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E Deus mandou chamar Jatyr, o “Capeta”



E Deus mandou chamar Jatyr, o “Capeta”
Faleceu na madrugada desta quinta-feira, 19, com 77 anos, o comerciante Jatyr Martins de Souza, conhecido como “Capeta”. Ele havia sido internado na Santa Casa para tratar de uma pneumonia. Político, ex-vereador em Fernandópolis, “Capeta” era amigo pessoal do deputado federal e ex-governador Paulo Maluf, que inclusive ganhou em agosto passado um prêmio de cerca de R$ 20 mil na lotérica que Jatyr administrava em Fernandópolis.
Na sua terceira edição, de 24 de setembro de 2005, CIDADÃO publicou um perfil do falecido comerciante, eterno apaixonado por Fernandópolis, cidade que adotou definitivamente. Abaixo, a reprodução (coluna “Nossa Gente”).

Em janeiro de 1948, chegava a Fernandópolis para trabalhar no Banco Brasul de São Paulo um rapaz conversador e agitado. Logo lhe deram o apelido que o acompanharia para sempre: “Capeta”.
Ele casou-se com dona Malvina Araújo de Souza, teve os filhos Douglas (casado com Marisa) e Miriam (casada com Pedro), os netos Alessandro, Ana Paula, Ana Carolina, Ana Cláudia, Camila e Fernanda e os bisnetos Mateus e Luis Henrique, o “Kiki”.
Só ficou algum tempo longe da cidade, em 1964, porque o banco o nomeou para substituir o gerente de Dourados (MS). Do Brasul, só iria sair em 1969, porque fora mandado para uma agência em Copacabana, no Rio. Capeta preferiu ficar em Fernandópolis, pediu demissão e em 1970 inaugurou o “Corujão da Sorte Loterias”.
Naquele tempo, só existia a loteria esportiva, além da federal. Capeta conseguiu a licença da Caixa Econômica, antes até do que as lotéricas de Rio Preto. A pedido do superintendente, aguardou até o teste nº 49 da loteca para começar a funcionar – junto com as colegas de Rio Preto. Já no teste 50, ele vendeu um prêmio de 989 mil cruzeiros, um dinheirão. Só que na época era preciso preencher o nome no cartão, e o vencedor, Odenir Lopes, escreveu seu nome invertido: “Rinedo Sepol”. Deu a maior confusão, a Caixa não queria pagar. Foi preciso contratar advogado, mas o ganhador acabou recebendo o prêmio.
Tempos depois, era Cecílio Pistelli quem ganhava um grande prêmio: 656 mil cruzeiros. O taxista Pedro Borim, certa vez, fez uma corrida a Brasitânia, a mando do Capeta. Em vez de dar-lhe dinheiro, Capeta pagou-o com bilhetes. Resultado: deu na cabeça, o homem colocou o prêmio na poupança e tempos depois comprou uma casa para cada filho.
São muitas as histórias que ele conta, entre bilhetes e “raspadinhas”, enquanto comanda a casa e atende sua gerente Márcia Cristina Nílio, há 15 anos na lotérica. Considera Márcia seu “braço direito”.
Capeta foi vereador entre 1969 e 1972, elegendo-se num pleito conturbado, no qual o advogado Fernando Jacob, candidato a prefeito do seu grupo, perdeu para Leonildo Alvizi. Nos comícios, guardava-se o discurso do Capeta para o final, para segurar o público. Todos queriam ouvi-lo, porque ele sempre tinha alguma notícia bombástica para revelar.
Foi delegado da Arena, na convenção paulista que escolheu Paulo Maluf como candidato do partido ao governo do Estado, derrotando Laudo Natel. Muito antes disso, acompanhou o prefeito Edison Rolim numa viagem a São Paulo. Correra o boato de que a Delegacia da Fazenda, que existia em Fernandópolis (comandada pelo já falecido Ari Cera Zanetta) seria transferida para Presidente Prudente. Capeta conta que nem o fato de Rolim apresentar-se como compadre do governador Jânio Quadros adiantou. O prefeito, então, disse ao Secretário da Fazenda que jamais poderia voltar para Fernandópolis, tamanha a vergonha que sentia. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. O secretário acabou rasgando o papel.
É assim o Capeta, sempre atento ao noticiário político, bem informado e preocupado com a cidade.