No dia da Consciência Negra, 20 de novembro, Simone Trindade, uma das idealizadoras do projeto ‘Perceba Vida’, destaca a importância da celebração dessa data. “Por meio desta data temos espaço na mídia para a realização de eventos de conscientização. É um start pequeno, mas importante para que possamos evoluir como sociedade”.
O projeto existe há dois anos e surgiu com o desejo da fotógrafa Andreia Eloy de fazer um ensaio fotográfico com 15 meninas e mulheres com o cabelo enrolado ou crespo. “Então nos unimos e fizemos uma exposição fotográfica, um documentário e um evento, estilo talkshow falando sobre o assunto”, conta Simone.
De acordo com a idealizadora, o resultado foi surpreendente. “Muitas mulheres nos procuraram para contar suas histórias, outras nos relataram que começaram a enxergar que são privilegiadas, não porque são ricas, mas porque não sofreram nem de perto o preconceito e a discriminação por causa da cor. Outro fato interessante foi a busca de meninas e mulheres por um salão especialista em cachos, algo que até então não existia em Fernandópolis”, destaca.
Segundo Simone, o cabelo crespo representa tudo na vida de uma mulher negra. “Se aceitar é um processo doloroso. Por muitos anos a mulher negra teve que caber num padrão. Foram anos descontruindo sua imagem e identidade. Tente imaginar como foi difícil pra ela se ver bonita, se ver capaz. Na verdade o emponderamento começa com o cabelo, com a aceitação do eu, não tem como você emponderar se não ter um encontro genuíno com sua identidade”.
O emponderamento faz parte do processo de aceitação e, consequentemente, um dos responsáveis pela autoestima de toda mulher, porém ele não é capaz de combater o preconceito. “Não acredito que o emponderamento ajuda a combater o racismo. Até porque, o racismo é cultural e sua estrutura está enraizada na mente das pessoas. Para que possamos combater de vez qualquer tipo de preconceito e o racismo, é preciso mudar a mente das pessoas. Não é com emponderamento que isso acontece. Todos nós brasileiros devemos parar, olhar para as nossas mazelas, reconhecer o que pensamos e falamos e sair desse lugar”, aponta Simone.
Simone destaca que a principal luta do povo negro é pelo respeito. “O negro ainda é visto como incapaz, ladrão, pessoa não confiável, entre outros. O negro só quer ser visto como uma pessoa comum, igual qualquer outra. As vezes as pessoas falam que é coisa da nossa cabeça, mas não é. É nos pequenos detalhes do dia-a-dia que sentimos o olhar de julgamento, a exclusão em forma tímida. É tão natural o que as pessoas fazem com o negro que elas nem percebem, está no subconsciente delas. Respeito e empatia, só isso”.
Para disseminar conhecimento e emponderar novas mulheres, Simone realiza palestras em escolas e CRAS – Centro de Referência em Assistência Social – na região, mas destaca que não se trata de um movimento de lacração. “Apoio a causa, mas não compactuo com movimentos que desperta mais o ódio do que uma mudança real e concreta”, finaliza.