Artigos

Fernandópolis está entre os melhores centros de cardiologia do Estado



Fernandópolis está entre os melhores centros de cardiologia do Estado
Desde 2009 funciona na Santa Casa de Fernandópolis o IACor – Instituto Avançado do Coração – com estrutura suficiente para multiplicar por quatro o atendimento que presta hoje à população. O Instituto passa por reformulação a partir da chegada do médico Rodrigo Araújo, 31 anos. Ele é fernandopolense, formou-se médico, com especialização em cardiologia intervencionista. A estrutura do IACor, posiciona Fernandópolis entre os melhores centros de cardiologia do Estado, é a meta da equipe. O aparelho de hemodinâmica, um dos mais modernos em operação no Estado, possibilita a visualização de obstruções, aneurismas, lesões vasculares e a realização de tratamentos importantes como de tumores e o implante de stents e próteses, como ocorreu no mês passado em um procedimento pioneiro. Por enquanto, o Instituto atende apenas convênios e particulares, mas já trabalha para disponibilizar esse serviço aos pacientes do SUS - Sistema Único de Saúde. Após apresentar a nova fase do IACor para imprensa, o Dr. Rodrigo Araújo recebeu CIDADÃO. Veja a entrevista: 
 
Qual é a atuação do médico cardiologista intervencionista?
A cardiologia é dividida em algumas áreas. Temos a cardiologia clínica em que o médico atende o paciente e prescreve a medicação. Na cardiologia intervencionista, fazemos procedimentos que intervém na estrutura do coração e das veias coronárias. Podemos dizer que o médico intervencionista é um meio termo entre o clínico e o cirurgião, ou seja, vamos fazer procedimentos de forma menos invasiva. Com a evolução que a medicina intervencionista alcançou nos últimos tempos, temos obtido os mesmos resultados de uma cirurgia cardíaca (que abre o peito do paciente) com a vantagem de um pós operatório mais rápido.
O que mudou nesta nova fase do IACOR?
Primeiro, é preciso que Fernandópolis tenha ciência que tem um serviço de qualidade em cardiologia e isso impacta muito na saúde e tratamento da população. O IACor existe desde 2009, passou por alguns problemas e está agora em reestruturação. É um instituto que atua na área da cardiologia intervencionista, que é a minha área, bem como na área de teste ergométrico (teste de esteira como é conhecido) e a parte de ecocardiografia. É um serviço que dispõe das três principais áreas da cardiologia para fazer diagnóstico das doenças cardiovasculares, as que mais matam no mundo. De dois anos prá cá, estamos atendendo um número maior de pacientes. Essa demanda aumentou e já realizamos procedimentos de maior complexidade, que até então não realizávamos. Hoje, atendemos apenas convênios e particulares, mas já estamos em tratativas para credenciamento no SUS. Esperamos, em médio prazo, colocar esse serviço para atender toda a população que necessita desse procedimento de intervenção cardiovascular. Neste período de 10 anos, o IACor já realizou 2.882 procedimentos com aumento significativo de 40% nos últimos dois anos. Percebemos que há uma necessidade desse serviço e o Instituto está estruturado, tanto na parte de pessoal, quanto tecnológica, para multiplicar esse atendimento por quatro. Hoje Fernandópolis é um centro cardiovascular comparado aos melhores do Estado.
Como é constituída a equipe que atender no Instituto?
Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar para que os procedimentos sejam feitos com a maior qualidade técnica e segurança para o paciente. Por exemplo, para fazer um cateterismo e uma angioplastia, nós vamos envolver o médico hemodinamicista, enfermeiro responsável, dois a três técnicos de enfermagem e a parte de técnicos de raio-X. Temos o médico ecocardiografista (Dr. Valter Luis Pereira Junior) que conta com mais dois auxiliares. Temos também na parte do teste ergométrico (Dr. Zigomar Cury e Dr. José Alberto Rios). Desde a secretaria, do pessoal que cuida do recebimento desses pacientes, até a parte de realização dos procedimentos, a equipe é altamente especializada. 
Qual a importância para o paciente contar com toda essa estrutura aqui em Fernandópolis?
O paciente coronariopata, que tem uma doença cardiovascular, precisa ser atendido rápido, para que tenha impacto positivo no prognóstico dele. Quanto mais cedo ele é atendido, terá um tratamento melhor, com maior qualidade. A demora, a fila de espera por um atendimento, compromete o resultado final. 
O que é realizado hoje no IACor e que não precisamos mais ir para Rio Preto?
Hoje atendemos procedimentos tanto na parte coronariana, ou seja, das artérias do coração, como da parte estrutural do coração, como foi o caso do procedimento pioneiro que realizamos recentemente, onde a paciente não tinha comprometimento das artérias do coração, mas tinha comprometimento da estrutura do coração. Hoje podemos mexer não apenas na parte de coronárias, como também intervir na estrutura, paredes, válvulas do coração. Tudo isso é possível fazer através da cardiologia intervencionista que oferecemos aqui em Fernandópolis. 
