Os cumprimentos dos amigos que acompanham a reunião ao companheiro que acabara de fazer seu testemunho na tribuna, são na verdade uma prova de união, refletindo devoção à causa de ser integrante da AAA.
Nós somos hoje gente gente, e temos como nosso lema as iniciais de nossa entidade, que também querem dizer Amor, Amor e muito Amor, pois só com muito amor é que um alcoólatra consegue vencer seu vício. Eu me lembro das palavras do meu compadre Zuza, que dizia que quando foi à escola pela primeira vez, teve que ir descalço, sem material, e quando via vários pais deixando seus filhos no portão do então Gejap, ele dizia que sentia vergonha. Sentia vergonha não porque estava descalço ou sem material, mas sentia vergonha por não ter seu pai ao seu lado, dando-lhe um beijo e um abraço e lhe desejando um bom dia, boa aula, pois seu pai com certeza devia estar bêbado em algum prostíbulo, em algum boteco e não levava dinheiro algum para sua casa. É isso que o alcoólatra faz, deixa sua família de lado, e fica 24 horas por dia grudado a um copo, ao lado de uma garrafa. Lembro-me que se eu não entrasse para a Associação eu perderia meu emprego, minha mulher, porque naquela época ela era somente minha mulher. Lembro-me das cenas que fiz meu filho presenciar, vendo seu pai completamente bêbado chegando em casa caindo, imundo. Hoje eu tenho uma esposa, a minha querida companheira Edelice, hoje eu tenho minha família, meus dois filhos, e isso tudo graças a esta casa, declarou o advogado Osvaldo Silva.
Celso Rodrigues de Souza, conselheiro fiscal da entidade, confidencia suas tristes histórias antigas que eram movidas a álcool.
Cansei de ser preso por agressão, desacato à autoridade, de fazer minha esposa e meus filhos chorarem em casa. Muitas vezes minha esposa pedia para comprar roupas para os meus filhos e eu garantia que no final da semana levaria algum dinheiro para casa, quando na verdade, muitas vezes eu sequer chegava em minha casa depois do trabalho, pois ficava bebendo pelos bares. Meus filhos corriam de mim quando eu chegava completamente bêbado em casa. Hoje, quando disse aos meus filhos que receberia minha medalha pelos quatro anos que estou sem beber, eles não pensaram duas vezes e quiseram me acompanhar até a Associação, declarou Celso.
Outro testemunho que chama a atenção é o de Dalberto, o Jamanta.
Minha vida era só brigas e mais brigas. Eu bebia e virava um monstro, não respeitava ninguém e também não aceitava que alguém falasse que eu era bêbado. Eu não aceitava ser considerado um alcoólatra, não enxergava que estava doente, que tinha um sério problema com o álcool. Na época já havia corrido atrás do meu compadre Zuza com um facão para que ele deixasse de me convidar a participar desta casa. Já tinha sido preso um monte de vezes. Eu comandava a Zona do Baixo-Meretrício, e quando meu dinheiro acabava eu roubava alguém para continuar bebendo. Cansei de pegar diversos caras pelo pescoço, dar uma gravata e um companheiro meu, aquele companheiro de copo, pegava o dinheiro do bolso dele para que bebêssemos a noite toda. Resolvi vir à Associação pela primeira vez não para dar meu voto, ou para simplesmente acompanhar uma reunião, e sim para quebrar tudo e bater em quem tentasse me impedir. Mas quando entrei no antigo prédio da AAA, que ficava na rua Bahia, todos me cumprimentaram, sem desfazer de mim. Quando me ofereceram café eu não bebi não, pensei que eles podiam ter colocado um sossega leão no café, pois já havia xingado todos eles, ameaçado todos. Mas me trataram muito bem, senti a verdadeira devoção de cada um, e vi umas três ou quatro pessoas dando o voto. Fui dar meu voto na terceira reunião consecutiva que participei, e estou há 28 anos sem beber, disse Jamanta.
Nobre presença
Uma surpresa, grata surpresa como enfatizou Acílio Alberto, para todos da Associação Anti-Alcoólica. Antes de se iniciar a reunião do último dia 1.º, uma dupla de Amandas, Amanda Agrela, estudante do curso de Enfermagem da FEF, e Amanda Cristina Silva, assistente social, firmaram uma importante parceria com a entidade.
Nós realizaremos visitas às residências de alcoólatras. Tentaremos um primeiro contato com as esposas, irmãs e filhas.
Amanda Cristina ressalta a importância da entidade.
Nós sabemos que a Associação é muito importante, principalmente quando o alcoolismo começa a interferir na vida das pessoas, na relação de um casal, nos compromissos profissionais. Estamos dispostas a contribuir para que pessoas alcoólatras ultrapassem essa barreira de não querer sequer conhecer a AAA, disse Amanda Cristina.
Acílio Alberto, que já presidiu a Associação, agradeceu a iniciativa das jovens Amandas.
O maior desafio que enfrentamos, e que sempre dizemos em nossas palestras por diversas instituições e escolas, empresas e entidades assistenciais onde também levamos nossos testemunhos e nossas experiências, é o de arrebanhar pessoas, que são alcoólatras, que estão passando por dificuldades familiares, profissionais, conjugais, mas não aceitam fazer uma visita à AAA, e a contribuição da Amanda Agrela e da Amanda Cristina será muito importante para a nossa casa, para a nossa causa, ressaltou Acílio.
As medalhas
No dia 1.º de dezembro, a Associação Anti-Alcoólica promoveu a entrega de medalhas para cinco recuperandos. O ato ocorreu ao final da tradicional reunião que acontece todos os sábados às 20 horas.
O primeiro a receber seu prêmio simbólico foi Osvaldo Silva, que recebeu uma medalha de 35 anos de abstinência da secretária da Associação Anti-Alcoólica, Elizabeti Borin.
Em seguida, João Sérgio Stazinafo recebeu de Osvaldo Silva sua medalha de 24 anos sem bebida alcoólica. Na seqüência, o presidente da AAA, Geraldo Silva Moreira, recebeu de Dorival Rossanese, vice-presidente, sua medalha de oito anos de abstinência. Celso Rodrigues recebeu de seu filho Bruno, 11, uma medalha pelos seus quatro anos distantes de bebidas alcoólicas.
Encerrando a breve cerimônia, Dorival Rossanese recebeu de sua neta, Isabelli Rossanese Milanesi, 6, sua medalha de 25 anos de abstinência.