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Dr. Luiz Baraldi: 50 anos a serviço da Medicina



Dr. Luiz Baraldi: 50 anos a serviço da Medicina
Dia 18 de outubro, próxima sexta-feira, é comemorado o Dia do Médico e este ano a data tem um significado mais que especial para o médico pediatra Dr. Luiz Antonio Baraldi: ele está completando 50 anos de sua formatura. A comemoração já tem data:  25 de outubro. Neste dia, a turma de 1969 da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo se reúne para confraternização. Luiz Baraldi, filho do casal Odete e Waltrudes Baraldi nasceu em São José do Rio Preto, mas veio para cá com dois meses de idade, isso em 1945. Os pais moravam na Brasilândia. Passou a infância em Fernandópolis e aos 12 anos saiu para estudar e só voltou em 1974 já formado. Casado com Marcia Maria Sales Bittencourt, teve quatro filhos: Marcelo, Ana Paula, Ana Beatriz e Ana Claudia.  Apenas a caçula, Ana Claudia, seguiu o pai na medicina.  Aos 74 anos, o médico pediatra que cuidou de várias gerações de crianças, sempre foi um apaixonado pela cidade, hoje menos, mas nunca quis entrar na política.  “Eu tive muitas oportunidades e sempre recusei, justamente porque o meu pai foi político e teve muitos prejuízos financeiros na política”, disse nessa entrevista 
ao CIDADÃO, concedida em seu consultório médico. Veja:
 
O senhor está completando 50 anos na medicina. Ser médico foi influência do pai? 
O meu pai (Dr. Waltrudes Baraldi) era médico e tem aquela coisa de idolatrar, respeitar, a profissão do pai. Quando terminei o colegial, decidi prestar o vestibular de medicina e Graças a Deus conseguimos a aprovação. Quando comecei o curso, não tinha noção da especialidade que iria fazer. Naquele tempo não tinha tantas especialidades como agora. Nunca tinha pensado em pediatria. Com o tempo passando, com as várias descobertas dentro do estudo, isso me atraiu para essa área. Resolvi fazer pediatria e não me arrependo, porque é uma atividade que sempre gostei. Se tivesse que escolher novamente, escolheria a pediatria.
A partir de quando começou praticar medicina em Fernandópolis?
Eu me formei em 1969, aí tive que servir o exército e fiquei um ano no Mato Grosso. Tive que servir o exército porque na época do vestibular, para não atrapalhar o meu estudo, pedi dispensa do serviço militar. Mas, a dispensa me foi concedida com a condição de, após formado, servir um ano de exército. Foi assim que fiz. Só que eu achava que iria servir o exército em São Paulo, mas me mandaram para o Mato Grosso. Fiquei servindo um ano no Batalhão localizado na cidade Nioaque (cidade que hoje fica no Mato Grosso do Sul após a divisão do Estado em 1977). Naquela época, para chegar lá era tudo estrada de terra. Quando terminei, voltei para São Paulo para fazer a residência médica em pediatria. Terminei em 1972 e fiquei mais dois anos em São Paulo e em 1974 retornei para Fernandópolis. 
A sua turma de Medicina vai se reunir para comemorar os 50 anos?
Sim, no dia 25 de outubro. A nossa formatura foi no dia 15 de dezembro, mas a comemoração vai ser agora no dia 25, oportunidade para a gente reencontrar os que ainda estão neste planeta (risos). 
Nesse período de 50 anos, a medicina experimentou grandes avanços. Como foi acompanhar as mudanças?
A medicina evoluiu muito na parte tecnológica, isso é inquestionável. Eu costumo dizer, trabalhando com os alunos do curso de Medicina, que naquela época o exame de imagem que tinha era a radiografia. Não tinha nada dessa tecnologia de hoje, ultrassom, ressonância, tomografia. Mas, essa tecnologia sofisticada, não substitui a parte do contato do médico e paciente. Isso está colocado em qualquer livro e qualquer texto moderno de medicina. Não pode ser desprezado esse procedimento, de você (médico) conversar com o paciente, perguntar, fazer um interrogatório detalhado para chegar ao diagnóstico. Isso é fundamental, apesar da tecnologia. A Organização Mundial de Saúde e publicações sobre o assunto dizem que, quando o médico vai fazer a consulta, tem a anamnese (exame para se conhecer o histórico do paciente através do interrogatório) e o exame físico. Os exames laboratoriais são chamados de exames complementares ou subsidiários. Uma anamnese bem feita leva ao diagnóstico em 60% dos casos. Com anamnese e exame físico, você chega ao diagnóstico em 75 a 90% das vezes, porque a maioria das doenças do ser humano é simples. Poucas doenças são mais complicadas e precisam ser complementadas com exames. 
