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Douglas, de 8 anos, atravessa a pista. Ele pode morrer



Douglas, de 8 anos, atravessa a pista. Ele pode morrer
Todos os dias, o pequeno Douglas e Rosângela, sua mãe, arriscam a vida para chegar em casa ou à escola. Assim como eles, centenas de moradores do Jardim Ipanema e Jardim Redentor correm risco de morte para trabalhar, estudar ou simplesmente transitar entre os bairros, situados cada um de um lado da Rodovia Euclides da Cunha. Não existe uma passarela.

O local é considerado o pior “ponto negro” da rodovia, que liga Mirassol a Rubinéia, pela alta incidência de atropelamentos, a maioria fatais. Apesar dos insistentes pedidos de políticos e sociedades de bairro, o governo jamais solucionou o problema.

O ponto de ônibus circular fica no Jardim Redentor e os moradores do Ipanema precisam atravessar a rodovia cerca de quatro vezes por dia. Há muitas crianças que também atravessam, para empinar pipas num descampado do Redentor.

Segundo um agente de operações do DER, estudos rigorosos estão em andamento, sob a chefia do engenheiro Natal Takashi Arakawa, “Mas não haverá uma solução sem a colaboração da Prefeitura Municipal de Fernandópolis”, disse o agente que atendeu a reportagem por telefone. Ele não quis se identificar nem esclareceu que tipo de colaboração seria essa.


COMPETÊNCIA
“A única coisa que nós, vereadores, podemos fazer é indicar a necessidade da obra. Ela compete ao DER, ao governo do Estado”, disse o vereador Etore Baroni (PSDB), que defende “uma conscientização da população, sem o que o problema não será resolvido”. O vereador se justifica: mesmo onde há passarela, como nas proximidades da rodoviária, muita gente se arrisca e atravessa pela pista.

Quilômetros adiante dali, porém, onde o Ipanema e o Redentor se alinham frente a frente, não existe o recurso. Esta semana, a reportagem encontrou as irmãs Silvéria e Maristela Pires de Holanda, moradoras do Jardim Ipanema, caminhando pelo acostamento em direção à Incubadora Empresarial, onde trabalham numa fábrica de confecções.

“O horário de pico é por volta das 18h”, garante Silvéria. ”É quando acontece o maior número de acidentes”.

Maristela lembra que o Posto de Saúde da área fica no Ipanema, ou seja, do lado oposto da pista em relação à maior parte da cidade. Assim, os moradores do Redentor e do Paulistano têm que atravessar a pista para obter auxílio médico. Depois de atenderem gentilmente a reportagem, Silvéria e Maristela seguiram seu caminho. Cerca de 300 metros à frente, elas viveriam a angústia diária de atravessar a estrada perigosa.

O comerciante Gumercindo Faria, que há anos mantém um bar no Jardim Ipanema, disse que já participou de várias reuniões com o engenheiro Arakawa, mas nada de concreto foi feito até agora.

Gumercindo só não reclama da poeira que vem de um areal em frente seu estabelecimento. É que a prefeitura abriu esse espaço para que, ali, o ônibus escolar possa apanhar os estudantes. “Pelo menos assim eles atravessam em segurança”, conforma-se o comerciante.

Segundo se apurou, consta na legislação de trânsito que para esse tipo de obra, é necessário estudar o volume de veículos, a velocidade e a sinalização. Não é permitida a colocação de lombadas em rodovias de trânsito rápido.

O problema vem sendo jogado mais à frente pelos sucessivos governos estaduais. E, enquanto isso, os Douglas, Rosângelas e Maristelas da vida se arriscam todos os dias, para angústia de Gumercindo, dos pais, de toda a comunidade dos dois bairros pobres. Eles são verdadeiros sobreviventes urbanos, vítimas do descaso e da indiferença oficiais.