Saúde

Em meio a pandemia, médico alerta para casos de hanseníase



Em meio a pandemia, médico alerta para casos de hanseníase

Outubro rosa, novembro azul, janeiro roxo... Você certamente já ouviu falar em alguma dessas campanhas voltadas à prevenção de doenças. Todos os meses do ano carregam uma cor de alerta para chamar a atenção e conscientizar as pessoas para a importância de cuidarmos da saúde e priorizar a nossa qualidade de vida.
Em meio a pandemia da Covid-19, que domina as atenções do mundo, não se pode descuidar de outras doenças que estão presentes no dia a dia das pessoas. Elas não deixaram de existir por causa do coronavírus. 
Janeiro roxo, por exemplo, tem a função de esclarecer a população sobre sintomas, prevenção e tratamento da hanseníase, doença que causa incapacidades físicas permanentes, principalmente nas mãos, pés e olhos. 
O médico infectologista do Cadip – Centro de Atendimento a Doenças Infectocontagiosas e Parasitárias -  Márcio Gaggini, também atuando na linha de frente da Covid-19, diz que não se pode descuidar dessa doença milenar que ainda está entre nós, com grande número de casos. 
“Mesmo com a pandemia, a equipe do Cadip continuou buscando o diagnóstico da doença, principalmente por pessoas que tiveram contato com paciente doente. E esse contato pode ser de anos, porque é uma doença que demora para apresentar os sintomas, de dois a sete anos, tem casos até de mais de dez anos”, explica o médico. 
Desde que Fernandópolis realizou um treinamento para diagnóstico de hanseníase em 2019, houve um salto na identificação de novos casos. “Saltamos de 28 casos em 2028, para 72 em 2019. Em 2020, mesmo com os efeitos da pandemia, foram notificados 45 casos. 
“Parece que não é um resultado bom diagnosticar casos, mas isso é bom para o paciente. Quanto mais precoce for o diagnóstico, menos sequelas neurológicas ele terá”, esclarece. 
Gaggini chama a atenção para outro fator. “Durante muitos anos criou-se o estigma da hanseníase ser uma doença de lesão dermatológica. Ela tem várias formas de lesão dermatológica, lesões de pele, mas a gente deve ter em mente que ela é uma doença neurológica primária, ou seja, primariamente o paciente terá alteração nos nervos que a gente chama periférica. Vai ter queimação, perda da força das mãos, ardor, fala-se que dá um choque, perda da sensibilidade nas mãos e nos pés. Reconhecer esses sinais antecipa o diagnóstico e facilita o tratamento. “O que a população precisa ter em mente é que ficar atenta não apenas às lesões de pele, mas também as lesões neurológicas”, alerta. 
No Cadip, quando o paciente chega passa por uma avaliação de pele e de nervos pela equipe de fisioterapia. O tratamento ainda exige muito do paciente com efeitos colaterais. Os casos mais leves o tratamento dura em torno de seis meses. Os mais graves o tratamento se estende por um e até dois anos. 
Gaggini citou ainda um trabalho na cidade, que é referência regional, e que está investigando pacientes que não tiveram melhora clínica ao final do tratamento. 
“Investigamos 28 pacientes nessa situação e desses, 27 permaneceram com a doença mesmo depois do tratamento. Ou o paciente reinfectou com a doença ou, infelizmente, o tempo de tratamento ou o medicamente foi eficaz naquele momento. A resistência ao tratamento é um problema que poderemos enfrentar nos próximos anos”, explicou.