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Diferente da maioria



Diferente da maioria
Sábado, 1º de novembro de 2008, o salão de festas da ADPM (Associação dos Policiais Militares) estava repleto. Havia 120 pessoas de diferentes cidades e até de outro estado: São Paulo, São José do Rio Preto, Turmalina, Votuporanga, São João das Duas Pontes, Jales, Iturama (MG), entre outros. Era o sétimo ano consecutivo que aquele grupo se reunia. Este ano, porém, uma novidade: a festa era à fantasia.

Todos fizeram questão de se vestir a caráter. As fantasias, as mais diversas: vampiro, chapeuzinho vermelho, soldado romano, espanhola, kiko, enfermeira, caipira, cada um com seu estilo próprio. Apesar das diferenças, uma coisa eles tinham em comum: todos eram deficientes auditivos.

A festa foi organizada por um deles, Júnior Luiz Alves Pezati, 22, que se empenhou o ano todo para reunir os amigos. A idéia dos trajes foi o “chamariz” da festa, e todos os convidados não viam a hora de cair dentro da fantasia, pintar o rosto e surpreender o colega que não via há muito tempo.

O anfitrião da festa, Júnior, optou por aparecer de soldado romano ao lado da namorada, Camila Remedis, trajada “a la española”. A alegria e a satisfação que tomava conta do seu rosto eram visíveis. Afinal, era o sétimo ano que ele realizava aquela festa.
Segundo a mãe de Júnior, Neide Alves Pezati, a idéia de fazer a festa surgiu há cerca de sete anos, quando o filho foi convidado, por uma professora da APADAF (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos), a participar de um evento na capital que reuniu aproximadamente quatro mil deficientes auditivos. Ao retornar a Fernandópolis, ele teve a idéia de reunir todos os deficientes auditivos da cidade para se conhecerem melhor e compartilhar as experiências.

“Nós começamos este trabalho dando uma festa aqui em casa para 20 pessoas. O pessoal gostou tanto que todo ano, quando se aproxima a data, eles já começam a cobrar. No ano passado tivemos 108 pessoas no evento; este ano o número foi de 120. Ele mesmo organizou todos os detalhes da festa. Enviou convites para as associações de surdos de Jales, Votuporanga, por meio de amigos, um foi passando para o outro e a festa foi um sucesso”, disse Neide.

Diferente do que a maioria imagina, a festa é animada com muita música. Segundo Júnior, “os surdos sentem a vibração do som e podem até dançar”. Assim como os deficientes visuais - que acabam “enxergando mais do que as pessoas que se dizem normais” - da mesma forma são os deficientes auditivos. Ouvem e sentem com a voz do coração, através do milagre de Deus.
Para os que pensam que ser deficiente auditivo é motivo para desacreditar da vida e até mesmo do Criador, Júnior traz uma lição de vida: “nem lembro que tenho essa dificuldade, sinto-me uma pessoa normal e muito abençoada por Deus”, diz Júnior, sorrindo, por meio de sinais.

Além de trabalhar no comércio da cidade e estudar, Pezati dá aulas de libras na sua igreja (Assembléia de Deus) para os que têm interesse em aprender a linguagem. Para sua mãe é um orgulho vê-lo tão envolvido com tantas atividades.
“Eu já passei por muitas situações difíceis com o Junior, pois chegava nos lugares com ele e as pessoas ficavam reparando. Até que um dia eu conheci uma fonoaudióloga que ajudou meu filho a melhorar a fala. Hoje me sinto realizada por vê-lo tão bem, transformado, trabalhando, falando, usando o aparelho, namorando. Sinto muito orgulho disso tudo”, elogiou a mãe.

O maior sonho de Júnior é casar-se com sua namorada. Seus esforços têm sido todos concentrados nesse objetivo. O salário que ganha vai todo para a poupança, metade para o casamento e metade para construção da casa. O terreno eles já compraram. Se tudo der certo, o próximo encontro dos amigos deficientes auditivos não será no clube, mas na igreja, celebrando o casamento de Junior e Camila, que merecem ser felizes.