Crônica

CRÔNICA: Falta foco – Por Eliana Jacob Almeida



CRÔNICA: Falta foco – Por Eliana Jacob Almeida

Dizem que uma das receitas do sucesso é terminar o que nós começamos. Faz sentido. Como conseguir qualquer conquista se começamos uma faculdade e paramos; se começamos um curso de língua estrangeira e não acabamos; se compramos um curso on-line e não assistimos?

Com as tarefas do lar acontece a mesma coisa. Admiro as domésticas que conseguem colocar a roupa na máquina, enquanto põem o feijão para cozinhar, atendem à campainha e limpam a casa ao mesmo tempo. É preciso muita habilidade para, no meio da tarde, estar com todo serviço feito.

Confesso que me perco constantemente no que estou fazendo e é muito comum eu parar em algum cômodo da casa e me perguntar: “o que eu ia fazer mesmo?” Meu marido fala que para eu ir a Blumenau, eu passo antes em Cacoal, Vitória da Conquista e Imperatriz. É mais ou menos isso.

Se me sento para escrever uma crônica, antes de começar, já me dá sede; me levanto,  vou até a geladeira, vejo um doce de mamão dando sopa e resolvo comer um pedaço. Pego um pratinho e me lembro de que ainda não dei comida para minha cachorrinha Nicole. Pego a ração, que está no armário da lavanderia,  e me lembro de que na máquina há roupa batida, pronta para ser colocada no varal. Começo, então, a pendurar as roupas e percebo que meus vasos estão secos,  preciso jogar água urgente. Encho um galão e começo a jogar a água na primeira jardineira. Meu Deus! Tenho que marcar a consulta para minha mãe! Entro, pego o celular para ligar, mas já abro no WhatsApp e vejo mensagem de um aluno dizendo que mais tarde me trará as redações  feitas para correção. Preciso responder para combinarmos o horário.

Nesse momento, chega meu marido dizendo que vai lavar o carro e quer sabão, balde e os panos para enxugar. Volto para a lavanderia, pego o balde, o sabão e vejo que as máscaras que lavei no dia anterior estão secas. Tiro da lavanderia e as levo para o quarto. Lá, no criado-mudo está a fatura do cartão que precisa ser paga; resolvo pagar pelo aplicativo do banco. Pego o celular novamente e já abro no facebook. Vejo que  uma amiga postou o aniversário do marido. Preciso dar os parabéns. No post de baixo, há uma piada muito boa e resolvo compartilhá-la. Antes que o post seja publicado, meu celular toca. É minha mãe pedindo o contato do meu psicólogo para passar para amiga dela. Sim! Começo a procurar na minha lista, mas minha filha chega com o meu neto. Ele me dá mão; quer rabiscar na lousa lá fora. Destranco a porta do corredor e vejo que não tem mais giz colorido. Volto para sala  procuro a caixinha de giz para dar para ele.

Minha crônica fica estacionada no segundo parágrafo. Só volto a ela à noite, bem tarde, quando consigo me sentar e não me distrair mais. Mas antes, tomo água e como mais um pedaço de doce de mamão.