Num dia qualquer do ano de 1995, dona Irene Precinott sentiu uma inesperada vontade de fazer algo diferente pelas crianças de Fernandópolis. Pensou, pensou e chegou à conclusão de que deveria distribuir brinquedos entre os garotos, no primeiro dia do Ano Novo.
Ela comprou 50 brinquedos. Não apareceram tantas crianças assim, desejando as tradicionais Boas Festas de Ano Novo, e sobraram vários brinquedos. Dona Irene os guardou para o próximo Reveillon e, previdente, adquiriu mais 60 brinquedos que se revelaram insuficientes para atender à demanda.
Ela passou a comprar 100, depois 300, depois 500 brinquedos. Acrescentou a eles balas e pirulitos. Hoje, dona Irene distribui, na porta de sua casa, situada na Rua Pernambuco nº 2454, nada menos que 1000 brinquedos todo dia 1º de janeiro. Mais não posso dar, porque compro com o meu dinheiro. Economizo o ano inteiro para isso, diz.
Aos 66 anos, dona Irene se sente recompensada pela atitude: Deus tem me dado em dobro pelo que faço. Não tenho Reveillon, porque é preciso dormir cedo. Às 5h, já tem criança na minha porta, afirma.
De fato, os álbuns de fotos da filantropa mostram as longas filas na porta da casa da Rua Pernambuco. Ela tem todo o apoio da família, em especial da filha Altair, a mais velha. Ela sempre me diz que Deus me abençoa e que devo seguir em frente, garante.
Quem a ajuda na organização e distribuição dos presentes em geral bolas, bonecas e joguinhos é a grande amiga Lucia Creado. Essa moça tem muita disposição, é maravilhosa. É meu braço direito, assegura dona Irene.
CARIMBO
Para evitar que alguns espertinhos entrem na fila mais de uma vez, tentando receber mais de um presente, ela mandou fazer um carimbo com a frase Feliz Natal e com ele marca o braço das crianças que já passaram pela fila. Alguns tentam apagar a marca, mas sempre fica algum sinal de tinta. Um garotinho de 6 anos certa vez pediu que eu batesse o carimbo novamente em seu braço. Perguntei por quê e ele respondeu que a outra marca não tinha ficado boa, e ele queria mostrá-la para sua mãe, conta dona Irene.
Outra boa lembrança vem de um fato recente. Dona Irene pediu que a farmácia lhe enviasse um remédio. O portador era um jovem de 19 anos. Ao vê-la, ele sorriu e perguntou: A senhora não é aquela que dá presentes?. Dona Irene respondeu com uma pergunta: Você é um dos meus garotos? O rapaz, então, explicou que até quatro anos antes, era freguês assíduo da distribuição anual de brinquedos.
São coisas assim que me deixam feliz e me fazem seguir em frente, diz a simpática mecenas do 1º de janeiro.