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“Fernandópolis foi abençoada com a Apae”



“Fernandópolis foi abençoada com a Apae”

A frase é do presidente da Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Fernandópolis – Francisco José Gouveia, 61 anos, em entrevista ao CIDADÃO. À véspera de completar 48 anos de fundação, a Apae, de fato, representa um refúgio para 150 “crianças” com Deficiência Intelectual. “Temos pessoas com mais de 60 anos e que necessitam deste atendimento, porque muitas vezes é único lugar que elas têm pra vir, comer, se divertir, aprender”, disse o presidente. Fundada em 12 de maio de 1971, por iniciativa da Professora Wandalice Franco Renesto que mobilizou a comunidade, a Apae sobrevive graças ao apoio da população em eventos como o que acontece no próximo sábado, dia 11, a tradicional Feira do Doce, tão longeva quanto a entidade. Segundo o presidente, a entidade tem um custo anual de R$ 1,4 milhão e recebe repasses de R$ 800 a R$ 900 mil. “O restante é formado por repasse da prefeitura, eventos que a gente faz, a Central de Doações onde a população doa todo mês e é muito importante, porque faz com que acabe equilibrando um pouco essa conta”, relata o presidente. Veja a entrevista:

Quanto tempo já está à frente da Apae como presidente?
Seis anos como presidente, mas como sócio contribuinte estou desde 2001. Como fazia parte do Rotary Club 22 de Maio, a gente já participava de trabalhos em prol da entidade. Mas, na diretoria foi a partir de 2011 quando o Dr. Ronaldo (Malacarne) me chamou para ser diretor financeiro quando ele foi presidente. Depois, coloquei meu nome na eleição de chapa única e na última nenhuma chapa se apresentou, nem na primeira, nem na segunda chamada. Como presidente, coloquei o meu nome à disposição novamente.
Podemos dizer que foi a primeira reeleição na Apae?
Primeira reeleição que não poderia ter ocorrido. Não poderia ser reeleito, mas consultamos a Federação das Apaes e como não tinha outra chapa, poderia ser feito desta forma, aproveitando uma brecha na legislação. Esse mandato vai até o final do ano.
E essa experiência que você está vivenciando na Apae, primeiro como colaborador, depois diretor e presidente?
Como sócio contribuinte a gente fazia alguns eventos, participava pouco, mas participava, é gratificante ver o resultado em prol da entidade que atende “crianças”, entre aspas, porque temos aqui pessoas com mais de 60 anos e que necessitam deste atendimento, porque muitas vezes é único lugar que elas têm pra vir, comer, se divertir, aprender. Depois, como tesoureiro e presidente, acabamos entendendo mais a dificuldade que tem essas pessoas para inclusão, ainda tem muito tabu, preconceito, mas a gente consegue reverter quando as pessoas chegam aqui na Apae e conhecem a estrutura que temos para oferecer e mudam o pensamento. Não é qualquer lugar que conta com a equipe de funcionários e de profissionais trabalhando e oferecendo o melhor. Isso deixa a gente grato, com o sentimento de dever cumprido. Podendo, cada um deve dar um pouquinho de si para aqueles que não têm.
Em vários momentos como presidente chegou a fazer apelos para evitar o fechamento da Apae. Isso te incomodou, causou indignação, diante dessa situação?
É um serviço que o poder público (federal, estadual e municipal) deveria prestar, só que a entidade absorve esse atendimento e a gente vê o repasse de verbas cada vez mais defasados, criando um déficit para a entidade.  Nossa preocupação sempre foi realizar o pagamento dos salários dos funcionários para que eles possam continuar atendendo as “crianças”. Então, isso aborrece, mas a gente vai levando porque vem um pessoal atrás empurrando, a diretoria é muito positiva e participante, os funcionários também. Por isso vamos tocando e Graças a Deus, está indo bem e caminhando para deixarmos um legado para o próximo presidente.
Qual o custo de se manter uma entidade como a Apae, com todo o atendimento e estrutura que oferece?
Nós temos um custo anual de mais ou menos R$ 1 milhão e 400 mil. A gente recebe de repasses em torno de R$ 800 a 900 mil. O restante é formado por repasse da prefeitura, eventos que a gente faz, a Central de Doações onde a população doa todo mês e é muito importante, porque faz com que acabe equilibrando um pouco essa conta.
Qual é o tamanho da participação da população através da Central de Doações?
É muito grande. A Central arrecada bem, o pessoal é muito participativo. Quando se fala em Apae, o pessoal abre o coração e acaba ajudando a entidade.
