Crônica

Crônica: “Solidariedade feminina” - Por Eliana Jacob Almeida



Crônica: “Solidariedade feminina” - Por Eliana Jacob Almeida

Um grupo de mulheres fez a diferença na vida de uma amiga que estava doente.  Separada do marido, dois filhos adultos -  já trabalhando -, longe da mãe e da irmã, ela se viu sozinha. Mas por pouco tempo. Querida demais, logo suas amigas encontraram um jeito de ampará-la. Todas as manhãs, a pretexto de aprenderem com ela a fazer tapetes de crochê, elas iam visitá-la. Assim, preparavam uma comidinha ou uma sopa; conversavam, riam e ofereciam o que tinham de melhor: amor e solidariedade.
Essas amigas me fazem lembrar de um artigo do Drauzio Varela, “Solidariedade feminina” (Folha de S. Paulo, 22/02/2014) que inicia alertando o leitor: se você só tem filhos homens, deve torcer para morrer antes deles. Caso contrário, certamente acabará sozinho em uma cama de hospital. 
Com a autoridade de quem tem mais de 40 anos de exercício da medicina, testemunha que em um leito de hospital, com raríssimas exceções, o que se vê sempre é uma mulher acompanhando um doente. É a mãe, a esposa, a filha, a vó, a nora ou simplesmente uma amiga. Os homens, diz ele, limitam-se a fazer uma visitinha de 15 minutos na hora do almoço e logo voltam ao trabalho. 
 O médico se diz obrigado a concluir que nesse aspecto, as mulheres são mais evoluídas que os homens. Entretanto, não nos poupa da parcela de culpa nessa questão, pois esse comportamento se define a partir da educação diferenciada que as mães dão aos seus filhos. As meninas cuidam dos “filhinhos” – bonecas – oferecem remédios, trocam a fraldinha, dão banho, cuidam do irmãozinho mais novo. Já os garotos são poupados porque as mães acreditam que assistir ao sofrimento humano é muito duro para seus “pimpolhos”. Assim expõem as meninas às vicissitudes da vida mais cedo e desenvolvem nelas esse instinto maternal do cuidar. 
Agora que estamos vivendo uma pandemia, quero homenagear por meio dessa turma de amigas - capaz de um gesto tão nobre – todas as outras mulheres a que se refere Drauzio Varela; todas que deixam seus afazeres de lado e vão cuidar de seus entes queridos. 
Que o exemplo delas se multiplique para que na velhice ou na doença, nós tenhamos a garantia de que não estaremos sozinhas em um leito de hospital. Como diz o Padre Fábio de Mello, em um belíssimo vídeo, que naquele momento “haja alguém para nos colocar ao sol, mas sobretudo... que haja alguém para nos tirar do sol”. Assim espero.