Cada vez mais é preciso ter cuidado com o que se escreve nas redes sociais e nos jornais. Sinto-me pisando em campo minado tamanho o patrulhamento a que estamos expostos. A sensação é de que nada está bom o suficiente; estamos sempre mal intencionados, somos mesquinhos e nossos atos revelam – de uma forma ou de outra - uma verdade abjeta de nossa percepção da realidade.
Vejo no “Painel do leitor”, da FOLHA (27/9/2020): Acões afirmativas – “Ambev quer elevar presença de profissionais negros entre seus fornecedores”. E o leitor: “E os indígenas? Povo perseguido e massacrado desde 1500, após os irmãos Villas-Boas, ninguém mais os defende.” Em uma entrevista, Maitê Proença conta em um tutorial intitulado “faxina”, deu dicas sobre como passar o aspirador de pó para aqueles que, assim como ela, precisaram dispensar seus funcionários em razão da pandemia: “Se você, como eu, está fazendo isso pela primeira vez, recomendações (...)” E ofereceu dicas de como não forçar a coluna, não forçar só uma perna etc. E recebeu chacotas: “Força, guerreira”, “Esfrega na cara do povo brasileiro que é sua primeira faxina”, “Me poupe com seus privilégios burgueses” (FOLHA, 27/9/2020). Não está difícil?
No canal “Militantes que militaram errado”, meu neto me mostra esta: um youtuber chamado Gaules comenta: “Achou que pararia no 8, né... eu avisei que seria louco Tribo!(sic) Hoje eu sei que vencemos.. e da forma certa: Fazendo o bem! Obrigado por doar R$ 16.000,00 BLR para INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO ALTO PARAGUAI SOS PANTANAL.” E aí o vem o comentário: “Olha, sinceramente, com tanto dinheiro vc deveria doar para causas mais importantes e que não tem (sic) visibilidade nenhuma como a lgbt, mas como vc é um filho da puta desgraçado que passa o dia jogando joguinho e não liga para quem precisa. (sic) É de se esperar essa atitude.” Nesse mesmo canal, comentam o tuíte da garota: “Hoje eu estou tão feliz!” e o comentário: “Lógico, você é branca!”
O prefeito inaugura uma escola, posta o vídeo da solenidade, e nos comentários: “E meu bairro, quando é que vai ser visitado?” , “E os buracos da minha rua?” Será que não dá para esperar o momento certo para reivindicar? No Facebook, se alguém diz: “Adoro o frio!”, o outro vem e rebate: “Você sabe quantos moradores de rua morrem por conta do frio?” No dia seguinte, alguém posta: “Ah, que bom que está calor!” e vem outro e diz: “Claro, na sua casa tem ar condicionado e piscina.” Meus amigos, aqui vai uma sugestão: não digam que gostam de chuva, pelo amor de Deus!!!
Em uma live, há poucos dias, a Glória Maria - apresentadora da Globo - disse que a cultura do politicamente correto é um porre, que tudo é preconceito, assédio. Imaginem; recebeu uma saraivada de críticas.
A verdade é que está chato, muito chato viver em sociedade. Qualquer conversa vira discussão política. Diante disso, vou continuar pisando em campo minado, não por falta de argumento, mas porque tenho preguiça mesmo. Como diz uma amiga, “vamos evitar fadiga.” Ah, e antes que eu me esqueça: gosto de calor, de frio, de chuva.