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Em busca do nacionalismo perdido



Em busca do nacionalismo perdido
Aproveitando os duzentos anos da efeméride, 1808, D. João 6.º e a corte portuguesa aportam no Brasil. Quiçá, o acontecimento mais importante de nossa história. A monarquia, cá instalada, legou-nos a independência, a integridade do território, o império. Mais que tudo isso. A presença aqui do poder real trouxe-nos uma idéia de potência. De centro do continente.

Contudo, ao longo do tempo, renunciamos à liderança e ao comando da América Latina, que seriam nossos, com raro esforço, com naturalidade. Talvez, para não assumir tamanha responsabilidade, preferimos nos diminuir, diante dos outros e de nós mesmos. A começar por certa vocação de narrar eventos históricos pelo lado prejudicial ao Brasil. Depois, pela não construção ou pela demolição de ídolos brasileiros. E, por fim, pela sagração de personagens estrangeiros, o que é a maior evidência de nosso rebaixamento. Parece que gostamos de marcar gol contra.

D. João 6.º, invariavelmente, é retratado como um bufão. Um palerma. Um covarde. Um monarca que abandonou seu povo. Desse jeito, seria a imagem de nossos governantes futuros. Pouco se diz que ele retornou a Portugal com a coroa na cabeça, enquanto Napoleão caia. Relegam sua significância na manutenção da unidade territorial brasileira, ao mesmo tempo em que a América espanhola se fragmentava em vários outros pequenos países. Os que massacram D. João VI não fizeram a si a seguinte perguntinha: Por que o Brasil é deste tamanho, e uno, enquanto existem diversos países que falam a língua espanhola nas Américas?

D. Pedro I - não que tenha sido um grande chefe - chega a ser retratado como a realeza borra-calças, literalmente, durante a independência. Além de adúltero, paspalho e assim por diante. Mas nossos estudiosos vêem força em Bolívar, ou nos heróis castelhanos. Ou seja, os daqui são estúpidos; porém, os outros não são só bons, mas também indefectíveis.

Nossa historiografia é menos agressiva com D. Pedro II. Ainda assim, não reconhece nele o grande gestor da nação. Opta-se por não reafirmar que o separatismo não teve vez com o Imperador, que manteve nossa união, sem o derramamento de sangue fraterno, como na guerra de secessão norte-americana. E mais. A violência externa foi rechaçada. Os paraguaios sabem bem disso. Porém, nada disso nos é ensinado como algo de bom. Doutrinam nossas crianças dizendo que nós fomos maus diante do coitadinho Solano Lopes.

Caxias, então, de maior general das Américas foi transformado em símbolo de homem careta. Ele, que lutou pelo Brasil em várias batalhas, sexagenário, na defesa de nosso Brasil, ainda empunhava sua espada no chaco paraguaio. Todavia, nada nele serve. Chamar alguém hoje de ‘caxias’ indica algo pejorativo, ruim. Isso é de lascar.

As faculdades, principalmente, e a mídia elegem o argentino Che Guevara como herói máximo do continente. Muitos nem sabem direito quem foi esse sujeito. Aliás, gostam de escrever que grandes homens foram Marx, Lênin e até (vejam só) o ‘humanista’ Stalin. E não são poucos os estudiosos e políticos brasileiros que agora defendem Hugo Chaves, Evo Morales, Rafael Correa e Fidel Castro. Pergunta-se: o que essa turminha toda fez de bom pelo Brasil?
Ou, o que eles fizeram de melhor para nós do que D. João VI, D. Pedro II e Caxias? Ou, será que lá na Argentina eles ficam lambendo algum brasileiro por seu heroísmo?

Para quem teve a paciência de ler este texto, confesso: estou um tanto quanto enjoado dessa bajulação de estrangeiros, aqui dentro do Brasil. Gente que nunca fez nada por nós e recebe aqui tratamento de herói, como é o caso de Che Guevara. Isso já me cansou, profundamente. A ponto de nem conseguir mais ver aquela fotinha de Guevara olhando o horizonte.

Gosto de ouvir aquele hino cantado nos estádios, nas partidas de futebol: “eu … sou brasileiro … com muito orgulho … com muito amor .. or”.

(Evandro Pelarin – Juiz de Direito da 1.ª Vara Criminal e da Vara da Infância e Juventude)