Crônica

Crônica: Nas telas - Por Eliana Jacob



Crônica: Nas telas - Por Eliana Jacob

Minha amiga me conta que num passado não muito distante, ao acordar, a primeira coisa que fazia era dar um beijo no marido; hoje, vira de lado, pega o celular e vai ver as mensagens. Não adianta! Nossas vidas estão praticamente resumidas em olhar para as telas. Por mais que lutemos, em qualquer instante livre, vamos ao celular, ao computador ou televisão; parece uma muleta para escapar dos vazios e dos silêncios da vida moderna. Em tempos de pandemia, mais ainda.

Além de usarmos o WhatsApp para responder e mandar mensagens – seja para os grupos de amigos ou de familiares, marcamos consultas médicas, confirmamos nossa presença em exames, reuniões ou festas e resolvemos uma série de problemas sem nos deslocarmos. Fazemos encomendas, adiamos compromissos, tiramos foto e nos aproximamos das pessoas por meio de chamadas de vídeo. São horas e horas com os olhos pregados na telinha.

Dali partimos para o facebook e oferecemos nossos abraços aos aniversariantes e àqueles que perderam entes queridos. Rimos de postagens inteligentes, compartilhamos notícias e mensagens poéticas.  E vamos para o Instagram! Seguimos celebridades, aprendemos receitas, ficamos amigos de filósofos, artistas, chefs. E tome destinos encantados, lugares inesquecíveis, casa do sonho, tendências da moda...quando vemos, já se foi uma parte preciosa de nosso tempo.

Há sempre um boleto vencendo, então vamos para app do banco fazer o pagamento. De novo, olho na telinha. Consultamos o saldo, vemos o extrato do mês, avaliamos nossos gastos. Hora de trabalhar, mudamos de tela. Agora é o computador:  checar os e-mails. Além daqueles relacionados as nossas tarefas, vemos as ofertas de cursos, novidades do mercado livre, notícias do jornal on-line.

Chega de trabalho! Um pouco de diversão. Voltamos à telinha do celular, agora os vídeos do Tik Tok; tem dancinha, dublagens, piadas, as pessoas se soltando! A gente se levanta e, na frente do espelho, ensaia uns passinhos da dança do momento, afinal, todo mundo está dançando! De repente percebemos que já perdemos tempo demais com essas brincadeiras.

Está na hora do  Jornal. Vamos para a telona. Vemos as notícias do dia, vêm as propagandas. Depois, um filme bom que uma amiga  indicou. Às vezes, um programa humorístico, outras vezes, uma série. Parece que é a última tela do dia, porque já estamos com sono. Ledo engano! Vamos para o quarto, nos trocamos, apagamos as luzes e, antes de pegarmos no sono, pegamos mais uma vez o celular para verificar se temos alguma mensagem no WhatsApp. Damos um passeio pelo facebook e pelo Instagram. Quando finalmente resolvemos colocar o celular para carregar nos lembramos... é preciso definir o alarme na hora certa de acordarmos. Sim, precisamos urgentemente acordar.