Crônica

Crônica Inimigo comum por Eliana Jacob



Crônica Inimigo comum por Eliana Jacob


Há poucos dias, li um artigo interessante da Maria Paula – atriz, psicanalista e embaixadora da paz – sobre a importância da cultura de paz. A tese do artigo é “Somos  um só povo, não podemos mais agir como adversários  ou inimigos”. Tenho pensado nisso há algum tempo. Parece que há um interesse em nos dividir  e instalar a polarização. Não seria mais inteligente construirmos uma visão pacificadora?
Estamos  vivendo o trágico momento da pandemia. Todos os dias, ao abrir as redes sociais, nos deparamos com pessoas se despedindo de entes queridos; outras  pedindo orações para amigos e familiares infectados,  fotos das vítimas desse vírus terrível. A todo instante, recebemos preces para endereçarmos aos enfermos, homenagens aos profissionais da saúde e os alertas de sempre. Como se não bastasse a doença, como consequência, vêm o desemprego, estabelecimentos fechando suas portas, miséria, fome, inflação  e, neste contexto, o inevitável aumento da violência em todos segmentos: nos lares, no trânsito, nas ruas.
Numa noite dessas,  passei pela sala e assisti ao final de um  filme  – não lembro do nome – com uma cena impactante. Havia a desconfiança de que um país estava armando uma cilada a outro; um policial passa boa  parte do tempo procurando o mentor dessa operação.  Porém,   descobre - somente no final -  que a pessoa por quem ele procurava era seu superior. Surpreso, quis entender a situação e teve como resposta: Nosso país está muito dividido; é  preciso encontrar um inimigo único, comum a todos, para que se unam novamente.
Pois bem! Aqui e agora, não vejo inimigo único maior do que a pandemia. Os países estão numa batalha contra com o tempo para conseguir vacina para toda a população e vencer esse drama planetário. Todas as pessoas, sem exceção, querem ir para a rua, voltar à vida social, abandonar as máscaras que  sufocam. Sim, agora temos um problema comum contra o qual podemos lutar.  Por incrível que pareça, entretanto, não paramos com as picuinhas de costume. São adversários políticos se agredindo, eleitores de partidos diferentes disputando a razão, imprensa botando lenha na fogueira. E o que não falta é espaço para os conflitos.
Já vi muita gente apostando que vamos sair dessa melhores e mais fortalecidos. Pela frente, os desafios são inúmeros. Mas diante do cenário atual, não tenho muita esperança de que o ser humano amadureça, pois é necessário  deixar o orgulho de lado para se chegar à cultura da paz.