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Diversificação de culturas põe Jales na liderança do agro-negócio



Diversificação de culturas põe Jales na liderança do agro-negócio
O lavrador Manoel Narciso nasceu em Andradina, mas aos dois anos de idade seus pais se mudaram para o município de Jales. Eles também eram lavradores, trabalhavam como meeiros em culturas de arroz. Ainda não sabiam, mas iriam se transformar, anos depois, em personagens de uma história bem-sucedida para muitos dos atores sociais do processo de diversificação agrícola que aconteceu em Jales.

O advento e o incentivo do plantio de uva – com financiamentos, informações técnicas, assistência de agrônomos – acabou até por dar um novo nome à estrada que liga a zona urbana aos locais conhecidos como Córrego do Jataí e Barra Bonita: ela virou a Estrada da Uva.

Aos 52 anos, Narciso mora com a mulher e dois dos quatro filhos na propriedade onde cultivam as uvas. “No começo, todos trabalhavam na lavoura, mas as filhas mulheres se casaram e foram para Jales”, explica.


REGIÃO QUENTE
Para ele, é mito a idéia de que uva só produz no clima frio. “Nossa região é quente, mas também tem o período frio”, diz. A poda começa em junho, no tempo frio. Narciso garante que aprendeu na prática, “aprendendo com quem já estava no ramo”. O lavrador, porém, reconhece que a Embrapa tem dado assistência a vários de seus vizinhos, principalmente nas pesquisas.

Narciso produz uva Itália, rubi, Brasil, benitaca e red glove. Diz que todas vendem bem, por terem muita qualidade. O preço, atualmente, não anda bom, segundo ele, que espera melhores ofertas. “Já vendi uva a R$ 3,20 o quilo”, garante Narciso. Hoje, informa, o preço gira em torno de R$ 1,30. O lavrador atribui a baixa do preço à grande oferta do produto no Estado do Paraná, que terminou a colheita na última semana. “Acho que, de agora em diante, o preço deve subir”, acredita.

Também o nordeste aumentou a produção – “mas a maioria da produção vai para a exportação”, esclarece.

Atualmente, a produção de Manoel Narciso vai para o Espírito Santo, para a capital de São Paulo e até para o exterior. “Mas tem que fazer um trabalho especial para colher uva especial. E minha uva não sobra na roça”, garante ele.

Apesar de ser uma cultura que dá trabalho e exige atenção contínua, Narciso a considera como uma ótima opção, pelo retorno econômico garantido e por produzir em apenas dois anos. Em apenas 1,5 alqueire, Narciso tem 3 mil pés de uva, que lhe garante o sustento da família. “Não quero expandir a área plantada”, afirma. “Quero é manter a qualidade da uva que produzo”.

O município de Jales tem 90 produtores de uva cadastrados, com um total de 170 mil pés plantados em cerca de 255 hectares. A produção anual alcança 850 mil caixas.



Mais um cavalo que passou arreado

Entre as várias oportunidades que o município de Fernandópolis perdeu para encontrar sua real vocação, nos seus 68 anos de história, está a diversificação de culturas agrícolas – ou o agro-negócio, como é chamado pelos economistas.

Há quem atribua o fenômeno ao fato de Jales ter, num território de proporções semelhantes ao de Fernandópolis, o triplo de propriedades rurais. Trocado em miúdos, isso quer dizer que Jales já fez uma reforma agrária natural, familiar, por sucessão hereditária.

Isso facilitou a implementação das culturas hortifrutigranjeiras, das quais a uva é o carro-chefe.

Fernandópolis, por seu turno, ainda se caracteriza pela existência de grandes e médias propriedades, onde por décadas reinaram as invernadas e agora impera a cana-de-açúcar que abastece as usinas.

Malgrado a excelência dos técnicos agrícolas da Casa da Agricultura de Fernandópolis, o fato é que os produtores sempre se mostraram conservadores e evitaram ao máximo se arriscar em novas experiências.

É certo que o Brasil há muito não possui uma política agrária, e no governo Lula isso chegou a um grau de paroxismo. Só que, por sua própria conta e risco, os jalesenses arriscaram. E acertaram.