Numa época em que abundam os hipermercados, lojas de departamentos e compras pela Internet, há um tipo de instituição, herdada da cultura portuguesa, que resiste a todas as mudanças: o empório, ou armazém, ou venda, o nome não importa.
Quem tem mais de 40 anos certamente se lembra das antigas vendas com produtos diversos nas prateleiras ou pendurados nas paredes ratoeiras, panelas de ferro, imagens de santos, filtros, guaiacas de montaria, barbatanas para colarinho e uma infinidade de produtos.
Elas não têm o charme visual dos grandes templos de consumo da atualidade, nem o néon dos shoppings. Por outro lado, nelas é possível encontrar produtos que aqueles estabelecimentos metidos a chiques até desconhecem.
Onde encontrar, por exemplo, creolina ou água velva? Tente o leitor achar esses produtos no shopping center...
No Bar e Empório Nossa Senhora das Graças, por exemplo, é possível beber uma dose de Fogo Paulista, Quinado Dubar, Vinho Burrinho ou FQF. Será que o garçom do elegante Bartoshow já ouviu falar dessas bebidas?
O Nossa Senhora das Graças, situado na Avenida dos Arnaldos e inaugurado em 1972, mantém nas prateleiras produtos variados, que vão de ferramentas agrícolas a bonecas.
Seu proprietário, Olívio Gazola, de 70 anos, faz questão de manter o estilo. Os balcões são de madeira, assim como as velhas prateleiras. Ali também o freguês encontra doces de abóbora em forma de coração, tralha para pesca, linhas de costura e até facas, dos mais variados tipos, marcas e tamanhos.
Variedade é o que não falta na Casa Portuguesa (Avenida Paulo Saravalli), estabelecimento fundado há exatos 50 anos pelo português Manoel Marques Rosa homônimo do cidadão que deu nome à antiga Avenida 8. Nascido em São José das Matas, na Beira-Baixa, em Portugal, Mané começou a vida como caixeiro-viajante das Casas Dias na região de Catanduva.
Em 1957, inaugurou a Casa Portuguesa em Fernandópolis, uma espécie de supermercado em miniatura, como a classifica o freguês João Pereira Fraga, 49, que freqüenta o lugar desde a adolescência.
Manoel conta que tem fregueses que compram na sua loja desde a inauguração. Famílias tradicionais da cidade os Esteves, os Belucio, os Bonassi, entre outros são fiéis ao velho armazém. Sou do tempo em que os acertos eram feitos na época da safra, revela Manoel, orgulhoso.
Embora a velha caderneta de fiados tenha sido aposentada e substituída pela nota fiscal, ele ainda adota o sistema da confiança. E garante que seus fregueses são pontuais no pagamento.
Logo Fraga e Manoel, cada um de um lado da antiga balança Filizola que existe sobre o balcão, engatam uma conversa saudosista, lembrando pessoas e costumes que não mais existem. Recordam-se dos fardos de bacalhau quando o bacalhau era barato -, da qualidade do material com que se fabricavam as pás, enxadas e carriolas. Ao final, Manoel filosofa: Infelizmente, esses tempos não voltam mais.