Há mais de um ano, vivemos uma pandemia. Tem sido muito comum falarmos e ouvirmos: “Esse ano conta?”; “Não vivemos nada, valeu alguma coisa?” Principalmente nas datas comemorativas, vem essa ideia. É verdade que estamos há um ano sem viajar, sem comemorar aniversários com festas, sem sentar com amigos num barzinho para um bom papo nem fazer um belo churrasco com a família. Nossa vida mudou muito. Tivemos que nos adaptar a novas maneiras de interagir separados pelas máscaras ou pelas telas; novas maneiras de trabalhar, sair pouco de casa, não visitar, não abraçar.
Com tanta mudança em nossos hábitos, é natural que tenhamos a sensação de não termos vivido esse período. Entretanto, assisti a um vídeo essa semana que me fez pensar diferente. Em uma conversa entre a jornalista Silvia Poppovic e o filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, ele afirma que o ano só não conta para quem morreu. Afirma que tem sido um tempo de aprendizado, de solidariedade e de possibilidades de proteger os que estão a nossa volta. Para ele, quem ficou preocupado só com suas dores e não estendeu esse sofrimento para uma dimensão maior, sim, pode crer que teve um ano inútil.
Essa conversa me impactou porque pude perceber como a nova realidade nos tornou mais empáticos. Apesar do distanciamento social tão necessário, vivemos o paradoxo de nos aproximarmos mais das pessoas por meio de campanhas, preces para os doentes, conforto aos que tiveram perdas. Quantas demonstrações de afeto para quem venceu a doença, quantas orações em frente aos hospitais, quantas lives solidárias surgiram - além das vaquinhas virtuais - para socorrer os mais necessitados!
Uma boa parte da população se tornou mais humana. Vi tio adotando trigêmeos que perderam a mãe, a vó e a tia na pandemia; vi restaurante servindo a equipe de saúde de nossa cidade; profissionais se infectando e voltando ao campo de batalha no exercício sagrado da profissão.
Portanto, não foi um ano perdido; creio mesmo que foi um ano de revelação. É nesses momentos de tragédia que as virtudes e as mesquinharias são expostas e cada um mostra quem realmente é. Para encerrar a conversa, Cortella cita uma frase de outro filósofo, o americano Ralph Waldo Emerson: “Torna-te necessário a alguém” como receita para um ano - e uma vida - útil. Em poucos minutos de prosa, ganhei essa preciosa lição.