas, então, os exemplos abundam.
Os críticos literários afirmam que há situações em que os chavões parecem inevitáveis, como nos textos jornalísticos, elaborados às pressas, sem tempo para uma revisão. Nas colunas sociais, é difícil criar expressões diferentes para cada aniversariante, e então, frequentemente as pessoas “apagam mais uma velinha”, “trocam de idade” ou “colhem mais uma rosa no jardim”. Nas páginas de esporte, quem nunca ouviu dizer que o jogo “é uma caixinha de surpresa”, que “o importante é competir” ou “estamos aí para mostrar nosso futebol”, ou ainda “que vença o melhor”?
E nós, mulheres, não ficamos fora disso. Quando escolhemos um calçado ou roupa, levando em conta a cor, quantas vezes já dissemos: “Bege é bom porque vai com tudo, né?” E os artistas, ao serem entrevistados, quantos já disseram que têm “muitos anos de estrada”?
Se houver criatividade, é possível fazer algumas atualizações e trabalhar bem com os chavões. Notamos isso em slogans de produtos, títulos de textos ou apenas como recurso humorístico. Vejam estas combinações: “Dê pão a quem tem frios” (e não “Dê pão a quem tem fome”), “Há malas que vêm de trem” (e não “Há males que vem para o bem”).
Entretanto, não se preocupem, o uso de chavão não é um problema grave, e nem sempre conseguimos evitá-lo. Esse texto mesmo deve ter alguns, pois tive que escrevê-lo correndo, sem tempo para uma revisão. É só um toque, não reparem... “É simples, mas é de coração”.