Maio é particularmente especial para a Apae. Tem a Feira do Doce, um evento tão longevo quanto a entidade e é também o mês de aniversário da entidade. Como estão vivenciando esse momento?
A Feira do Doce, a população ajuda muito, desde doar a matéria prima para confecção dos doces e depois comprar os doces. Isso é tradicional, a Apae tem 48 anos e a festa deve ter quase a mesma idade. E essa feira é uma parte das festividades da Apae que foi fundada em 12 de maio de 1971 pela professora Wandalice Franco Renesto. Então a gente comemora o aniversário juntamente com a Feira do Doce que dá um retorno financeiro bom para podermos cumprir as nossas obrigações.
Nesses 48 anos dá para imaginar Fernandópolis sem a Apae?
Veja, a Apae está presente em 305 cidades do Estado de São Paulo. Eu não vejo Fernandópolis sem a Apae, porque o poder público não dá conta de manter uma estrutura como a gente tem. Lá atrás quando a dona Wandalice inaugurou essa entidade, ela foi iluminada, juntamente com o pessoal que veio com ela, com doação de terreno, construção dessa sede. Graças a Deus, Fernandópolis foi abençoada com a Apae. 
(Nota – Em março último a Apae prestou homenagem a professora Wandalice Franco Renesto dando o seu nome para o espaço aquático reinaugurado e que vai atender atividades de fisioterapia para os alunos e lazer. “Impossível falar da Apae sem lembrar dela... ternura, amor ao próximo e caridade são algumas das caraterísticas marcantes da nossa homenageada. Ela se tornou para história da entidade uma MÃE, pois trouxe esperança para inúmeras pessoas que por aqui passaram e aqui estão”, dizia o texto lido em sua homenagem).
Você citou o problema do preconceito e muitas vezes o governo acenou com o fechamento das Apaes em nome da inclusão. Pode-se dizer que a Apae é o refúgio para um público que jamais seria incluído pela escola convencional?
Falar em inclusão é muito bonito, o discurso é maravilhoso, politicamente maravilhoso, só que inclusão não é apenas colocar uma pessoa com DI (Deficiência Intelectual) numa sala de aula com 35 alunos e deixá-la num canto sem monitor que é o que estado faz, não tem monitor, as vezes o professor não tem a qualificação necessária para isso. Então a criança ficaria meio que abandonada. Aqui nós temos professores com curso de DI, psicólogo, fono, assistente social, fisio, TO (Terapia Ocupacional), monitores, a equoterapia, a hidroterapia que vamos oferecer aqui juntamente com parceiros que estamos buscando. Então, elas são muito melhor atendidas e apresentam progressão na sua atividade. A criança chega aqui, as vezes sem andar, sem se mexer, e vai ganhando mobilidade, daqui a pouco você vê a evolução, a criança dando os primeiros passos, se alimentando sozinho, e isso é muito legal. Não vejo como tirar a Apae, dizer que ela não vai mais existir para mais de 150 alunos atendidos. Não pode acontecer...
O público atendido pela Apae vem de uma condição social baixa?
Não são todos, mas temos uma maioria que sim, podemos dizer que 70% são de famílias de condição social baixa e que encontra aqui a condição de um atendimento pleno que ela (família) não teria condição de prestar. 
O que sonha para a Apae?
Uma maior compreensão do poder público, olhar as Apaes como extensão do serviço que eles (governo) têm que oferecer à população. 
A Apae presta um serviço que é barato para o governo?
É barato para o governo, se fosse numa rede particular, não teria como pagar por todos os serviços que a Apae presta. 
Qual a mensagem que deixa à população?
Primeiro agradecer a população que sempre tem apoiado a entidade e pedir para que venha visitar, conhecer o trabalho. Muitas vezes a pessoa doa e não sabe pra onde está indo o dinheiro. Estamos de portas abertas. Agradecer a mídia que está sempre do nosso lado, divulgando os eventos, ao prefeito que tem atendido na medida do possível, se ele puder atender mais a gente agradece. Aos profissionais que trabalham aqui, que lutam e fazem o impossível para a Apae continuar sendo uma casa alegre para nossos alunos. 
Sobra muita emoção?
Sem dúvida, “as crianças”, de novo entre aspas, elas são muito sinceras. Ou elas gostam de você ou não gostam, não sabem ser falsas como a gente consegue ser. Então, quando eles vêm correndo para abraçar, brincar com a gente, é a maior alegria que podemos ter. Essa gratidão, essa sinceridade deles faz a gente crescer bastante na nossa vida particular.