O apelo tem sido o mesmo por vários meses consecutivos. Mas, mesmo com toda a insistência por doadores de sangue, o estoque do Hemocentro de Fernandópolis permanece em estado crítico. Uma situação que se repete mês após mês e que pode se agravar ainda mais quando as cirurgias eletivas forem retomadas.
Em entrevista ao programa Rotativa no Ar da rádio Difusora, a médica hematologista e diretora do Hemocentro de Fernandópolis, Dra. Brígida do Amaral Botelho Prudêncio falou sobre a dificuldade de captar doadores e de atender a demanda dos hospitais regionais com os estoques próximos de zero.
“Nós estamos abaixo da situação crítica. Ontem não conseguimos colher plaquetas no número que precisávamos porque tivemos cinco bolsas coletadas. Hoje, tivemos apenas dois doadores até agora – 9h40 da manhã. Não temo condição de continuar assim. Faço um apelo à população”, disse Dra. Brígida.
Segundo a Dra. Brígida, a necessidade da unidade do Hemocentro de Fernandópolis é de 30 bolsas colhidas por dia. A taxa de recusa dos doadores por não atenderem as especificações necessárias pode chegar até 50% do total de interessados em doar. Ela aponta que o principal motivo da recusa geralmente é porque o doador se alimenta antes de ir fazer a doação, já teve contato com Covid-19 ou que tomam remédio controlado.
Para atender a demanda, a doutora Brígida diz que é necessário um fluxo de pessoas entre 40 e 50 pessoas por dia para que sejam colhidas destes, de 25 a 30 bolsas. Ela afirmou que todo os cuidados necessários são tomados no processo de seleção dos doadores que têm como objetivo proteger os receptores.
“Nós temos aqui dois tipos de responsabilidades. Um com a qualidade do sangue que não é dada apenas com os exames que são feitos. E o outro é com a saúde do doador. Porque muitas vezes a gente reprova em benefício do doador”, explicou,
A doutora Brígida explica também que cada unidade atua numa área de abrangência, e que, no caso de Fernandópolis, além de atender a demanda local, atende também as cidades de Votuporanga e Jales ( com o Hospital do Câncer), Santa Fé do Sul e o Hospital de Ilha Solteira e cidades da região.
Diariamente, o relatório do estoque disponível é passado para Ribeirão Preto que capta o estoque de todas as unidades que ele tem em Fernandópolis, Araçatuba, Presidente Prudente Taubaté, Ribeirão Preto, Franca, Bebedouro, Batatais e olímpia. A baixa procura dos doadores tem preocupado os profissionais da saúde dessa região. Só para se ter uma ideia, nas nove cidades supracitadas, foram colhidas apenas 190 bolsas nesta segunda-feira, 10 de agosto.
“Sei que todo mundo está preocupado com Covid-19 e eu também estou. Só que as pessoas que não tem contato e não estão doentes, se lembrem de vir aqui doar. Porque aqui não pega Covid-19. Temos todos os cuidados com as pessoas que aparecem e precisamos manter o nosso estoque de sangue”, destacou.
Para a Dra. Brígida, a situação só não é ainda pior porque as cirurgias eletivas ainda não foram retomadas em virtude da prioridade dada aos casos graves de infecção pelo novo coronavírus.
“Estamos vivendo um momento em que ainda não está sendo feito as cirurgias eletivas - cirurgias que não são de urgência – porque se elas tivessem sendo feitas, com certeza não teríamos sangue para poder atender toda essa necessidade”, ressaltou.
O medo de contaminação pelo vírus Sars-CoV-2 é apontado pela médica como um dos fatores que dificultam a captação de novos doadores. Mas ela destaca que todos os cuidados necessários para evitar contaminação já estão sendo tomados e que, além disso, a necessidade por sangue permanece independentemente do momento.
“As pessoas não entendem isso. Com ou sem Covid-19, a necessidade é diária, sempre. E a gente está sempre apertado. É importante que as pessoas entendam essa necessidade. Acho que essa pandemia está deixando as coisas mais difícil – no que diz respeito a presença dos doadores e a demanda do mercado”, finalizou.
