Crônica

Crônica: O tempo passa - Eliana Jacob Almeida



Crônica: O tempo passa - Eliana Jacob Almeida

Há mais de 30 anos, a música de Paulinho da Viola  “Sinal fechado”  já descrevia a pressa do homem moderno. Dois amigos se encontram no semáforo,  esboçam o desejo de se falarem, saberem notícias um do outro, mas na expectativa de abrir o sinal e cada um seguir seu caminho, trocam perguntas soltas, rápidas, prometem marcar um encontro, se despedem e partem.
Este é o nosso tempo: tempo da pressa, da avalanche de informação, da necessidade de estar atualizado. Ninguém deseja, numa conversa, estar por fora da última notícia. Por mais que acompanhemos jornais e revistas, que vejamos televisão, internet, Facebook é impossível dar conta de tudo o que acontece no mundo.
As pressões vêm de todos os lados, a começar pelas crianças. Há pouco tempo li uma matéria afirmando que bebês que convivem com estrangeiros e ouvem mais de uma língua - quando crescerem - terão mais facilidade para aprender outro idioma. Aliás, dizia a matéria que, no Rio de Janeiro já havia creche onde bebês de 8 meses já “aprendem” inglês. Imagino que seus pais sonhem ter filhos gênios, como se isso fosse garantia de felicidade para qualquer ser humano.
Mas as pressões continuam. Todos precisam ser, além de bem informados,  magros, por isso ninguém hoje come qualquer alimento com prazer; se é muito bom, come com culpa, porque engorda; se  é muito ruim, come na marra porque faz bem – a impressão que dá é de que comida virou remédio.  Quem não sabe  que alho em jejum é muito bom para colesterol? Que a água em que deixamos quiabo cru picado é muito boa para quem tem diabetes?
Para alcançar esse corpo tão desejado, vale também fazer dietas, que variam desde a da lua, do sopão, dos carboidratos, até a famosa dieta do frango, com batata doce, de  3 em 3 horas. Uma delícia! E tome exercícios; horas e horas puxando ferro nas academias. Parece que estamos pagando todos os pecados.
Nessa busca de performance impecável, gastamos nosso precioso tempo e nosso dinheiro suado. Assim, não encontramos um minuto para ligar para um amigo ou familiar. Quando nos encontramos por acaso - como na música de Paulinho da Viola -  geralmente nos despedimos com: “ Precisamos marcar alguma coisa”, “Vê se me liga”, “Aparece!” 
E corremos para outro trabalho. Sim, porque sofremos ainda outras pressões: andar na moda, ter um bom carro para exibir nosso sucesso, estar sempre atento sobre as últimas tendências da estação.  Dessa forma, precisamos trabalhar mais, para ganhar mais, para termos com o que pagar por aquilo sem o qual não poderemos mais viver.
O tempo vai passando e a gente, perseguindo essas ilusões sem se dar conta de que  a vida  é tudo o que acontece enquanto estamos sonhando com o diploma, com o casamento, com a aposentadoria, com o corpo sarado, com o carro novo e com as cores da nova coleção. Vida é o que acontece enquanto abandonamos os amigos nos sinais de trânsito, fugindo apressados para um  compromisso qualquer , que julgamos sempre muito importante.