E o paciente mudou nesse período? 
Mudou e muito. Todo mundo se lembra da frase, “Depois de Deus é o médico”. Mas isso, era quando o médico tinha poucos recursos de exames para diagnóstico e tinha mais o contato com o paciente. Todo mundo acreditava mais no médico, por menos que ele soubesse e por menos exames que fizesse. O tempo foi passando e os procedimentos médicos foram mudando e os pacientes também. Com a tecnologia e o “Dr. Google” os pacientes chegam hoje no médico já tendo pesquisado um monte de coisa e sabendo das possibilidades sobre aquela doença que ele imagina que tenha. Baseado nisso, o médico hoje tem que se precaver mais do que antigamente, quando o pessoal aceitava muito mais o diagnóstico. Hoje o paciente exige mais do médico. Outra situação que mudou muito é a judicialização da medicina, muito mais que antigamente. A judicialização da medicina também ajudou a mudar essa relação médico-paciente. Essa é uma das razões para que o médico hoje peça mais exame, é para se proteger. Mas, o que mais mudou foi proliferação das escolas médicas, Isso é um assunto muito discutido, porque é obvio, quanto mais proliferam escolas médicas, mais aumentam a dificuldade de controlar a qualidade ideal para formação dos médicos. Isso é um problema que o Brasil vai ter que resolver, não vai poder continuar nesse caminho.
Está faltando um pouco mais de vocação em quem busca o curso de Medicina? 
Esses dias estava lendo um texto médico de um professor de São Paulo, Dário Birolini, uma sumidade em medicina intensiva, clínico e cirurgião, ele dizendo sobre a profissão médica. Entre outras coisas, ele disse que a pessoa não pode se formar pensando no lucro que vai ter na medicina. O lucro tem que ser consequência e não o fim absoluto. Se perguntar para mim: Todos pensam assim? Claro que não. Em nenhuma atividade humana, todo mundo pensa igual. Mas, um médico bem sucedido, que faz da sua profissão o que deve ser feito, de acordo com o código de ética, consequentemente ele vai ter lucro. Mas, muita gente hoje procura a medicina porque tem emprego e ganha bem. Com essa proliferação, não tem como negar. Você acha que muitos que se formam têm vocação? Não, a medicina é apenas uma profissão que ele escolheu. Penso que não seja a maioria. Digo isso porque a gente trabalha com alunos de medicina no ambulatório do Pôr do Sol. 
Como médico, o senhor atendeu na Santa Casa e hoje é professor no curso de Medicina. Como analisa estes últimos casos envolvendo Santa Casa e Universidade Brasil?
Esse é um assunto que nem gostaria de conversar, me deixa muito triste. Durante muitos anos eu era muito empolgado, fui um dos fundadores da Associação de Amigos em 1979. A gente trabalhava com entusiasmo pelas causas da cidade. A Santa Casa estava num crescendo, teve uma época, no tempo do finado Tom Zé (Antonio José Zaparolli), que a gente estava falando em hemodinâmica, trouxemos equipe de Rio Preto, a Santa Casa só crescendo, ganhamos uma pediatria nova, depois veio o IAcor, passamos a ter neurocirurgia, a Dra. Goreth fazendo aquele atendimento regional de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Vamos dizer assim: a Santa Casa estava bombando. E ai ela foi decaindo e hoje, infelizmente, com todas essas coisas que aconteceram não tem como a gente não ficar triste. E a faculdade de medicina? Qual não foi a nossa alegria com essa conquista. A gente lembra da nossa dificuldade, vendo as cidades vizinhas com faculdade até que chegou a FEF e devagarinho começou com a faculdade enfermagem. Um belo dia, o prefeito trouxe uma pessoa que instalou a Unicastelo. Nunca me esqueci daquele dia no gabinete do prefeito ainda no prédio da Rua São Paulo, quando o finado professor João Mauricio veio anunciar a criação dos dois primeiros cursos (Agronomia e Veterinária). Estava lá, ao lado do Cesar Filho (Alencar Scandiuzi). Foi um dia grandioso para Fernandópolis. Naquela época, ninguém imaginava, ou sonhava, que ele (João Mauricio) poderia trazer uma faculdade de medicina pra cá. Veio a faculdade, ela começou com dificuldades e foi caminhando, depois assumiu essa nova administração e não passava pela cabeça de ninguém que todas essas coisas poderiam acontecer, infelizmente. Agora só cabe a nós torcer, trabalhar da maneira que gente pode, para que isso se reverta e entre numa trilha para continuarmos com a faculdade, mas no caminho correto, porque do jeito que estava é impossível, não tem como continuar.
