Saúde

Depressão, a doença silenciosa e destrutiva



Depressão, a doença silenciosa e destrutiva

Um transtorno que pode afetar de forma profunda e influenciar negativamente a vida das pessoas de todas as classes sociais, de ambos os sexos, independentemente da cor e idade. Para os especialistas, a depressão é o mal do século XXI, agravada agora pela pandemia do coronavírus em função da necessidade de isolamento social das pessoas. 

Para o psicólogo Vitor Antenore, de Fernandópolis, a depressão é uma doença curável, mas ao mesmo tempo, ela pode se instalar como uma doença crônica. Ele é especialista em psiquiatria e dependência química.

“Depressão é um transtorno emocional, um transtorno de humor que retira do indivíduo, as energias e a capacidade que ele têm para se manter ativo social e profissionalmente, e lentamente, passo a passo, ele começa a encontrar dificuldades em manter as suas rotinas diárias, de fazer atividades físicas e de relacionar com as pessoas”, explica Vitor.

Muitas vezes confundida pelopróprio paciente, o psicólogo destaca que a depressão segue o oposto da ansiedade, pois, tira do indivíduo a energia vital dele, impedindo-o de fazer as suas funções normais da forma como ele está acostumado.

“É importante ressaltar que a ansiedade é uma função natural e só vira um transtorno quando começa a atrapalhar a vida de quem a sente. Um transtorno de ansiedade gera desgaste emocional, pois o indivíduo desperdiça energia psíquica com eventos que não podem ser resolvidos no presente. A baixa energia trará desmotivação, diminuição da libido, prejuízo profissional, matrimonial e social e poderá sim dar início ao surgimento de um episódio depressivo”, ressalta.

Segundo dados da OMS - Organização Mundial da Saúde – o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos. Cerca de 5,8% da população sofre com a depressão. Esse percentual representa um aglomerado de 11,5 milhões de brasileiros diagnosticados com a doença. Eles representaram 37,8% de todas as licenças em 2016 motivadas por transtornos mentais e comportamentais, que incluem não só a depressão, mas também o estresse, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína.

OS CASOS

De acordo com Vitor, um indivíduo que passa por um episódio depressivo a primeira vez, na maioria dos casos ele nem percebe porque o associa com o estresse e acha que está cansado, que é o calor ou acredita que a vida dele está passando por uma pressão. Essa interpretação dificulta que a pessoa entenda que ela está passando por um episódio depressivo.

“Depois que ela começa a perceber que isso está demorando mais do que o que imaginava e consegue de alguma forma se relacionar com um tratamento, busca ajuda e melhora, pode desenvolver uma ansiedade de que isso se repita, que seria uma recaída”, explica.

De acordo com a OPAS - Organização Pan-americana da Saúde - estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram de transtorno depressivo. Quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde, podendo causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio.

“Não consigo me concentrar em nada. Tudo o que eu quero é dormir ou sumir de uma vez”, disse a auxiliar de serviços gerais, Carla Andréia, de 51 anos. Ela foi afastada do trabalho há sete meses, segue em tratamento com antidepressivos, mas permanece sem condições de retornar as atividades.

“Não sinto mais vontade de sair de casa nem de fazer nada. Passo o dia no sofá vendo TV ou dormindo. Engordei muito e basta começar andar que já fico cansada”, relata a auxiliar de cozinha Maria Auxiliadora Cavalcante, de 57 anos. Ela ficou afastada do trabalho por sete anos seguidos, mas foi aposentada no final de 2018 por meio de uma decisão judicial.

Sobre essa mudança típica no comportamento das pessoas que sofrem do transtorno depressivo, Vitor Antenore explica que “essa dificuldade de conseguir se manter nas rotinas, seja de excesso de sono ou a insônia, seja o excesso de inquietação ou o excesso de apatia, dificuldade para se alimentar ou o excesso de alimentação, faz com que o depressivo tende a emagrecer ou engordar, ganhar muito peso num período muito curto”.

“Já pode começar a ter ideações suicidas, não necessariamente um suicídio biológico, mas a necessidade de largar o emprego, de terminar o namoro, de abandonar os filhos, já começam a ser sintomas de um episódio depressivo”, enfatiza.

Ainda de acordo com a OPAS, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Números que colocam a depressão entre as doenças mais comuns e devastadoras da atualidade em todo o mundo.