Sobre esse atendimento pioneiro, qual foi o procedimento realizado?
O termo técnico que a gente usa nesse procedimento é ‘fechamento percutâneo de forame oval patente’. Todos nós, na vida intrauterina, temos uma comunicação entre os dois lados do coração (átrio esquerdo e átrio direito). Isso é fisiológico. Quando nascemos e temos o desenvolvimento fisiológico normal, essa comunicação vai se fechando gradualmente ao longo da vida. Em alguns pacientes, cerca de 15 a 20%, essa comunicação persiste na idade adulta. O impacto dessa comunicação pode ser variado, desde pacientes que não vão ter problema algum relacionados a essa comunicação, ou pacientes que terão a vida impactada em relação a doença cardíaca ou relacionada a doença de AVC - Acidente Vascular Cerebral - devido ao tamanho e a proporção hemodinâmica que essa comunicação traz ao coração. Basicamente essa paciente jovem, de 45 anos, tinha essa comunicação, que trouxe problemas para ela e um desses problemas foi o AVC devido a ocorrência de um trombo, de um coágulo de sangue, que acabou se desprendendo dessa comunicação e atingiu o cérebro. Quando isso acontece em pacientes em que não descobrimos outra causa para esse derrame, nós temos a indicação para fazer o fechamento, ou seja, a oclusão dessa comunicação através de uma prótese que é colocada via cateterismo, a partir de uma punção simples em uma veia da virilha, introduz-se o cateter que chega nessa posição do coração onde há comunicação e através do cateter nós colocamos a prótese, selando esse buraquinho. Há 10 anos esse procedimento era feito apenas através da cirurgia cardíaca, não existia outra forma de acessar o local. O paciente tinha o peito aberto, abria-se se o coração e fechava a comunicação com um ponto. A duração desse procedimento era de 6 até 8 horas, com um pós-operatório em UTI mais prolongado e uma estadia no hospital de 5 a 6 dias. Com esse procedimento intervencionista, minimamente invasivo, o paciente consegue ter alta no dia seguinte, que foi o caso dessa nossa paciente. E ela está muito bem. 
Hoje o atendimento é apenas de convênios e particulares e já se busca o credenciamento junto ao SUS. O IACOR tem capacidade de absorver esses pacientes do Sistema Único de Saúde?
Sim, hoje nós realizamos em média de 25 a 30 procedimentos por mês. É muito aquém da nossa capacidade, do que podemos atender. Com o atendimento do SUS, podemos multiplicar por quatro esses procedimentos principalmente pela excelente estrutura que temos. A nossa capacidade pode chegar até 100 exames por mês, entre cateterismo, angioplastia e outros procedimentos intervencionistas. Estamos buscando esse credenciamento para abrir o atendimento para a população, que muitas vezes fica esperando por até seis meses por um atendimento.
Podemos dizer que Fernandópolis está entre os melhores centros cardiológicos do Estado?
O IACor se compara, tranquilamente, aos melhores centros e podemos citar Rio Preto Ribeirão Preto, Campinas, São Paulo e muitos outros lugares onde tenha uma máquina, uma estrutura qualificada que permite um grau de detecção de doenças e um grau de intervenção cardiológica de alta qualidade. Estamos entre esses maiores centros. Temos um contato interessante com Rio Preto, troca de experiências com o HB (Hospital de Base) e isso é fundamental para o crescimento do nosso serviço.
Funcionando com toda sua capacidade, qual será a influência do Instituto na redução da mortalidade por doenças do coração?
Vamos imaginar um paciente que chega aqui no pronto-socorro da Santa Casa com um infarto do miocárdio. Se ele é submetido rapidamente a um cateterismo, a uma angioplastia para desobstrução da artéria, vai ter uma sobrevida melhor que um paciente que não realizar esse procedimento. O impacto disso na redução de mortalidade vai de 30 a 40%. Com o atendimento imediato, o paciente volta prá casa em dois dias. Ao contrário, o paciente do SUS, que não tem acesso a esse procedimento, vai onerar muito mais o serviço hospitalar porque vai permanecer internado por mais tempo, de sete a dez dias, na UTI, na enfermaria, com alta possibilidade de vir a ter complicações. Hoje nós temos essa assistência para os pacientes de convênios e particulares e queremos estendê-lo para os pacientes do SUS. 
Na questão do SUS, o que está faltando para o credenciamento?
Temos equipe, estrutura, capacidade para atendimento e temos uma demanda de pacientes reprimida. Depende agora, que todo o projeto que foi montado na Divisão Regional de Saúde de Rio Preto possa chegar em Brasília. Precisamos, portanto, de uma força política para disponibilizar esse atendimento à população.