Como anda sua paixão por Fernandópolis?
Eu fui muito apaixonado e agora, pela própria idade, a gente vai cansando. Por exemplo, hoje (terça-feira) tem reunião da Associação de Amigos, vamos lá, participar. Agora, aquele tipo de empolgação que tínhamos na época que acabamos de relatar, confesso que não sinto mais, não. São várias as coisas que aconteceram que mostraram que a cidade tem uma espécie de deficiência que não consegue manter adequadamente aquilo que recebe, que conquistou. Eu costumo dizer, não tem como negar, mas na minha opinião, nós fernandopolenses, não o povo todo, mas os responsáveis pela cidade, as lideranças, fomos incompetentes. Já falei isso em vários encontros e não consigo encontrar outra forma para definir a situação, de tanta coisa que tínhamos nas mãos e não tivemos competência para avançar, para melhorar. 
Já pensou em “pendurar” o estetoscópio?
Não. Se reparar, médico não para de trabalhar nunca. Acho que ninguém deve parar de trabalhar. Você pode se aposentar, mas parar de trabalhar, não. Tem que ter um objetivo, um trabalho, acordar de manhã, agradecer a Deus por mais um dia de vida e saber que tem algo a fazer. Não penso em parar nunca, a não ser quando minha saúde física e mental não permitirem que trabalhe mais na medicina. Vai chegar uma hora que isso será inexorável. Na pediatria de atendimento, já diminui muito meu ritmo de trabalho. Não dou mais plantão, não atendo mais na Santa Casa, isso é decisão minha. Mas, trabalho todo dia, o dia todo, no ambulatório do Pôr do Sol e aqui no consultório, trabalhando com os alunos e atendendo crianças. 
O seu pai chegou a ser vereador e quase se candidatou a prefeito. O senhor nunca quis entrar na política?
Não esperava que fosse fazer essa pergunta. Eu tive muitas oportunidades de entrar na política e sempre recusei, justamente porque o meu pai foi político e teve muitos prejuízos financeiros na política. Essa foi a principal razão. A segunda, acho que infelizmente na política brasileira a pessoa para entrar precisa ter um coração forte, porque vai ouvir muitas mentiras contra ele, contra a família, vai enfrentar frustrações na tentativa de realizar o que pretende para a população. Tem que ser forte, do ponto de vista físico e mental, para suportar tudo. Eu fiz um auto análise desde quando tinha 40 anos e vi que não tinha essa condição, penso até que não conseguiria sobreviver. Eu já tive problemas cardíacos por causa de ansiedade, tensão. Mas, o que me afastou mesmo foi o fato do meu pai ter tido muitos prejuízos financeiros com a política e não queria correr esse risco.
O que representa comemorar o 50º Dia do Médico?
É uma satisfação, até porque estamos vivo e com saúde (risos). Quando estava começando na medicina, essa data era muito longínqua, não imaginava que chegaria aos 50 anos de profissão. Mas, hoje estamos vivendo muito mais. Meu pai, por exemplo, morreu precocemente. Será uma alegria muita grande rever os colegas de formatura (no dia 25), apesar de hoje com a internet a gente vê e conversa com os colegas a todo instante. Antigamente, fazia 40 anos que não via e não via mesmo. Deixo aqui uma mensagem: a medicina é profissão que te dá muitas alegrias. Posso dizer que temos mais alegrias que frustrações.