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“Estou me afastando, mas deixo um trabalho solidificado”



“Estou me afastando, mas deixo um trabalho solidificado”
Aos 50 anos de idade, 22 de ministério pastoral e oito como padre da Igreja Matriz de Fernandópolis, o pároco Carlos Augusto Fabbri comunica que irá se afastar de suas funções no próximo ano para tratamento de saúde. Em fevereiro, Carlos irá fazer uma cirurgia na perna esquerda – que possui oito parafusos, devido a um acidente que sofreu em 2002 – e precisará de tempo para se restabelecer. Durante a entrevista Fabbri faz uma retrospectiva do seu trabalho na cidade e agradeceu a todos que contribuíram de alguma forma com o seu ministério.

CIDADÃO: A partir de 2009 o senhor deixará a paróquia da Igreja Matriz?
PE. CARLOS: Sim. Eu estou com oito parafusos na perna esquerda, fruto de um acidente de carro em 2002, vou operar essa perna no início do próximo ano. Eu tive um AVC (Acidente Vascular Cerebral) do lado direito e complicou muito. Era para eu ter morrido, o médico perguntou para mim: - Carlos, você quer tomar essa injeção - custou R$ 3,5 mil - é a salvação, mas pode também ser a morte. Quer tomar ou não? – Eu disse, doutor, eu tenho outra saída? – Ele disse não. – Então aplica, pelo amor de Deus. E que seja feita a vontade de Deus. No primeiro AVC que me deu, eu fiquei muito paralisado, mas graças a Deus, devagar estou me recuperando. Então devido a esses problemas, o bispo me deu um ano de férias. Ele está me afastando da paróquia e colocando um novo padre para que eu possa me tratar. E em 2010, só Deus sabe, posso retomar aqui ou se estiver muito bem possa assumir outra paróquia.

CIDADÃO: Para quando está marcada a cirurgia?
PE. CARLOS: Está prevista para fevereiro. O médico disse que no segundo dia já estarei andando, pois é rápida a recuperação. Mas ainda tem as fisioterapias. E o AVC também está me consumindo, não posso ficar desse jeito, sem memória. As pessoas me procuram, mas eu não lembro o nome, às vezes, é chato isso. Eu dou atendimento no escritório, faço aquilo que posso, mas tudo muito limitado. Então eles não podem ficar sem padre até o fim do ano. Essa cirurgia será realizada em Rio Preto, mas depois eu venho para Fernandópolis para me restabelecer, pois eu vou continuar morando na paróquia. Mas o bispo não quer que eu reze nenhuma missa, ele disse que se eu tiver vontade de rezar uma missa, que eu reze do lado de alguém, pois não me quer sozinho. Vamos ver se vou agüentar.

CIDADÃO: Como o senhor avalia os oito anos que esteve à frente da paróquia?
PE. CARLOS: Foram oito anos de muito trabalho e de muitas amizades. O primeiro trabalho nosso foi a realização da festa de São Sebastião. Era uma festa que eles não queriam que passasse de uma sala de almoço. Hoje nós temos três salas e a gente sempre consegue mais de 100 cabeças de gado, fora os quatro leilões. É impressionante o que a gente conseguiu. E é um trabalho de evangelização porque as pessoas têm que aprender a servir, têm que estar dispostas e não ganham nada para isso. E de 2002 para cá, eu tenho dado toda renda do almoço para a periferia que precisa mais. A gente só fica com o leilão de gado, porque embora o dízimo, atualmente, esteja dando para pagar as despesas no geral, tem muitas despesas extras na comunidade. Por exemplo, fiz recentemente a reforma do salão da Aparecida e não pedi dinheiro para o pessoal, porque eu tinha, guardei nesses oito anos. Só o piso que eu não queria fazer, mas o engenheiro insistiu muito, disse que iria fazer campanhas para arrecadar o dinheiro, mas acabou não dando certo e a gente teve que arcar com tudo. A comunidade acabou pagando 80% das despesas. É impressionante o que essa comunidade faz. A segunda realização: os arrastões de solidariedade, nós não tínhamos, agora já estamos no oitavo ano. Depois vieram as modificações que fizemos no Ejocri, mudamos as dinâmicas e hoje os jovens ouvem as nossas mensagens. Teve também as mudanças da pastoral familiar, especialmente com os casais novos. Fizemos várias reformas, como já citei, reforma do piso do altar do altar, dos bancos e vidros do fundo da Igreja Matriz, secretaria nova, reformas na Igreja da Aparecida e do Centro pastoral. Também estabeleci critérios para estabelecer o CPA (Comissão de Pastoral Administrativa), trabalhamos também na formação de ministros e casais, hospitais – crescimento da pastoral social. O dízimo também cresceu, quando cheguei era de cerca de R$ 8 mil, hoje é de aproximadamente R$ 25 mil. As ofertas giravam em torno de R$ 2 mil, agora é de cerca de R$ 11 mil. É claro que agora temos mais gastos, pois temos mais funcionários. Mas se a gente tem isso é porque passamos a ter condições para ter. Agora eu vou deixar a paróquia com quase R$ 200 mil. E isso é muito bom, não pelo valor, mas porque criamos condições para poder trabalhar, para poder ajudar mais aos outros. E tantas outras coisas mais, então, eu acho que foram oito anos de muito trabalho e de muita luta. Eu fico feliz, pois estou me afastando como padre, mas deixo um trabalho solidificado, uma comunidade mais animada para trabalhar.

CIDADÃO: Qual é o padre que assumirá a paróquia no próximo ano?
PE. CARLOS: O padre Zezinho. Ele trabalha na Brasilândia e na periferia. As pessoas ainda não estão sabendo, a gente ainda não divulgou, será surpresa porque a gente ainda vai ter uma reunião com os padres para definir o trabalho. Virão mais dois padres novos, um para a Brasilândia e outro para o núcleo três, que será o Valdair de Jales – que é um seminarista que terminou o curso de teologia e será ordenado diácono em fevereiro e a padre até abril.

CIDADÃO: Como o senhor acha que será a reação da comunidade?
PE. CARLOS: Alguns eu já vi a reação, ficaram muito tristes, mas felizes por saber que vou ficar por aqui. Então acho que vai ser menos chocante do que se eu saísse para outra paróquia ou me aposentasse. Eu acho que depois de oito anos, você deixar espaço para outros assumirem é uma boa hora. E sair desse jeito, com tudo no auge, tudo ótimo na paróquia é muito bom. Eu não vou entregar só dinheiro, pois a gente não trabalhou apenas financeiramente, mas pastoralmente. Não tínhamos a equipe de visitas que temos hoje no hospital, não tínhamos trabalho com casais de segunda união, o trabalho com os jovens. Então acho que tudo isso é fruto de uma organização do próprio pessoal. Eu sei que eles vão ficar tristes por um lado, mas felizes por outro, por fazer um balanço de tudo o que a gente realizou nestes oito anos. Eu quero fazer menção de todos na última missa que vou rezar no dia 31. Eu sei que tenho muita coisa para fazer ainda e é claro que a gente gostaria de continuar, mas um padre novo é sempre bom, pois tem novas idéias, significa abrir novas perspectivas e eu não posso me fechar a isso, pois é muito importante para a própria paróquia.