Crônica

Crônica - Herança materna por Eliana Jacob



Crônica - Herança materna por Eliana Jacob

Ela está chegando aos 90 e continua sendo uma grande inspiração para mim. Cada dia que passa, percebo que uma boa parte do que sou e do que faço tem um traço de influência sua. Por mais que tentemos resistir, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. É mais ou menos isso!
O bom astral é sua marca, sempre olhando para frente, não se deixa abater. Passou por muitas provações e, se um dia chorou, foi no banheiro. Nunca se desesperou em nossa presença, nunca reclamou da vida. Seguia firme sua rotina de cuidar da casa, dos 6 filhos e do marido. Jamais tirou férias da tarefa de cozinhar e, nisso, se aprimorou como ninguém. Ainda hoje encontro amigos da época de adolescência com saudades da comida da d. Ely.
Cada vez mais suas marcas vão se tornando claras em mim. Como ela, gosto de novelas, filmes e livros. Preciso da ficção no meu dia a dia, uma história fervilhando na minha cabeça preenchendo meus momentos vazios. Ao acordar e ao sair do banho, batom, sempre!...como ela! Minha mãe fazia unha  toda semana – era seu único luxo – tinha dia e hora certos para isso, hábito que eu também procuro manter. Deixei de usar havainas para usar um chinelo anatômico mais confortável - igual ao dela. Em casa, ouço meus passos lentos e pesados e me vejo caminhando no mesmo ritmo que ela. Os ‘vestidos fresquinhos’ de que ela tanto gosta há tempos são os meus preferidos.  
Há poucos dias vi um post que dizia: “Procure ser amiga de seus filhos para eles falarem ‘Preciso contar para minha mãe’ em vez de ‘Minha mãe não pode saber’ e percebi a grande amiga que encontro na minha. Não há nada que aconteça comigo que não corro contar para ela.
Hoje sinto que quanto mais eu envelheço, mais preciso de sua companhia, de seus conselhos, de sua escuta. Se por um lado, meu pai se foi muito cedo – quando eu tinha 28 anos - hoje, em minhas orações, agradeço a Deus por permitir a longa convivência com minha mãe. Aos quase 60, aposentada e avó, ao lado dela sou pequena, iniciante e aprendiz.